“Sempre foi objetivo pessoal tirar um curso superior”


LUÍS DIAS, 27 anos, é defesa do Arouca e licenciado em Educação Física. Acredita que um jogador que pense o jogo se torna melhor em campo e não esconde o desejo de no futuro abraçar a carreira de treinador.

Onde fez o seu percurso académico?
Licenciei-me em Educação Física, no Instituto Superior da Maia.

A família e os clubes por onde tem passado têm-no apoiado relativamente aos estudos?
Sim, os meus pais reagiram bem ao facto de eu querer estudar. Também os clubes me ajudaram pois tive sempre treinadores que me apoiaram e que nunca colocaram qualquer entrave em épocas de exames. Correu sempre tudo bem. O meu curso era de cinco anos e eu fi-lo em seis. Sempre me deram tempo para estudar, mas eu não exagerava. Se via que era um treino ao qual não podia faltar, não ia ao exame e depois fazia na época de recurso. Mas os treinadores sempre facilitaram. Todos ficaram felizes quando me licenciei.

Acha que faltam medidas que apoiem a conciliação dos estudos com a profissão de futebolista?
Acho que não, porque perante a lei a entidade patronal é obrigada a libertar o empregado para fazer os exames. Mas nós no futebol temos de gerir isso de forma diferente, tem de existir bom senso. Não acredito que haja nenhum clube que coloque qualquer tipo de entrave, pelo menos é o que vejo pela minha experiência. Mas na forma como se poderia facilitar a vida dos jogadores que pretendem ir para a faculdade, acho que se poderia fazer qualquer coisa. O quê, concretamente, não sei, mas acho que o Sindicato, os clubes e a Liga ou a Federação devem apoiar os atletas e os clubes, incentivando-os a continuar a estudar porque temos uma carreira curta. E quando acabarem a carreira, 90 por cento dos jogadores não vão ter nada que fazer e não ganharam dinheiro para a vida toda. Até porque eu vejo jogadores que passam de juniores para seniores e param com os estudos porque pensam que vão ser jogadores e daí até se depararem com a realidade ainda vai algum tempo. Depois é que se arrependem.

O curso que tirou sempre foi ambição?
Sempre foi um objetivo pessoal tirar um curso superior. Sempre.

O SJPF está a criar um cheque-formação para que os jogadores possam frequentar determinados cursos. O que acha desta medida?
Por acaso não conhecia o projeto, mas acho uma medida bastante interessante. No futebol profissional, não sei se a medida os vai cativar, porque têm um ordenado bom e muitas vezes isso não faz grande diferença. Mas é uma iniciativa fantástica porque é uma forma de cativar os atletas para tirarem um curso. É pena eu já vir tarde, senão também recorreria.

Um jogador com formação académica pode ser melhor em campo?
Não acredito. Mas acredito que um jogador que pense o jogo se torna melhor em campo. Na faculdade podem dar alguns estímulos e podem ensinar a forma como se compreende o jogo, ensinando a pensar e a tomar decisões, o que implica que evoluamos mais. Mas não acredito que um jogador seja melhor em campo por andar na faculdade.
Quando terminar a carreira, ficará ligado ao futebol ou prefere seguir a área para a qual estudou?
Para já gostava de fazer uma carreira bonita, no futebol, enquanto jogador. No futuro gostava de investir numa área do desporto, se fosse possível algo ligado ao futebol. Gostava de ser treinador. Se não for possível, noutra área ligada ao desporto. Depois é ver, cada passo é um passo. Como diz o meu treinador, os bebés têm de dar uns tombos antes de começarem a andar. Vamos ver o que a vida nos mostra.

É visto pelos seus colegas como um exemplo a seguir? Aconselha-os a não abandonar os estudos?
Não sei, se calhar por uns sim e por outros não, não sei [risos]. Acredito que sim, que eles me admirem por ter terminado o meu curso. Costumo aconselhá-los e sensibilizá-los. Já me desloquei algumas vezes com colegas até à escola para os incentivar, ajudando-os a fazer as suas matrículas.

Abandonar os estudos precocemente é uma das maiores “pragas” de quem quer ser jogador profissional?
Acho que sim. A crescente profissionalização que se vê nos juniores prejudica ainda mais os atletas. Nós temos grandes equipas a treinar à tarde, e concordo plenamente, obrigando os miúdos a ter aulas, mas começando a treinar os miúdos pensam que já são jogadores e isso vai afastá-los um bocadinho da escola, no meu ponto de vista. É claro que isto é muito bom do ponto de vista futebolístico, mas não sei se será bom do ponto de vista académico. Não digo que os condicione, mas isso fá-los relaxar em relação aos estudos.

Qual a sua opinião sobre a atuação do SJPF?
Sinceramente, só há pouco tempo é que comecei a prestar mais atenção às iniciativas do Sindicato. Acho importante, por exemplo, a revista existir. É bastante vista pelos atletas de futebol, pelo menos é o que vejo no balneário. É mais uma forma de valorizar os atletas, até nesta questão dos estudos, porque alguns jogadores pensam muito a curto prazo.

Luís Manuel Braga Dias
Data de Nascimento: 03/01/1987
Posição: Defesa
Clubes: Penafiel e Arouca