“Mesmo que estejam 5ºC, andam de manga curta”


O médio de 21 anos está há dois meses no futebol norueguês, fazendo um balanço positivo.

Joga no Notodden, um clube desconhecido para a maioria dos portugueses. Como surgiu essa hipótese?
Estive na Croácia, mas as coisas não correram muito bem. O clube estava a passar por dificuldades financeiras e tive de rescindir o contrato. Voltei para Portugal no Natal, tratei da rescisão do meu contrato com o Sindicato dos Jogadores e depois comecei a procurar uma nova equipa. Surgiu a oportunidade de vir para o Notodden, uma equipa que também não conhecia, obviamente. Primeiro ofereceram-me cinco dias para vir cá treinar, mas eu disse que não porque não achei interessante ir para a Segunda Liga da Noruega. Depois tive a sorte de ter aqui um português, o Nuno Marques, que agora é o treinador de guarda-redes do Notodden, que me disse para vir porque não tinha nada a perder e ia ficar surpreendido. E assim foi. O clube tem muito boas condições. Veio agora da Terceira Liga, tem um estádio muito recente, tem ginásio e todas as condições que um jogador precisa para poder evoluir e para se sentir bem.

E para quem nunca o viu jogar, como se descreve?
Sou médio centro. Sou um jogador que gosta de ter bola e que lê bem o jogo. E acho que tenho qualidade de passe e visão de jogo.

É o segundo país estrangeiro no qual vive. Tem espírito de aventura para descobrir novos países e culturas?
Sim. E estando nesta profissão, acho que tenho de estar preparado para ir para um país diferente. Já na Croácia tinha gostado do país, das pessoas e da cultura. Agora estou há dois meses na Noruega e também estou a gostar bastante. Estou aqui com a minha família e está a ser muito positivo tanto a nível profissional, o campeonato começou agora e joguei os dois jogos, tanto a nível da minha família, de estarmos bem incluídos na sociedade. As pessoas tratam-nos bem. Estou a gostar.

Sempre se habituou bem à língua, comida, trânsito ou houve alguns percalços pelo meio?
Aqui a língua é um bocado complicada. O croata parece que ficou mais rapidamente na cabeça, agora o norueguês... Mas estou a pensar ter umas aulas para perceber o básico. Aquela linguagem do futebol apanhamos rapidamente nos treinos, mas vou tirar um curso para estar mais recetivo para falar com as pessoas.

Que diferenças existem entre a Segunda Liga Norueguesa e a nossa?
A maior parte dos campos são sintéticos. Entre novembro e fevereiro está muito frio e a relva não ia estar em condições. Ainda só fiz dois jogos, mas diria que é um futebol mais físico, não se pensa muito quando se joga, é mais bola para a frente e correr. Por acaso tive sorte porque temos um treinador que foi jogador e quer implementar um estilo de jogo de posse, ter bola, dar linhas de passe... Acho que tive sorte em não ter calhado numa equipa só de jogo físico, não seria bom para mim. Neste momento estou muito contente como a equipa está a jogar.

Quais são os objetivos do Notodden?
Acabámos de subir e tudo o que me têm passado acerca dos objetivos é primeiro de tudo a manutenção e depois tudo o que vier é um bónus. Ainda só temos dois jogos, um empate e uma vitória, está a ser bastante positivo, mas ainda faltam 28 jogos. Vamos ver. É um calendário complicado, vamos continuar a trabalhar para alcançar a manutenção o mais rapidamente possível e depois, se pudermos olharmos para cima, vamos ver se somos uma surpresa.

Os noruegueses ligam ao futebol?
O primeiro jogo foi em casa e estava à espera de mais pessoas. Tínhamos 300 ou 400 pessoas. No ano passado, por exemplo, no jogo de playoff que deu a subida estavam mil pessoas. É uma cidade de 10 mil pessoas, acho que normalmente vai rondar as 400 pessoas. E fomos jogar contra uma equipa que também subiu agora da terceira, o HamKam, e estavam umas 700 pessoas.

O que é que os noruegueses conhecem de Portugal, além de Cristiano Ronaldo e Mourinho?
Por acaso já falei com algumas pessoas que já foram passar férias a Portugal e dizem-me que gostam muito. Aqui não há muito sol, quando há um bocadinho de sol, mesmo que estejam 5ºC, andam de manga curta e com um sorriso estampado na cara! Por isso gostam muito de ir de férias para Portugal e para Espanha.

O que é que leva na mala sempre que vem a Portugal?
Agora tenho uma filha, então os produtos da bebé têm de vir todos. Aqui é um país novo, não sabemos se têm, então tentamos trazer o máximo de coisas da bebé.

Já viveu algum episódio caricato nas suas experiências no estrangeiro?
Não. Nada de caricato.

Por cá, fez a formação no Benfica, com curtas passagens por Oeiras e Casa Pia. Pensa em regressar ou prefere continuar a carreira no estrangeiro?
Neste momento estou simplesmente focado em jogar o maior número de jogos possível porque na equipa B do Benfica joguei alguns jogos, mas não os suficientes. Depois na Croácia as coisas também não correram bem e não tive muitos minutos, por isso agora o mais importante é jogar o máximo possível. E estou a encarar as coisas passo a passo. Tenho um contrato de dois anos com o Notodden e, se Deus quiser e se as coisas correrem bem, no final da época sento-me com o meu agente e com a minha família e se houver propostas penso. Mas não tenho aquela preocupação de voltar para Portugal, isso não.

Cada vez vemos mais jogadores a emigrar. Portugal trata mal os jovens portugueses?
Acho que felizmente isso está a mudar. Dou o exemplo do Benfica, que é o meu clube e fui lá formado, está a apostar em muitos jovens. O Sporting e o FC Porto também, mas acho que as equipas pequenas podiam apostar um pouco mais. Se calhar têm um jovem português e preferem ir buscar um estrangeiro que já seja um jogador feito. Acho que se deve apostar claramente nos jovens jogadores portugueses porque têm sempre muita qualidade, mas precisam de jogar e de sentir confiança, acima de tudo.

Inscreveu-se no Sindicato da Noruega?
Não. Por acaso tivemos uma reunião em Espanha, em Marbelha, porque aqui a Federação todos os anos paga uma semana de estágio a cada equipa da Primeira e da Segunda Liga, e falaram-me dessa hipótese. Mas como estou inscrito no Sindicato em Portugal acho que não vale a pena. Tenho sido sempre muito bem acompanhado.

Qual é a sua opinião sobre o trabalho do Sindicato?
Fiquei extremamente impressionado pela positiva. Era um jogador jovem e estrangeiro num clube que não pagava e estava a criar problemas para rescindir. Expus o meu caso e as coisas foram tratadas com muita calma e facilidade. Foi o que me safou porque não sei se conseguiria tratar das coisas com tanta rapidez e segurança. Pensamos sempre: será que isto está certo? Será que não é preciso fazer mais nada? Mas com o Sindicato basta ligar e quando fui a Portugal disseram-me o que tinha de fazer porque há regras e coisas que nós não conhecemos e são mais importantes do que pensamos. Por isso só tenho a agradecer ao Sindicato a maneira como me ajudou.


Perfil
Nome: Filipe Gabriel Gonçalves Ferreira
Data de nascimento: 26 de outubro de 1996
Posição: Médio
Clubes que representou: Oeiras (formação), Benfica (formação), Casa Pia (formação), Benfica B, NK Istra Pula (Croácia) e Notodden (Noruega).