“Estou no ‘Barcelona da Ásia’”


As experiências do português na Nova Zelândia.

De promessa do Estrela da Amadora aos títulos no “Barcelona da Nova Zelândia”, a carreira de João Moreira tem sido recheada de ex­periências, que até metem um jogo de quase cinco horas em Singapura.

Venceu a Liga dos Campeões e a Liga Neo-zelandesa em dois anos consecutivos. Satisfeito com a experiência?
Muito, até porque vinha de uma lesão grave e terminar o ano com essas conquistas foi muito gratificante. Fracturei o perónio e estive quatro meses parado. Devido à lesão perdi o Mundial de Clubes e, graças a Deus, a recuperação foi rápida e, com a ajuda dos médi­cos, consegui participar na segunda volta da Liga e na Champions.

Foi muito frustrante não jogar no Mundial de Clubes?
Foi, mas temos de estar preparados para uma lesão. Sou forte mentalmente. Claro que queres sempre jogar, mas correu bem. E se jogasse se calhar nem passávamos a primeira fase! [risos]

A sua equipa conquistou a sétima Champions Asiática em 14 edições. Joga no Real Madrid da Ásia?
Consideram-nos o Barcelona. Dizem que jogamos no tiki-taka!

Como surgiu o convite para jogar num país tão distante?
Foi através do actual treinador [o espanhol Ramon Tribulietx]. Ele precisava de um avançado e eu tinha terminado contrato.

Como foi a adaptação à cultura neo-zelandesa?
Saí de uma cidade bastante movimentada, como é Singapura, e Auckland é tranquila, com uma qualidade de vida enorme, e foi fácil, até porque o meu Inglês já estava bastante avançado. A única dificuldade foi o fuso, que é de 12 horas em relação a Portugal.

Quais são as principais diferenças entre a liga neo-ze­landesa e a portuguesa?
A presença de pessoas nos estádios, menos influência em termos de publicidade e interesse no futebol. Na Oceânia, o futebol não é uma primeira opção, está muito atrás do râguebi.

O futebol é o segundo desporto?
Ainda há o críquete, o golfe... O futebol tem vindo a crescer devido às boas prestações do Auckland no Mundial de Clubes. E há ou­tra equipa da Nova Zelândia, que participa na liga australiana, o Wellington Phoenix. São os dois clubes que dão maior projecção.

Em 11 edições da Liga, o Auckland City venceu seis e o Wai­takere cinco. Como são os jogos entre as duas equipas?
Às vezes acabam ao soco e pontapé! É como um Benfica-Sporting, até porque muitos jogadores do Waitakere jogaram no Auckland.

Após ter sido formado no E. Amadora, foi contratado pelo Valência. O que falhou nessa experiência?
Na verdade, foi bom. Tinha 17 anos, fui emprestado ao Rayo Val­lecano e viver sozinho em Madrid não foi fácil. E quando cheguei a Valência havia estrelas como o Villa e o Morientes. Pude crescer a treinar com eles. O Villa era um jogador normal quando chegou, mas acabou por ser o melhor marcador da selecção espanhola.

Viveu alguma situação caricata no estrangeiro?
O jogo de estreia em Singapura foi alucinante. Passei quase 10 minutos com falta de ar devido ao calor e à humidade. Depois começou uma tempestade e pararam o jogo. Estivemos perto de uma hora à espera que passasse. Voltámos a jogar, veio outra e parámos outra vez, mais 40 minutos. Mais um regresso e nova tempestade, a maior de todas. O jogo começou às 20h e acabou perto das duas da manhã. E havia pessoas na bancada, ficaram ali mais de cinco horas! Foi incrível, ainda por cima na estreia.

Gostava de estar numa equipa portuguesa?
Sempre disse que gostaria de permanecer no estrangeiro. Não queria voltar a passar pelo que passei, como foi no Nacional e no Leixões. Estive muito tempo sem jogar. Mas voltar à I Liga e de­frontar equipas como o FC Porto ou o Benfica seria um privilégio.

Teve salários em atraso nos clubes pelos quais passou?
Sim, em todos em Portugal. No Estrela, no Leixões, no início no Nacional, depois regularizaram, e no Beira-Mar, que foi a pior si­tuação, com cinco ou seis meses e era só promessas. Ainda por cima foi no ano em que nasceu o meu filho. Foi ainda mais custoso.

Recorreu ao Sindicato?
Não, até porque tinha a vantagem de estar emprestado, o Valência cobria metade do salário. Como trabalhador queres ter o teu salá­rio completo e não só 50%. Mas já é passado.

Foi internacional sub-21. Ainda sonha com a Selecção AA?
Já é tarde, mas nunca perdes essa esperança. A posição de avan­çado sempre foi um problema, seria sempre um privilégio.


Perfil

Nome: João Vítor Rocha de Carvalho Moreira
Data de nascimento: 7 de Fevereiro de 1986
Posição: Avançado
Clubes: Estrela da Amadora (formação), Estrela da Amadora, Valência e Rayo Vallecano (Espanha), Nacional, Leixões, Beira-Mar, Estrela da Amadora, Lleida, Linense e Almansa (Espanha), DPMM FC (Brunei) e Auckland City (Nova Zelândia).