A muralha de Leiria
Nove jogos consecutivos intransponível.
Com 35 anos e uma larga experiência nas ligas profissionais, Paiva não vê segredos no feito alcançado e valoriza o colectivo. “Temos uma equipa defensivamente bastante sólida, que tem ajudado. Não sei se é um feito inédito, mas é natural que haja muito poucas equipas com um registo de golos sofridos como o nosso.”
Na época passada estava no Feirense, na II Liga, e este ano mudou-se para o Leiria, do Campeonato de Portugal. Uma decisão acertada. “Tomamos as decisões a pensar que poderá ser o melhor para nós. Está a ser uma decisão acertada porque as coisas estão a correr bem. Por vezes é preciso dar um passo atrás para dar dois em frente.”
Consciente de que foi uma despromoção na sua carreira, Paiva trabalha para voltar às ligas profissionais. “Recebi algumas propostas da II Liga, optei pelo Leiria, pelo projecto, mas todos os jogadores querem estar no futebol profissional e ao mais alto nível. O Leiria tem outros jogadores que já estiveram em escalões superiores”, avalia.
O Leiria é um clube histórico e está a renascer das cinzas. Foi despromovido por questões de incumprimento salarial e com a entrada de investidores russos está com uma estrutura profissional. O regresso à II Liga já na próxima temporada é o objectivo. “Não vale a pena estar a esconder porque as outras equipas sabem o trabalho que estamos a fazer e as nossas intenções. O Leiria é um clube que faz falta à I Liga. É uma cidade que está um bocado desligada do futebol devido ao que aconteceu, mas estamos a conseguir conquistar o carinho e a chamar os adeptos ao estádio. Têm comparecido em algum número, mesmo nos jogos fora.”
Instado a comentar se nota uma grande diferença entre o Leiria e as restantes equipas, Paiva não se inibe na resposta. “Temos jogadores com traquejo de I e II Liga, nota-se alguma diferença para as outras equipas. Muitas têm jogadores que trabalham e só treinam ao final do dia, nós só por aí temos de aproveitar as nossas condições e ser superiores. Não quero subestimar, mas não estamos em pé de igualdade com as outras equipas.”
Em 2008 deixou crescer a barba e só a cortou quando o Rio Ave subiu de divisão. Vai repetir essa promessa? “Se tivesse a certeza que subia de divisão por não cortar a barba, é óbvio que não deixaria de o fazer! Isso por vezes são coisas que se fazem para unir o grupo. Eu e o Gaspar fomos os mentores dessa decisão, mas neste momento não sinto que seja necessário agarrarmo-nos a algo desse género.”
Com uma carreira já longa, quisemos saber qual foi o episódio mais marcante pela positiva. “Quando fui convocado para a Selecção B, ter jogado na Liga Europa e a subida de divisão pelo Rio Ave.”
No lado oposto, na época em que se estreou na I Liga e na Liga Europa, o Guimarães desceu de divisão. “É o único momento negativo que tenho na carreira. Descer de divisão já é difícil, descer no Vitória ainda mais difícil é. É um clube com bastante história e foi muito complicado.”
A descida foi tão inesperada que Paiva ainda hoje não consegue explicá-la. “Tínhamos um excelente plantel, dos melhores do Vitória nos últimos anos, mas caímos na linha de água na primeira jornada e sempre que poderíamos sair daquela zona não conseguíamos. Hoje ainda não encontro justificação.”
Depois esteve uma temporada no Chipre, uma experiência que Paiva estava a adorar até ter fracturado a perna. “Vim para Portugal e fiquei sozinho. Percebi também que temos de dar valor ao nosso campeonato porque é muito mais organizado e profissional. Muitos de nós vamos para fora apenas pelo facto de cá os clubes estarem mal financeiramente. Ninguém quer jogar lá fora, vamos mesmo pelo dinheiro porque ainda é uma diferença grande.”
Depois esteve uma época sem jogar devido à lesão. “Fracturei a tíbia em Maio, assinei pelo Penafiel em Janeiro, mas quando cheguei lá senti que não estava em condições para ajudar o clube e tive de fazer nova cirurgia na tíbia, o que me fez parar mais seis meses. No total estive época e meia parado e depois fui meio ano para o Famalicão para relançar a minha carreira.”
Com o final da carreira a aproximar-se, Paiva ainda não sabe o que vai fazer quando terminar. “Estou a tirar o curso de I nível, mas é muito difícil ser treinador. Quero continuar ligado ao futebol, fui profissional com 16 anos. Sei que nem toda a gente que acaba a carreira pode estar ligada, se fosse assim havia mais treinadores do que jogadores, mas vou fazer tudo para ter o máximo de capacidades para contribuir com o meu desempenho em alguma equipa.”
O SJPF vai lançar um programa de apoio aos jogadores, para tirarem uma licenciatura durante a actividade de profissional de futebol. Uma iniciativa que Paiva elogia: “É excelente, principalmente para os jogadores com mais idade, como é o meu caso. Estive inscrito nas Novas Oportunidades através do Sindicato, em 2008/09, frequentei as aulas, mas depois fui para o Chipre e não dei continuidade ao que tinha iniciado.”
A opinião que Paiva tem sobre o trabalho do SJPF também é a melhor. “É a única instituição que está do lado do jogador e que nos poderá ajudar em alguma situação mais grave. Só temos de ser sócios porque apoiam-nos em tudo.”
Perfil
Nome: Márcio Henrique Silva Paiva
Data de nascimento: 31 de Julho de 1980
Posição: Guarda-redes
Clubes que representou: Maia, Vitória de Guimarães, Feirense, Rio Ave, DOXA (Chipre), Famalicão e União de Leiria.