“A experiência como jogador foi muito importante”


Treinador recorda os tempos de futebolista.

A época passada culminou com o Belenenses na Europa, depois de ajudar o Mafra a subir. Agora, Jorge Simão quer melhorar a pontuação do Paços de Ferreira e um dia, quem sabe, pôr bandeiras em vários países.

O que o levou a aceitar o convite do Paços de Ferreira?
Depois de terminar de uma forma fantástica a temporada an­terior, que culminou com o Belenenses na Liga Europa e tam­bém porque estarei sempre ligado a esse facto, com o Mafra campeão do Campeonato de Portugal, o convite do Paços surgiu na altura ideal. Por ser um clube de I Liga, estável e que privilegia treinadores que estão a apostar na consolidação da carreira.

O Paços tem fama de ser um clube cumpridor. Isso é meio caminho para garantir um bom trabalho?
Meio caminho não, mas é essencial para o sucesso.

Sente condições para voltar em breve à Europa?
O objectivo é consolidar o clube, na sequência dos últimos anos, e a manutenção é a principal meta. Pelo passado recente, e aqui englobo uma época em que o Paços participou na Liga dos Campeões e correu o risco sério de descer de divisão, o desafio que coloco é contribuir para o Paços ser melhor. E se na época passada o Paços fez 47 pontos, a nossa meta é chegar aos 48.

Estreou-se a época passada na I Liga, pelo Belenenses, e antes estava no Mafra, no Campeonato de Portugal. Esperava chegar tão cedo à I Liga e logo com um salto desses?
Quando saí do Belenenses como adjunto para iniciar a minha carreira como treinador principal tinha a convicção de que um dia, dependendo do meu trajecto, voltaria. A oportunidade apa­receu mais cedo do que esperava e não poderia recusar, apesar do risco. Entrei no Belenenses a nove jogos do fim, a substituir um treinador consagrado, os objectivos do clube estavam con­cretizados e conseguimos um apuramento europeu histórico.

Terminou a carreira de jogador aos 27 anos. Porquê?
Foi quando percebi que não ia atingir o nível que esperava. E perguntas-me: mas precisou de esperar até aos 27 anos? Precisei. [risos] Desde cedo que quis ser treinador. Quando subi aos seniores estava no Estrela da Amadora, entrei para a faculda­de, sou licenciado em Ciências do Desporto e tenho um mestra­do em Treino de Alto Rendimento. A experiência como jogador foi muito importante para aquilo que sou hoje. Na altura apare­ceu o Atlético do Cacém e comecei como adjunto no Distrital.

Tem alguma referência como treinador?
São os treinadores de top, os que conseguem mobilizar a moti­vação dos jogadores de uma forma ímpar. Fui desviando o meu ramo de estudo para as lideranças. As grandes referências a este nível até são treinadores de basquetebol, como o Phil Ja­ckson e o Mike Krzyzewski. Li muitos livros deles e influencia­ram-me muito. E o meu mentor é o Jorge Araújo. Foi treinador de basquetebol durante quase 40 anos, ganhou tudo em Por­tugal. Acima de tudo, lidero. Tudo o resto, jogar em 4-3-3 ou em 4-4-2 é a ferramenta para que, juntamente com o treino da área comportamental, possamos atingir o sucesso.

Na I e II Ligas são raros os treinadores estrangeiros. É um sinal do valor do treinador português?
É um sinal de uma clara aposta dos dirigentes no treinador português, porque qualidade sempre houve. Agora, encontrar a justificação para a qualidade reconhecida internacionalmente do treinador português é que é uma questão curiosa: é a nossa formação que é melhor? É genético ou cultural?

A classe dos treinadores é unida?
Não acho que seja e não consigo ver como pode ser mais. É uma profissão de “oposição”, não de cooperação: nesta área só um pode ter sucesso, para um ganhar o outro tem de perder. Não somos como os médicos, que se trabalharem em conjunto a classe vai ser mais forte. E mais, as vagas são limitadas.

Tem assistido a diferenças na relação entre treina­dor e jogadores nos últimos anos?
A forma como os jogadores eram liderados há 20 ou 30 anos não tem nada a ver com a que existe. A autoridade era impos­ta, hoje tem de ser reconhecida. Prefiro que os jogadores colo­quem questões e me desafiem, privilegio esse tipo de relação. Quero mobilizar a motivação dos jogadores, seduzindo-os com uma ideia de jogo.

Que equipa mais o seduziu pelo estilo de jogo?
O Barcelona de Pep Guardiola. Claramente.

Em que Liga sonha treinar?
Todos os treinadores, treinem seniores na I Liga ou infantis no Distrital, têm a ambição de chegar ao mais alto nível. Falo da Liga dos Campeões. Acho que é muito curioso um treinador querer conquistar os países, como no jogo do Risco. Neste mo­mento quero conquistar o Norte, nunca tinha trabalhado aqui. Vagueando neste pensamento, acho uma ideia fantástica con­quistar, foi aquilo que o Mourinho fez, Itália, Inglaterra e Espa­nha. É como chegar ao cume do Evereste e deixar lá a bandeira.

Que impressão tem do trabalho do Sindicato?
É um organismo essencial. Houve muitos clubes com faltas de pagamentos e vi sempre o Sindicato a ajudar. É essencial na protecção aos jogadores, no encaminhamento das situações problemáticas e acho que a actividade tem passado muito por encontrar vias posteriores à carreira do jogador.


Perfil
Nome: António Jorge Rocha Simão
Data de nascimento: 12 de Agosto de 1976
Cargo: Treinador principal
Clubes como treinador principal: Atlético, Mafra, Belenenses e Paços de Ferreira.