“Quanto mais despercebidos passarmos melhor”


Árbitro recém-internacional em entrevista.

Tiago Martins subiu à primeira categoria da arbitragem na época passada e rapidamente chegou a internacional. E tem mostrado que filho de árbitro sabe arbitrar.

Estreou-se na I Liga num Académica-Paços de Ferreira, em 2012, quando era quarto árbitro e substituiu o in­disposto Pedro Proença. Foi uma situação estranha?
Foi mas, por outro lado, foi isso que impulsionou a minha carrei­ra. Acabei por substituir o melhor árbitro do mundo nesse ano e o feedback que me deu foi muito importante. Passado um ano fui promovido ao estágio e depois passei para a primeira catego­ria. Foi o ponto de partida para poder chegar à I Divisão.

É filho de um árbitro (Isidro Martins). Quis seguir o exemplo do seu pai desde pequeno?
Sempre o acompanhei. Ele entrou para a arbitragem já com uma idade avançada e nunca passou dos quadros distritais. Mas foi ele que me incutiu o bichinho e que me inscreveu no curso.

Ser árbitro é apelativo para os jovens?
Penso que sim, muito pelas competências e valores que nos traz. Cresci imenso. No meu próprio trabalho [director do Hol­mes Place] valorizam o facto de ser árbitro pelas competências como a liderança, responsabilidade e espírito de equipa.

Sempre conciliou bem a arbitragem com o trabalho?
Numa fase inicial apostei muito no ginásio, deixei a arbitragem um pouco de lado, e consegui chegar à posição de director. A partir daí consegui gerir a minha agenda de forma a que sejam dois trabalhos perfeitamente compatíveis.

Frequentou a Academia de Arbitragem?
Faço parte do primeiro grupo de árbitros que esteve no nível 3 da Academia de arbitragem, os primeiros a estagiar na II Liga. Eu, o Fábio Veríssimo e o Rui Rodrigues fomos os primeiros a ascender à I Liga via Academia de arbitragem.

A Academia vai fazer a diferença no futuro?
Vai ajudar, e muito, para que tenhamos melhores árbitros. Vão chegar melhor preparados. Temos uma fase de estágio na qual já estamos integrados no futebol profissional, na II Liga, e isso sem dúvida que é uma mais-valia.

Acha que os árbitros também deviam falar no final dos jogos, como fazem os jogadores e os treinadores?
A UEFA e a FIFA acham que não devemos falar e eu também. As vedetas são os jogadores. Estamos lá para fazer cumprir as leis de jogo e quanto mais despercebidos passarmos melhor.

De 0 a 5, que nota daria à arbitragem portuguesa?
Todos procuramos a excelência. A nossa arbitragem é reconhe­cida lá fora. Não é por acaso que no ano passado tivemos o Pe­dro Proença no Mundial do Brasil e no Mundial de clubes e este ano tivemos o Artur Soares Dias no Mundial de Sub-20.

Qual é a sua opinião sobre o regresso do sorteio?
Ainda não tenho uma opinião formada, até porque nem me re­cordo de como eram os sorteios no passado. O que posso dizer é que enquanto director não sorteio as pessoas para as tarefas que têm de fazer, indico-as de acordo com a competência.

O árbitro é o elo mais fraco do futebol?
Não acho. É o que tem menos adeptos, sem dúvida, e por vezes é um pouco incompreendido porque toma decisões impopula­res. Mas o árbitro é um elemento necessário ao futebol e os jo­gadores, treinadores e adeptos gostam de ver boas arbitragens.

Ser internacional aumenta a responsabilidade?
Quando vamos representar a arbitragem portuguesa é óbvio que a responsabilidade aumenta, assim como o orgulho. Mas está presente em todos os jogos, seja a nível distrital ou a nível internacional. Temos de acertar o maior número de vezes.

Recebeu as insígnias da FIFA com apenas três jogos na I Liga. Foi apanhado de surpresa?
O Olegário Benquerença atingiu o limite de idade e surgiu uma vaga. O Conselho de Arbitragem entendeu que, tendo em conta a minha idade e margem de progressão, seria a melhor pessoa para indicarem. Foi uma oportunidade que me foi dada e que quero agarrar e provar que fui a melhor escolha.

É a favor das novas tecnologias no futebol?
Tudo o que seja para ajudar as nossas decisões é bem-vindo.

Acha que os árbitros de baliza vieram ajudar?
Sim. Eles têm outra perspectiva e vêem o lance do lado inverso ao árbitro. Dão o feedback de uma perspectiva diferente e, como é óbvio, ajudam a tomar a decisão.

Nos seus jogos já viu jogadores talentosos ao ponto de querer sentar-se na bancada a assistir?
Vemos sempre muitos jogadores talentosos, temos esse privilé­gio no futebol português. E gosto de ver bons jogos.


Perfil
Nome: Tiago Bruno Lopes Martins
Data de nascimento: 29 de Maio de 1980
Associação: Associação de Futebol de Lisboa
Estreia na Primeira Categoria: 2014
Estreia Internacional: 2015