“Aqui temos de pensar mais rápido, o jogo é muito mais corrido”


O médio brasileiro irá cumprir a oitava época em Portugal, depois de passagens pela Ásia.

Em 2009 teve a primeira experiência no futebol português, com a camisola do Nacional. Chegou a disputar a Liga Europa pelos insulares, mas considera que a última época, que terminou com o regresso à Primeira Liga, foi a mais marcante.

Chegou a Portugal em 2009 para representar o Nacional. Adaptou-se bem ao futebol português?
Sim. Claro que a gente precisa de um período de adaptação, mas adaptei-me muito bem. Vim do futebol chinês, um futebol completamente diferente, e precisei de dois ou três meses para me adaptar bem. Graças ao clube também, por ter depositado confiança em mim e por me ter dado esse período de adaptação. As coisas depois correram muito bem aqui no Nacional.

Qual foi a maior dificuldade na adaptação ao país?
Na verdade, não tive uma dificuldade muito grande. Na China é que senti muitas dificuldades porque era um país completamente diferente. Foi o primeiro país no qual joguei fora do Brasil e os costumes que tinha no dia-a-dia eram diferentes. A cultura e o futebol são diferentes. Lá o treinador tratava os jogadores locais como prisioneiros, eles eram muito limitados, e aí, sim, senti dificuldades. Quando cheguei a Portugal já era mais parecido com o Brasil e não tive tantos problemas para me adaptar aqui.

Quais são as principais diferenças relativamente ao futebol brasileiro?
Aqui o futebol é mais pegado, como costumamos dizer. No Brasil há mais espaço para jogar. Aqui temos de pensar mais rápido, o jogo é muito mais corrido. É essa a diferença que se nota bastante e muitos jogadores estrangeiros sentem esse problema para se adaptarem.

Veio com o objetivo de depois saltar para uma liga mais atrativa ou não fez esse tipo de planos?
Não vim com esse pensamento. Vim para jogar, fazer aquilo de que gosto e ajudar o clube. E, claro, isso seria uma consequência. Todos os jogadores querem crescer, ganhar mais dinheiro, dar uma estabilidade maior à família, mas confesso que não foi a primeira coisa que passou pela minha cabeça. Como disse, estava na China, foram dois anos um pouco difíceis. A minha esposa teve problemas de saúde lá, não conseguiu adaptar-se bem, e eu queria mais tranquilidade do que dinheiro.

Os portugueses são considerados um povo hospitaleiro. Confirma?
Confirmo. Recordo-me como se fosse hoje. Quando chegámos a Portugal, o povo recebeu-nos muito bem, as pessoas do clube e os colegas também nos receberam muito bem, e pudemos sentir-nos em casa, como se estivéssemos no Brasil. O povo português é muito hospitaleiro e recebe muito bem o povo brasileiro e qualquer outro povo que venha para o seu país.

Quando visita o Brasil e volta a Portugal, o que é que faz questão de trazer sempre na mala?
Tenho de trazer feijão! Isso não pode faltar na mala. [risos] O feijão é diferente do de cá. Eu, a minha esposa e os meus filhos gostamos muito, não pode faltar.

Cumpriu a sétima época no futebol português. Qual foi a mais marcante?
Tive épocas importantes aqui, como aquela na qual conseguimos a qualificação para a Liga Europa. Foi uma satisfação enorme para mim e para o clube. Mas a última, ter subido com o Nacional, foi a mais importante. Já conhecia a casa e sabia que o clube não merecia estar naquela divisão. Voltar à Primeira era um objetivo claro do Nacional. Ao mesmo tempo não era fácil, porque a Segunda Liga é muito competitiva e o histórico diz que as equipas que caem da Primeira Liga dificilmente conseguem subir no ano seguinte. Tínhamos essa pressão e, graças a Deus, conseguimos trazer o Nacional de volta. Foi a época mais marcante para mim.

Qual foi o melhor jogador com quem jogou em Portugal?
Joguei com vários jogadores muito bons, brasileiros e portugueses. O Claudemir foi um jogador excecional pela qualidade que tinha, o Candeias foi um excelente extremo com quem joguei, entre outros. E há essa nova vaga aqui no Nacional: Jota, Camacho, Campos, Diogo Coelho…. São jogadores madeirenses com uma qualidade imensa e que jogariam em qualquer lugar do mundo.

Em 2014 deixou o Nacional e passou pelo Chipre, Tailândia e Brasil antes de voltar em 2016, para o Varzim. Fez questão de conhecer novos países e culturas ou as coisas simplesmente aconteceram dessa forma?
Fiz questão. Na altura em que saí de Portugal, o próprio Nacional queria que eu continuasse aqui, havia o interesse de outros clubes portugueses, mas achei que era o momento de sair um pouco e conhecer outros países. Estive oito meses no Chipre, foi uma experiência boa, estive na Tailândia e voltei para o Brasil. Foram experiências de vida, experiências culturais, e gostei muito.

Nos momentos mais difíceis alguma vez equacionou voltar ao Brasil?
Vou ser sincero: nunca tive o desejo de voltar ao Brasil para jogar. Adaptei-me tão bem que a minha primeira opção era sempre continuar a jogar fora do país. Esse foi sempre o meu desejo. Quando estive na Tailândia acabei por ter alguns problemas. O presidente foi preso, o clube foi suspenso durante um ano e tive de regressar ao Brasil porque o mercado português estava fechado. Fui para o Brasília, foi o clube que me abriu as portas. Fiz lá o campeonato estadual, joguei no Dom Pedro e depois tive oportunidade de voltar, para o Varzim.

Que opinião tem sobre o trabalho do Sindicato dos Jogadores no futebol português?
Conheci o Sindicato do Brasil e o português e os dois têm um trabalho fundamental nas nossas carreiras. Vocês dão-nos todo o suporte possível e isso é extremamente importante para nós. Muitas vezes não temos noção daquilo em que o Sindicato nos pode ajudar e quando procuramos aprofundar um pouco abrimos a pestana, como se costuma dizer, e acabamos por aproveitar melhor o trabalho que o Sindicato nos oferece.


Perfil
Nome: Diego de Lima Barcellos
Data de nascimento: 5 de abril de 1985
Posição: Médio
Percurso como jogador: Internacional (Brasil), Santos (Brasil), Figueirense (Brasil), Sport (Brasil), Internacional (Brasil), Marília (Brasil), Guangzhou Evergrande (China), Nacional, AEL Limassol (Chipre), Police United (Tailândia), Brasília (Brasil), Dom Pedro (Brasil), Varzim e Nacional.