“Marcámos uma página na história do Belenenses”


A participação na fase de grupos da Liga Europa.

A histórica qualificação do Belenenses para a fase de grupos da Liga Europa apenas com jogadores portugueses motivou-nos a falar com o capitão Gonçalo Brandão, para tentarmos descobrir o segredo do sucesso dos Azuis do Restelo.

Esta época o Belenenses qualificou-se pela pri­meira vez para a fase de grupos da Liga Europa. Como é que o plantel viveu o feito?
Todo o plantel tem noção de que fizemos uma coisa histórica. Marcámos uma página na história do clube com a época que fize­mos no ano passado e com os quatro jogos de apuramento para fase de grupos, com o Altach e com o Gotemburgo.

Ter conseguido o apuramento apenas com joga­dores portugueses deixa-o ainda mais satisfeito?
Sim. Não gosto muito de falar em portugueses e estrangeiros porque também já estive lá fora e fui sempre bem tratado, mas é óbvio que demonstra que o jogador português tem muita qua­lidade e um plantel totalmente português pode conseguir fazer coisas históricas. Tem um sabor especial por sermos todos por­tugueses, mas acho que a grande diferença está no treinador. To­dos percebem as ideias e o que ele quer para a equipa, falamos todos a mesma língua. Mas não escondo que é um motivo de grande orgulho e uma prova da qualidade do jogador português.

Gostava de ver outras equipas seguirem o exem­plo do Belenenses?
Claro que sim, até porque há muitos jogadores, e falo por expe­riência própria, que para serem reconhecidos precisam de sair e fazer bons campeonatos lá fora. Temos muitos bons jogadores, a qualidade do jogador português é muito reconhecida lá fora. Às vezes, os directores e os presidentes estrangeiros dão mais valor ao jogador português do que os nossos, que muitas vezes preferem um estrangeiro de qualidade duvidosa a um português que venha da II Liga, por exemplo. Mas as divisões secundárias, tanto a II Liga como o Campeonato de Portugal, têm jogadores de elevada qualidade e o Belenenses é a prova disso. O planea­mento que a SAD do Belenenses fez com o treinador é a prova de que se as pessoas estiverem atentas descobrem muita quali­dade em Portugal, na I Liga e nas divisões inferiores.

Acreditava que seria possível o clube passar da II Liga à Europa em tão pouco tempo?
Quando o Belenenses subiu à I Liga eu estava em Itália. Lembro-me de ter visto alguns jogos e foi com muito orgulho que vi o Belenenses subir com larga antecipação. A SAD está muito bem organizada e bem liderada pelo presidente e pelos administra­dores e estão a cumprir os objectivos que delinearam quando pegaram no clube. É a demonstração de um trabalho muito sé­rio, de uma organização muito forte e de muita qualidade.

Deixou o Belenenses em 2008 e regressou em 2014. Encontrou o clube muito diferente?
Sim. Quando saí o clube estava noutros patamares. Tínhamos ido à Liga Europa e a uma final da Taça de Portugal. O Belenen­ses estava sempre na I Liga e com classificações importantes, e quando voltei foi o primeiro ano na I Liga após três anos na II Liga. Vim em Janeiro numa situação difícil, mas encontrei um clube muito organizado apesar das dificuldades económicas que são conhecidas. Mas o que me deu segurança para regressar, não só os seis meses mas depois também ter dado prioridade ao clube para assinar por mais anos, foi a estrutura e os objectivos que o presidente quer para o clube. Apanhei o Belenenses em fases diferentes, mas agora está muito bem e recomenda-se.

O objectivo da época passa apenas pela manu­tenção ou no seio do grupo fala-se em repetir a presença na Europa?
O objectivo inicial é o mesmo do ano passado. O Belenenses tem de cimentar-se na I Liga. É um clube histórico, não pode andar em oscilações entre a I e a II Liga. Nós, jogadores, temos de ter a responsabilidade de posicionar o clube na I Liga. Depois, como é óbvio, somos uma equipa ambiciosa e temos um treinador am­bicioso, que nos incute o lema de vitória e de ganhar em qual­quer campo. Depois isso tornar-se-á visível na classificação final.

Nos últimos anos vimos a Académica e o Vitória de Guimarães conquistar a Taça de Portugal. Acre­dita que o Belenenses pode inscrever o nome na lista dos vencedores a curto prazo?
Claro que sim. Lutamos em todas as competições e a Taça de Portugal é uma delas. É aquele troféu com que todas as equipas sonham e não fugimos à regra. Já tive a felicidade de estar numa final da Taça com o Belenenses, pude ver o que isso significa para os adeptos e temos um grupo ambicioso que, certamente, lutará para estar na final da Taça de Portugal a curto prazo.

Pode dizer-se que jogam um futebol à imagem do treinador?
Aquela paixão que ele tinha quando jogava, aquela garra e a qualidade que tinha, porque era um jogador de Selecção, é uma imagem que transmite à equipa. Somos uma equipa à imagem do treinador e isso tem-nos trazido excelentes resultados.

Como tem sido fazer dupla com um jogador expe­riente como Tonel?
Tem sido bom. Não o conhecia como colega, só de ver jogar. Temos cinco centrais de grande qualidade, acho que jogamos todos bem uns com os outros, o míster depois decide. Tenho jo­gado mais com o Tonel, ultimamente mais com o João Afonso, também já joguei com o Gonçalo Silva e com o Palmeira. Que­remos sempre complicar as contas ao treinador e acredito que ele tenha um papel difícil porque é um grupo que trabalha muito bem. E não é fácil escolher só dois centrais quando tem cinco que trabalham sempre nos limites e são excelentes jogadores.

Em 2009 fez dois jogos pela Selecção A. Aos 29 anos, com o Belenenses num bom nível, acredita num regresso?
Claro que sim. Trabalho sempre nos limites e tenho a legitimida­de de querer voltar. É óbvio que só o poderei fazer, eu ou outro co­lega meu, com boas campanhas colectivas. Se for chamado será por isso. É um sonho e seria uma coisa muito bonita de repetir.

Qual é a sua opinião sobre o trabalho do SJPF?
É importantíssimo para os jogadores. Felizmente nunca preci­sei de recorrer ao Sindicato, mas sei de jogadores que o fizeram e em boa hora, porque viram os problemas resolvidos. Vivi um caso complicado com a falência do Parma, mas não havia mui­to a fazer. Aconselho o Sindicato a todos, seja para resolverem questões que tenham com os clubes ou também pelo estágio de início de época para os casos de jogadores que, infelizmente, estão desempregados. Têm feito um excelente trabalho.