“Todas as semanas vejo jogadores talentosos”


Fábio Veríssimo chegou a internacional em 2015, mas o gosto pela arbitragem começou como futebolista.

Recorda-se do jogo em que se estreou na Primeira Liga como árbitro principal? Que memórias guarda desse momento?
Claro que sim. Foi num Belenenses-Vitória de Guimarães. Estava ansioso e no final do aquecimento lembro-me de ter dito para os meus árbitros-assistentes – “Isto vai ser apenas um jogo de futebol. Quantos árbitros gostariam de estar agora a viver este momento? Vamos dar o nosso melhor.”

Como é que nasceu o gosto pela arbitragem?
O gosto pela arbitragem nasce durante a adolescência enquanto jogador de futebol do G. D. Peniche. Numa primeira fase comecei a ser árbitro no Desporto Escolar e depois quando cheguei a júnior ouvi um anúncio na rádio que iriam realizar um curso para árbitros de futebol. A partir deste momento comecei a apaixonar-me por esta vertente.

Ser árbitro é apelativo para os jovens?
Penso que sim. No entanto, quando se tira o curso de árbitro não se tem noção do que é ser árbitro e do trabalho que é necessário desenvolver para se alcançar os patamares mais elevados na arbitragem. Não é fácil um jovem com 17 ou 18 anos dizer não a discotecas, festas e jantares para ter disponibilidade física e mental para no dia seguinte logo de manhã cedo arbitrar um jogo às 9h30 da manhã com chuva e frio por escassos 6€.

Frequentou a Academia de Arbitragem? A Academia vai fazer a diferença no futuro?
Sim. Fiz parte do primeiro grupo formado pela Academia de Arbitragem e é uma experiência bastante enriquecedora que a médio prazo vai dar bons resultados para a nossa arbitragem. A Academia veio contribuir para que os árbitros tenham todos o mesmo nível de formação e preparação antes de chegarem às competições profissionais.

Os árbitros também deviam falar no final dos jogos, como fazem os jogadores e os treinadores?
Na minha opinião não é benéfico estarmos a falar porque ninguém nos quer ouvir. Os adeptos querem é ouvir as justificações dos treinadores e dos jogadores.

Qual é a sua opinião sobre a introdução do videoárbitro e da tecnologia da linha de golo?
Sou completamente a favor de todas as tecnologias que contribuam para a verdade desportiva e para a credibilização do futebol.

Acha que os árbitros de baliza vieram ajudar?
Sim. Têm uma visão de um ângulo completamente diferente dos outros elementos da equipa da arbitragem e têm um papel muito preponderante na prevenção de ‘agarrões’ em livres e cantos porque os jogadores sentem que está ali mais um árbitro por perto a analisar esses lances.

Concorda com a divulgação pública dos relatórios dos árbitros? Considera esta medida positiva?
Sim. Tudo o que for a bem da transparência e da credibilização é positivo. Não há nada a esconder.

O árbitro é o elo mais fraco do futebol?
Penso que não. Nós não temos adeptos, apenas alguns amigos e a família. Somos um alvo demasiado fácil de atingir. No entanto somos os elementos no terreno de jogo que mais acertam. As pessoas acreditam muito naquilo que os media reproduzem e nós servimos muitas vezes de bode expiatório para justificar a inércia ou o desnorteamento de alguns clubes.

Recebeu as insígnias da FIFA em 2015, com apenas 32 anos. Foi apanhado de surpresa?
Em outubro de 2014 fui selecionado para frequentar um curso para árbitros jovens da UEFA CORE – Centre of Refereeing Excellence. Nessa altura tive noção que aquela aprendizagem tinha como objetivo a minha possível integração nos quadros da UEFA nas épocas seguintes.

Nos jogos que apitou já viu jogadores talentosos ao ponto de querer sentar-se na bancada a assistir?
Todas as semanas vejo jogadores talentosos, mas assisto de uma forma profissional. Penso que existem muitos jogadores jovens com muito talento na Ledman LigaPro. Se esses jogadores tiverem as suas oportunidades poderão afirmar-se numa equipa de Primeira Liga. O nosso futebol está recheado de bons praticantes.

Foto: Miguel Nunes/ASF.