João Pinheiro “A arbitragem é uma carreira apelativa”


João Pinheiro é árbitro há 15 anos e considera que esta é uma profissão pela qual os jovens devem optar.

O videoárbitro é uma ferramenta que veio para ficar, na opinião do juiz de Braga.

Estreou-se na Primeira Liga em 2015. Recorda-se desse momento?
Sim, foi num Académica-Boavista. O jogo não teve grandes casos, foi muito correto. O Boavista ganhou por 2-0.

Como nasceu o gosto pela arbitragem?
O gosto pela arbitragem nasceu com a paixão que tenho pelo futebol. Como não tinha muito jeito para ser jogador, surgiu a oportunidade de ser árbitro, gostei e continuei. Já sou árbitro há 15 anos.

Ser árbitro é apelativo para os jovens?
Penso que sim, a arbitragem é uma carreira apelativa. Nem todos podemos chegar ao nível profissional, tal como os jogadores de futebol, mas temos árbitros de relevância em Portugal. As pessoas veem-nos junto de jogadores conhecidos por todos nós e isso acaba por ser uma experiência enriquecedora.

Sempre conciliou bem a arbitragem com o trabalho?
Consigo conciliar porque tenho colegas que me ajudam, porque se trabalhasse sozinho não tinha a mínima hipótese e tornava-se impossível.

Frequentou a Academia de Arbitragem? A Academia vai fazer a diferença no futuro?
Sim, frequentei pelo menos duas vezes. As semanas em que lá estive com outros colegas foi extremamente importante para a minha evolução, porque são semanas só de arbitragem e penso que é esse o caminho.

Acha que os árbitros também deviam falar no final dos jogos, como fazem os jogadores e treinadores?
Depende um pouco da maneira como as pessoas possam interpretar as palavras dos árbitros, porque no país que temos às vezes são um bocado adulteradas. Uma palavra que dizemos pode ser interpretada de várias formas. Se quiserem ouvir o árbitro enquanto ser humano, que também tem as suas falhas apesar de acertar mais vezes do que erra, e se as pessoas conseguissem entender que um árbitro não assinalou um penálti e explicasse a maneira como viu o lance, penso que poderia ser útil. Neste momento vejo isso como muito difícil.

De 0 a 5, que nota daria à arbitragem portuguesa?
4. Não estamos mal a nível europeu, apesar de não termos nenhum árbitro no Mundial. É uma questão de tempo.

O árbitro é o elo mais fraco do futebol?
Sinceramente, não. O árbitro faz parte do futebol. Nós trabalhamos muito, damos o nosso melhor em todos os jogos, cometemos erros como os jogadores e não considero que sejamos o elo mais fraco. Somos mais um elemento do jogo, que tem sempre polémica e questões que se colocam.

Recebeu as insígnias da FIFA com apenas dois jogos na Primeira Liga. Ficou surpreendido?
Não vou dizer que não fiquei, porque não é normal, mas tendo em conta o contexto da arbitragem no momento e em virtude de não existirem outros árbitros internacionais, perderíamos o lugar de internacional na UEFA, por isso acabou por ser natural.

Ser internacional aumenta a responsabilidade?
Sim, claramente. As pessoas olham para nós de outra forma, somos nove árbitros internacionais em Portugal e temos outra responsabilidade. O facto de ser internacional faz-nos atuar em jogos mais importantes e isso é um acréscimo de responsabilidade que temos de assumir.

É a favor das novas tecnologias no futebol?
Tudo o que nos pode ajudar é sempre bem-vindo. Neste momento temos o videoárbitro, que ajuda a equipa de arbitragem nos lances muito difíceis. Termos um colega que nos pode ajudar e trazer verdade desportiva é sempre importante. Nenhum árbitro quer errar e se pudermos tomar as melhores decisões com a ajuda dos nossos colegas, é isso que nós queremos para o futebol.

O videoárbitro é uma ferramenta que veio para ficar?
Claramente. Vai ser difícil o videoárbitro sair do futebol e da arbitragem, porque é uma ferramenta que é usada poucas vezes, mas sempre que necessário. Se isso vem dar verdade desportiva ao jogo, é porque faz parte do futebol. É uma ferramenta que tem sido bem aceite, mas nós árbitros também temos de trabalhar mais porque faz parte da nossa evolução.

Nos seus jogos já viu jogadores talentosos ao ponto de querer sentar-se na bancada a assistir?
Já. Esse é o lado positivo da nossa função e o que se torna apelativo para os jovens. Temos a probabilidade de assistir a grandes golos e jogadas in loco. Temos uma vista privilegiada que mais ninguém tem. Dá gosto arbitrar e poder assistir a esses momentos.