A pré-época não depende só do físico...


Pensar a pré-época, nos dias de hoje, significa preparar o Homem para tudo! Quan­do se prepara a pré-época deve-se ir muito além das quatro linhas. É redutor pensar só na táctica, nas transições, nas bolas paradas, no físico... É preciso pen­sar no Homem, é necessário prepará-lo muito bem para todas as situações que vai encontrar, dentro e fora do campo.

Todos nós, após as férias, deveríamos fazer uma pré-época!

Ou seja, dedicar tempo, de uma forma contínua e consistente, e em exclusivida­de, a nós próprios. O que na prática deveria significar fazer um rápido balanço do último ano: olhar seriamente para cada falha como uma oportunidade de fazer melhor e pensar nas conquistas que conseguimos como uma forma de fazermos ainda melhor, de nos superarmos.

Depois, a segunda parte da pré-época deveria ser dedicada a trabalharmos inin­terrupta e arduamente cada um dos pontos, os fracos e fortes, indo ao detalhe e a fundo em cada um deles, nada poderia ser desprezado ou desperdiçado; seria o momento certo para crescermos e nos desenvolvermos, para sermos mais, mais completos e, sobretudo, menos imperfeitos.

Na pré-época, o estágio favorece a concentração, o jogo-treino é a aula prática! Nada está desconectado, nada funciona isoladamente. Contudo, não vive da tác­tica ou do planeamento, mas sim do jogador: o Homem está sempre no centro… Cada jogador tem de conseguir perceber o seu papel dentro da equipa, o que esperam dele e também o que esperam da equipa. É decisivo ter os objectivos bem claros para todos saberem para onde rumam e, sobretudo, rumarem para o mesmo sítio. Não há equipa sem esta clareza. Há plantel, há condição física, mas não há equipa.

É preciso formar na pré-época, uma vez que é a única altura do ano em que não há pressão e há tempo. Por esta razão, também o treinador, o director desportivo e o presidente têm pré-época (idealmente anterior à dos jogadores) para que tudo seja tido em conta, para que se cuide muito bem de cada detalhe, para dimi­nuir ao máximo o imprevisto, para que cada jogador perceba que é o centro, não como atleta mas como Homem.

Testar os nossos limites dá-nos capacidade de sofrimento, repetir faz-nos me­lhorar, pensar torna-nos mais inteligentes, planear possibilita-nos surpreender e, por fim, cuidar do físico é o que nos permite concretizar…

Se não educamos e não formamos tudo é desconectado, sem sentido, logo sem razão para ser humano e, por isso, sem vida, o que torna tudo mecânico; o futebol é paixão, é dor, é coração, logo é vida!