“Sempre desejei jogar em Inglaterra”


Do Valadares Gaia ao Bristol Academy.

Começou a jogar futebol aos seis anos e foi “lançada às feras” com apenas 17. Depois de ter representado o Valadares Gaia na última época, Tatiana Pinto cumpre agora o desejo de viver e jogar em Inglaterra.

Como nasceu o gosto pelo futebol?
É algo que já nasceu comigo. Lembro-me que desde muito peque­na trocava as bonecas por uma simples bola de futebol. Perdia completamente a noção do tempo, ficava até anoitecer a jogar à bola. Era o meu mundo à parte.

O futebol foi sempre a primeira opção?
Fiz atletismo durante alguns meses mas não era, de todo, a minha praia. Não era aquilo que queria e pedi aos meus pais para não continuar. O futebol era dono de mim.

Quando começou a praticar a modalidade, sabia da existência de um campeonato feminino?
Tinha seis anos quando comecei a praticar a modalidade. Nessa altura não havia formação para o feminino e então tive de jogar com rapazes. Era a única menina. Sabia da existência do campeo­nato feminino, assim como sabia da inexistência da formação para as meninas.

Como surgiu a oportunidade de jogar futebol?
Foi uma situação caricata. Recordo-me de estar com o meu pai e entretanto ele recebeu um telefonema. Era um professor de Educação Física, conhecido do meu pai, a dizer que já era permi­tido equipas mistas. Nesse mesmo instante, pediu para ir experi­mentar pois estava a ocorrer um torneio e eu fui, sem hesitar, com a roupa que tinha: calças de fato-de-treino, uma t-shirt e sapati­lhas. Estava radiante!

Desde que começou a jogar, levou sempre o fute­bol a sério?
Sempre levei o futebol muito a sério na minha vida. Claro que hou­ve alturas em que não me focava da mesma forma, por inúmeras razões. Mas nunca me desviei muito da linha que estabeleci.

Como foi a primeira época no Clube de Albergaria?
Foi uma época de mudanças extremas, passei de futebol distrital para futebol nacional, o nível era exigente, o nome do clube pesa­díssimo e eu era novinha. Fui muito bem recebida e depressa me entrosei com todo o plantel. Senti-me em casa e quando assim é, facilita tudo.

O que significou a passagem pelo SC Sand?
Foi uma experiência muito enriquecedora e de muita importância para mim. Como atleta e como pessoa, evoluí, cresci e aprendi coisas novas. Conheci uma nova cultura, uma nova língua. Lidei com pessoas muito dedicadas e profissionais em tudo aquilo que faziam. Sem dúvida que jamais irei esquecer. Deu-me bagagem e adquiri valores que manterei a longo prazo.

O que sentiu na estreia pela Selecção Nacional?
A minha estreia pela Selecção aconteceu em 2010. Foi um mo­mento único, repleto de emoções e sentimentos. Foi bonito e é intraduzível em palavras.

Chegar à Selecção AA era o seu maior objectivo?
Sendo a Selecção AA um espaço de elite, obviamente que sem­pre foi um dos meus maiores objectivos lá chegar. Na realidade, o mais difícil não passa por lá chegar mas sim, por permanecer.

Como é que surgiu a oportunidade de representar o Valadares Gaia?
Surgiu directamente por parte do presidente. Não posso deixar de lhe agradecer, pela oportunidade de jogar pelo clube que tenta com que haja, acima de tudo, igualdade de género e que tem boas infra-estruturas para que o futebol feminino continue em desen­volvimento.

O que a levou a rumar ao futebol inglês?
Pessoalmente, é um país que me atrai. Sempre desejei viver em Inglaterra. Já conhecia o país e fiquei apaixonada. Com esta pro­posta de representar o Bristol Academy era juntar o útil ao agra­dável. A competitividade e a agressividade caracterizam o futebol inglês, exactamente duas componentes que eu procurava para um novo desafio. Estou a gostar de toda esta atmosfera.

Quem é o seu ídolo?
É, e será sempre, a minha mãe.

Qual é o seu maior sonho enquanto jogadora?
Voando muito alto, o meu maior sonho é chegar a uma fase final de um Europeu ou de um Mundial com a Selecção e ganharmos. Seria um acontecimento fenomenal, de outra galáxia.

Admite vir a jogar noutro país?
Admito que tenho um genuíno espírito aventureiro e o desconhe­cido agrada-me, por isso sim, vir a jogar noutros países não seria uma surpresa. Na minha perspectiva, a liga alemã e a liga sueca são as melhores. As realidades são brutais e o futebol feminino está num patamar acima do que é o normal.

Como gostaria de ser lembrada no futebol?
Não sei se serei ou não lembrada, pois na verdade, e sendo rea­lista, não estamos a falar de um Ronaldo ou de uma Carli Lloyd. Serei lembrada, sim, pelas pessoas próximas e que me conhecem bem, é uma certeza absoluta. E que seja por ter sido alguém sem medos, humilde, simples e dedicada naquilo que realmente im­portava, o futebol.


Perfil
Nome: Tatiana Vanessa Ferreira Pinto
Data de nascimento: 28 de Março de 1994
Posição: Médio
Clubes que representou: Clube de Albergaria, SC Sand (Alemanha), Valadares Gaia e Bristol Academy (Inglaterra).