“Queremos transmitir aos jogadores a importância dos estudos”


Ex-jogador reforça gabinete de educação.

O jogador Anselmo Cardoso, de 31 anos, é um dos mais recentes reforços do Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol (SJPF). O até aqui futebolista decidiu terminar a carreira e abraçar um novo projecto profissional.

Licenciado em Educação Física e com pós-graduação em Necessidades Educativas Especiais, Anselmo iniciou esta semana as funções de Delegado, ficando responsável pela promoção da formação escolar, profissional e académica dos jogadores de futebol. O SJPF pretende que Anselmo seja a interlocutor dos jogadores nesta matéria.

Como futebolista, Anselmo iniciou a sua carreira profissional em 2001 ao serviço do Freiria, representando ainda o Torreense (2002 a 2005), o Estrela da Amadora (2005 a 2009), o Nacional da Madeira (2009 a 2011), o Rio Ave (2012), o Tractor Club do Irão (2012) e o Portimonense (2013/14). O último clube que o ex-avançado português representou foi o Al-Mesaimeer, do Qatar (2014/15).

Em entrevista ao site do SJPF, Anselmo explica por que decidiu aceitar o convite do Sindicato e revela os grandes desafios que lhe foram lançados.

Por que decidiu aceitar o convite do SJPF?
Foi um convite endereçado pelo presidente Joaquim Evangelista e decidi aceitá-lo porque me identifico muito com o projecto do Sindicato. O presidente propôs-me ficar como responsável pela promoção do gabinete da educação e formação dos jogadores, em particular, de identificar as necessidades escolares e académicas e divulgar a oferta formativa do SJPF. Sendo eu um jogador licenciado, e consciente da importância da educação, quero transmitir aos meus colegas a minha vivência e a importância dos estudos. Paralelamente, serei também delegado e o rosto do Sindicato nas visitas aos clubes. Foi por esse motivo que decidi encerrar uma parte da minha vida que foi maravilhosa, ser jogador de futebol, e iniciar uma outra em que espero ter tanto ou mais sucesso do que tive enquanto jogador.

Pondera regressar aos relvados no futuro?
Não estou a pensar voltar a jogar futebol, a não ser numa situação extraordinária. Quero encarar este novo desafio com seriedade e a cem por cento e não de forma temporária ou em part-time.

Por que decidiu encerrar a carreira de jogador aos 31 anos?
Por uma questão de motivação. Neste momento estou mais motivado para iniciar um novo desafio do que em continuar a jogar futebol.

O facto de ser licenciado em Educação Física será uma mais-valia para ‘convencer’ os jogadores a conciliar o futebol com os estudos?
Sim. Tendo em conta que acredito na mensagem que estou a transmitir e que eu próprio sou licenciado, provavelmente consigo incutir e transmitir essa mensagem da melhor forma aos jogadores. Hoje em dia, infelizmente, nem a sociedade, nem o desporto garantem emprego, mas se formos licenciados ou tivermos uma qualificação, a probabilidade de nos empregarmos aumentará. Pela experiência de vida e pelo que crescemos enquanto pessoas, a formação e a educação são fundamentais.

Existe o estigma de que os jogadores abandonam precocemente os estudos. Na sua opinião, a que se deve essa situação?
Está relacionado com a educação que têm desde a infância. Muitas vezes os pais incentivam as crianças a jogar futebol e estas acabam por esquecer um pouco os estudos. Os próprios clubes não têm uma política activa nesta matéria. E os jogadores não investem de modo próprio nos estudos. Mais tarde arrependem-se de não terem continuado a estudar. Felizmente estão sempre a tempo de corrigir essa lacuna. A ilusão que existe no futebol profissional contribui para que os jogadores abandonem precocemente a escola.

A existência de academias nos clubes de futebol é importante para contrariar essa tendência?
Sim, sem dúvida. Os clubes que não dispõem de uma academia nas suas instalações devem procurar o estabelecimento de protocolos com escolas e universidades para que haja uma interacção constante entre o futebol e a escola.

Como pode contribuir para a resolução dos problemas que afectam os jogadores?
Principalmente estando presente. É muito importante ouvir os jogadores e apresentar as soluções que o Sindicato tem ao seu dispor. O SJPF vai apresentar o seu Plano de Educação e Formação e muitas ofertas formativas. Mas também tem muitas e variadas soluções noutras áreas, desde o serviço jurídico, passando pela saúde, pela protecção social ou pelo emprego. Nós, delegados, enquanto rosto do Sindicato, temos de encaminhar os problemas dos jogadores para o gabinete competente que, em conjunto com a direcção, saberão solucioná-los da melhor forma.

Sente que a maioria dos jogadores tem conhecimento de toda a actividade do Sindicato?
De uma coisa não tenho dúvida, da importância do Sindicato para os jogadores. Cada um procura a informação que mais lhe convém. Hoje a informação está disponível no site, na revista, no facebook, etc. A nós delegados cabe-nos transmitir aos jogadores a informação, os serviços e as vantagens de ser associado. E ao mesmo tempo ouvir e registar os seus problemas. Sobretudo isso, estar presente para quando necessitam e isso nós garantimos. 

Hoje em dia, quais são os principais problemas com que se debatem os jogadores?
Infelizmente são problemas recorrentes. As condições de trabalho, nalguns casos, são precárias. Os salários praticados, salvo algumas excepções, são baixos e muitas vezes não são pagos atempadamente. Outro problema é o do desemprego e o pós-carreira. Muitos jogadores ficam ‘perdidos’ naquilo que vão fazer depois do futebol. A maioria abandona cedo os estudos, só sabem jogar futebol e quando se retirarem não sabem o que vão fazer. Temos de apoiá-los nesse sentido.

Como tem visto o trabalho do Sindicato dos Jogadores até aqui?
Fiz-me sócio do Sindicato aos 18 anos e desde então tem havido uma evolução enorme. O actual presidente, Joaquim Evangelista e a sua equipa, têm mérito nessa evolução e reforçaram o trabalho efectuado pelos anteriores presidentes.  Penso que os jogadores e o SJPF estão agora muito mais unidos do que há uns anos.