“A arbitragem não é apelativa para os jovens”


ARTUR SOARES DIAS, árbitro da Associação de Futebol do Porto, acredita que todos os clubes deveriam possuir ex-árbitros na sua estrutura e que as novas tecnologias poderão conferir outra credibilidade à modalidade.

Qual é o estado da arbitragem em Portugal?
A arbitragem portuguesa, através das várias ações de melhoria que têm sido levadas a cabo em conjunto com a direção da FPF, com a APAF e com o CA da FPF, tem de facto conseguido dar os passos certos para a continuidade da sua melhoria que já se tem verificado há alguns anos esta parte, com presenças nas grandes competições internacionais, que falam por si.

Faz mais de um ano que a arbitragem passou da Liga para a FPF. O balanço é positivo?
A passagem da arbitragem nacional pela Liga foi uma decisão que originou várias melhorias no setor. No entanto, o seu regresso à FPF, graças à visão do atual Presidente da FPF, tem sido indiscutivelmente uma mais-valia, que estou seguro que, num futuro próximo, originará mudanças e evoluções épicas na arbitragem Portuguesa.

Entretanto a profissionalização dos árbitros entrou em vigor e o Artur Soares Dias é um dos nove árbitros profissionais. Satisfeito com esta medida? De que forma vai melhorar ainda mais a sua arbitragem?
A profissionalização da arbitragem não é nada mais que a criação de uma estrutura que apoie o desenvolvimento pessoal, mental e físico dos árbitros, que desta forma permitirá que os mesmos estejam mais disponíveis para a sua função. Por outras palavras, já imaginou o que seria um jogador profissional da I Liga lesionar-se e não ter nenhum fisioterapeuta para o recuperar? Já imaginou o que seria um jogador profissional da I Liga não ter um treinador que o corrigisse na sua movimentação? Já imaginou o que seria um jogador da I Liga não ter uma estrutura que o alertasse e o preparasse para o jogo do próximo fim de semana? Por último, já imaginou o que seria um jogador da I liga acabar o seu trabalho às 18h num escritório e ter jogo às 21h num qualquer estádio do nosso País?

Numa escala de 0 a 5 que nota daria à arbitragem portuguesa?
A arbitragem Portuguesa está bem e recomenda-se. No meu entender, julgo que existem pontos de melhoria, como sempre irão existir, mas nota 4 daria sem qualquer dúvida.

Na sua opinião, quais são os grandes desafios da arbitragem e que medidas devem ser implementadas para melhorar o setor?
O aumento do ritmo de jogo, a melhor qualidade técnica dos jogadores, o investimento realizado na formação dos jogadores e o maior mediatismo e escrutínio dos jogos através da TV constituem desafios a que a arbitragem deverá adaptar-se, recorrendo às novas tecnologias. Assim os árbitros dotam-se de ferramentas que permitam dar respostas com fiabilidade aos desafios que surgem.

É a favor da introdução das novas tecnologias no futebol?
Claramente. Somente salvaguardo que a introdução das mesmas não deverá originar interrupções e a alteração do ritmo de jogo, que é no meu entender o que maior interesse traz a este desporto.


Como analisa a relação entre as associações de classe (árbitros, jogadores e treinadores)?
A congregação de energias com o objetivo da melhoria do futebol é o caminho a percorrer em direção ao sucesso. Tenho conhecimento que já se iniciaram contactos nesse sentido mas ainda existe um longo caminho a percorrer, que estou seguro que irá ser realizado.

Como tem visto a atuação do SJPF no futebol português?
Pelas ações que tenho verificado, posso concluir que tem realizado um bom trabalho na defesa dos seus associados, pautando-se sempre pelo equilíbrio e sensatez que julgo serem características essenciais em qualquer processo.

Como é que deve ser uma relação árbitro/jogador?
Entendo que a relação entre árbitro e jogador deverá ser de cordialidade e respeito, de forma a que o futebol seja valorizado.

Ao longo dos anos tem notado se os jogadores têm mudado o seu comportamento para com os árbitros?
De facto o perfil tipo do jogador profissional tem verificado uma evolução positiva, devido à cultura, formação e até educação dos mesmos. Esta evolução tem sido um garante da melhoria individual de cada um dos jogadores, mas também permite uma melhor relação com todos os intervenientes do espetáculo futebolístico.

Seria positivo que todos os clubes tivessem na sua estrutura ex-árbitros para auxiliarem jogadores, técnicos e dirigentes?
No meu entender seria uma mais-valia que originaria, por ventura, pontos diretos na tabela classificativa. Verifico em cada fim de semana, que existem vários erros cometidos pelos jogadores e pelas suas estruturas, que custam pontos diretos na tabela classificativa decorrente do desconhecimento de matérias como as leis de jogo e os regulamentos de competições. Estes erros seriam facilmente colmatados com um profissional da arbitragem na estrutura de cada uma das equipas.

Ser árbitro é uma atividade apelativa para os jovens?
Dada a enorme pressão existente, da falta de condições no início da carreira e de formação e a inexistência de acompanhamento inicial da carreira, entendo que esta atividade não é muito apelativa para os jovens.

Nome: Artur Manuel Ribeiro Soares Dias
Idade: 34 anos
Associação: Porto
Profissão: Diretor de Recursos Humanos