“Lá fora o jogador português é muito mais valorizado”


O médio português vai jogar na Primeira Liga Cipriota na próxima época, país onde se sente valorizado.  

Joga no ENP, um clube desconhecido para a maioria dos portugueses. Como surgiu essa hipótese?
Surgiu através de um amigo. Na altura também estava livre, ele perguntou-me se tinha algum interesse em ir para o Chipre, o treinador também já me conhecia, já me tinha visto jogar. Ligaram-me, a proposta também foi boa e chegámos a acordo.

Sendo a Segunda Liga do Chipre, teve de pensar duas vezes?
Sim, pensei. Ponderei bastante. Sendo Segunda Liga e sabemos que no Chipre alguns clubes não cumprem, informei-me muito bem junto de jogadores portugueses que estão lá e falaram-me bastante bem do clube. Ainda fui lá ver as condições do clube, como era…. Ponderei bastante mesmo.

É o segundo país estrangeiro no qual vive, depois de ter jogado na Roménia. Tem espírito de aventura para descobrir novos países e culturas?
Sempre quis experimentar sair do conforto. As coisas surgiram, já podia ter saído há mais tempo, houve uma oportunidade para voltar para a Roménia. Mas sempre quis conhecer outras culturas e outros povos.

Sempre se habituou bem à língua, comida, trânsito ou houve alguns percalços pelo meio?
Não. A língua não falo, é difícil, mas toda a gente fala Inglês por isso a comunicação é fácil. Em termos de comida e isso é parecido com Portugal, não houve dificuldades.

E na Roménia, adaptou-se bem?
Na Roménia ainda foi mais fácil porque tinha oito ou nove portugueses no grupo, a equipa técnica era portuguesa, as palestras eram em Português e depois havia tradução para Inglês e Romeno, por isso estava praticamente em Portugal. Estávamos sempre juntos, foi muito mais fácil.

Que diferenças existem entre a Segunda Liga cipriota e a nossa?
Em Portugal é muito mais competitivo. Lá também há jogadores de qualidade, mas aqui é mais competitivo e a qualidade é superior porque lá há um limite de estrangeiros, só podem jogar seis. Há poucos estrangeiros, eles dão prioridade aos jogadores cipriotas, eles também são poucos, e a qualidade não é tanta como aqui. Em Portugal também há mais equipas a lutar para subir de divisão. Aqui tanto podes estar a lutar para subir como para não descer. Lá há três ou quatro equipas mais fortes. Este ano, por exemplo, só podia subir uma porque querem reduzir a Primeira Liga. Foi competitiva, até ao último jogo, mas só havia três equipas a lutarem pela subida.

Como foi conseguir a subida de divisão?
Foi na última jornada, ainda por cima no dérbi contra a equipa rival. Nós começámos mal, com dois empates, depois mudou a equipa técnica, começaram a aparecer as vitórias, passámos para primeiro e eles estiveram sempre na perseguição até ao último jogo. Mas ganhámos e subimos. Ainda soube melhor! [risos]

Os cipriotas ligam ao futebol?
Sim, gostam de futebol. Não são tão loucos como os gregos, mas vivem muito o futebol.

O que é que os cipriotas conhecem de Portugal além de Cristiano Ronaldo e Mourinho?
Ligam muito ao nosso futebol porque para eles o jogador português é sinónimo de qualidade. Ligam muito ao campeonato português, tanto que têm lá muitos jogadores portugueses na Primeira Liga e estrangeiros que passaram por cá.

Já viveu algum episódio caricato nas suas experiências no estrangeiro?
Na Roménia, na festa do título, fomos dar uma volta pela cidade. Íamos num autocarro aberto e aquilo é só cabos pela cidade toda, então tínhamos de estar sempre a baixar-nos para não levarmos com os cabos! Entre os gritos de campeões havia quem gritasse para nos baixarmos. [risos]

Pensa em regressar a Portugal ou prefere continuar a carreira no estrangeiro?
É complicado porque tenho a família aqui e estou lá fora sozinho, gostava de voltar para Portugal, mas sinto que em termos financeiros e de reconhecimento é melhor estar no estrangeiro. Acho que dão mais valor ao jogador português lá fora. Gostava de estar em Portugal e perto da família, mas só penso em voltar se aparecer alguma coisa que valha mesmo a pena. Tenho mais um ano de contrato por isso penso continuar no Enosis.

O que é que leva na mala sempre que vem a Portugal?
Gostava de levar bacalhau. É das coisas que mais sinto falta porque lá não se encontra.

Nasceu em Cabo Verde. Sempre que pode regressa à sua terra natal?
Sim, claro. Tenho lá muita família e sempre que posso dou lá um saltinho. O tempo não é muito, mas sempre que posso vou lá.

Cada vez vemos mais jogadores a emigrar. Portugal trata mal os jovens portugueses?
Não é uma questão de tratar mal, mas lá fora o jogador português é muito mais valorizado do que aqui, desportiva e financeiramente. Lá fora conseguimos independência financeira e objetivos de jogar para ganhar algo ou participar em competições europeias. Dão muito mais valor ao jogador português lá fora do que aqui.

E lá fora sente que cobram mais por ser estrangeiro ou, por outro lado, é mais protegido por isso?
Nós aqui sabemos receber muito bem os jogadores estrangeiros, lá fora não. Estamos quase a invadir o espaço deles e a exigência com os estrangeiros é muito maior. No Chipre só podiam inscrever seis jogadores estrangeiros e o jogador estrangeiro é aquele que vai fazer a diferença, é aquele que vai para resolver. Quando as coisas não correm bem a culpa é sempre do jogador estrangeiro. Lá há muito mais exigência para os de fora do que para os de lá, enquanto em Portugal é ao contrário: protegemos muito e sabemos acolher os jogadores estrangeiros.

Inscreveu-se no Sindicato do Chipre?
Sim, estou inscrito. Basta estar inscrito no Sindicato aqui em Portugal. Cheguei lá, assinei um papel e automaticamente fiquei inscrito.

Qual é a sua opinião sobre o trabalho do Sindicato?
Está a fazer um excelente trabalho, ajuda muito os jogadores, protege os nossos direitos. Penso que está cada vez melhor e só temos de agradecer muito ao Sindicato pelo trabalho que tem vindo a fazer. Acho que está no bom caminho.


Perfil
Nome: Pedro Celestino Silva Soares
Data de nascimento: 2 de janeiro de 1987
Posição: Médio
Clubes: Amora (formação), Sporting (formação), Olivais e Moscavide, Estoril, Estrela da Amadora, Belenenses, CFR Cluj (Roménia), Olhanense, Atlético e ENP (Chipre).