“As condições na Índia são espectaculares”


A experiência no futebol indiano.

O herói de Alkmaar é agora também o herói de Guwahati, a cidade indiana onde joga. O capitão do NorthEast United adora conhecer novos países e não hesita na hora de aconselhar a emigrar.

Será sempre recordado como o herói de Alkmaar. As pes­soas abordam-no para lhe falarem desse golo?
Sim, os sportinguistas e as pessoas que gostam de futebol lembram-se desse momento, que foi muito importante para a minha carreira e para os adeptos. Recordo o golo com muito orgulho e é inesquecível.

Como surgiu a hipótese de jogar na Reggina, em 2007?
O meu contrato com o Sporting estava a acabar e recebi uma pro­posta de três anos em que ia ganhar três vezes mais. Mas lesionei-me na pré-época e tive de ser operado ao tendão rotuliano e acabei por rescindir. Tive pena de não ter tido sucesso na liga italiana.

Chegou a temer não voltar a jogar ao mais alto nível?
Estive um ano e tal parado. Quando estamos lesionados, sem ver me­lhorias na recuperação e a ver os outros jogar normalmente a cabeça pensa sempre no pior. Pensei que ia ser difícil voltar, mas o futebol é a minha vida, é o que sei fazer, e desistir não estava nos meus planos.

No Olhanense voltou a jogar com regularidade. Jorge Costa foi determinante na sua carreira?
Sem dúvida. Estou muito agradecido ao Jorge Costa, como ele sabe, porque deu-me uma oportunidade quando ninguém acreditava em mim. Nenhum clube da I Liga me queria e o Jorge deu-me a mão. E as coisas correram bem, tanto que acabei por ir para o Braga.

Quando saiu do SC Braga foi para o Orduspor e disse que ir para a Turquia tinha sido a melhor opção. Porquê?
Quando foi para renovar acho que não fui valorizado. A Turquia era muito boa em termos financeiros e era a I Liga. Quando um jogador não se sente valorizado é melhor procurar outra coisa.

Sente que merecia ter chegado à Selecção?
Estive perto, no meu segundo ano no Sporting. O Scolari chegou a falar comigo. Aí à 5ª jornada o míster Peseiro meteu-me no banco. Depois voltei a jogar, mas não fui tão regular como na época anterior.

Seguiu-se o Maiorca. O que recorda desse período?
Gostei muito. Tem uma estrutura muito boa, das melhores que vi. Co­mecei bem, mas as lesões atrapalharam. E queria ter uma experiên­cia na Ásia. Tinha uma proposta do Belenenses, mas não se decidiam e fui para a Índia. Mais uma vez foi uma decisão acertada.

Como é que foi a sua adaptação à cultura indiana?
É preciso beber muita água, pelo menos cinco litros por dia. Na mi­nha cidade, Guwahati, é difícil arranjar um restaurante internacional. De resto, gosto muito de conhecer outros países e adapto-me bem.

E como é a Indian Super League?
São três meses. Há duas voltas, são 14 jogos, depois as primeiras qua­tro equipas jogam meias-finais e final. Toda a gente vê os jogos em ecrãs na rua, estádios cheios, mandam fogo-de-artifício, é uma festa! E a liga teve mais telespectadores que o críquete. Tem estrelas como Anelka, Del Piero, Trezeguet ou Capdevila...

E no resto do ano? Não há competição?
Os jogadores têm de procurar clubes. Outras ligas ou mesmo a an­tiga liga indiana. Também participei nessa, pelo Sporting Goa. Não tem tanta qualidade, só jogam quatro estrangeiros, e o clima lá entre Março e Maio é de loucos, com uns 50 graus! A intensidade, como podem calcular, é muito baixa. Estão a tentar juntar as duas ligas.

Chegou a capitão de equipa. Como foi eleito?
Foi o primeiro ano de existência do clube e o capitão tinha de ser um jogador estrangeiro, com mais experiência. E que falasse inglês e cas­telhano, porque havia dois espanhóis. O Capdevila era o sub-capitão.

Cada vez vemos mais portugueses a emigrar. Porquê?
Enquanto tivermos muitos estrangeiros no nosso campeonato vai haver menos espaço. Outro problema são os salários. Como é possí­vel que na I Liga se ganhe mil euros? E no CNS chegam a pagar 200 euros. Há 10 anos qualquer jogador na I Liga recebia cinco mil euros.

A Índia é um bom destino?
As condições são espectaculares. Vive-se em hotéis de cinco estrelas, é mesmo uma regra da Liga, com tudo pago, não temos despesas... É a melhor decisão para ganhar dinheiro e ter uma nova experiência.

Mantém a ligação ao Sindicato e até esteve no Estágio do Jogador. Gostou da experiência?
Isto para mim já é mais uma família porque já vim vários anos e o ambiente é espectacular. Além do treino, estou a ser ajudado com o meu problema de salários em atraso na Turquia. Aconselho os jogadores a sindicalizarem-se, ninguém sabe o dia de amanhã.


Perfil
Nome: Miguel Ângelo Moita Garcia
Data de nascimento: 4 de Fevereiro de 1983
Posição: Defesa
Clubes que representou: Sporting (formação), Sporting, Reggina (Itália), Olhanense, SC Braga, Orduspor (Turquia), Maiorca (Espanha), NorthEast United, Sporting Goa e NorthEast United (Índia).