“Encarei sempre o futebol de forma séria”


A paixão da jogadora pelo futebol.

Aos quatro anos já jogava com os rapazes e foi convidada para praticar futsal. Com 18, Mónica Mendes mudou-se para os Estados Unidos da América, país no qual estudava e jogava futebol.

Já esteve no Chipre e na Noruega e hoje representa o FC Neunkirch, da Suíça.

Como nasceu o gosto pelo futebol?
Com apenas quatro anos comecei a jogar na equipa da minha escola, na qual só havia rapazes e bem mais velhos que eu. E, além disso, o meu pai era professor de futebol em diversas escolas e sempre que podia ia com ele.

O futebol foi a primeira opção?
Nasci com dois desportos no coração: o karaté e o futebol. O gosto pelo karaté foi logo estimulado ainda na barriga da minha mãe, o futebol veio depois.

Quando começou a praticar a modalidade sabia da existência do campeonato feminino?  
Quando comecei a jogar não era comum haver muitas rapari­gas nas equipas da minha idade. Por isso, sempre joguei com rapazes até aos 12 anos. Acompanhava a Seleção na Algarve Cup e lembro-me que ficava agarrada à TV. No entanto, não ti­nha conhecimento do campeonato nem das equipas da altura.

Como surgiu a oportunidade de jogar futebol?
Tudo começou no Colégio Santa Maria, onde estudava e onde o meu pai era professor de futebol. Aí joguei com rapazes mais velhos desde os meus quatro anos até mudar de escola. Nor­malmente jogávamos contra equipas federadas de rapazes. Num desses torneios, o treinador da equipa de futsal de rapa­zes foi falar com os meus pais e joguei futsal pela Sociedade Recreativa do Bairro da Bela Vista. Depois levaram-me a trei­nos de captação em equipas femininas onde acabei por ficar, nomeadamente no Beira-Mar Clube Atlético de Almada.

Desde que começou, levou sempre o futebol a sério?
Sim. No início não pensei em ser profissional mas sempre tive a mentalidade de ir treinar para me divertir e evoluir. Eu prati­camente jogava futebol em todo o lado, com balizas de tijolos ou pedras no meio da estrada, no jardim, na praia, no pavilhão, dentro de casa, na varanda… Basicamente, sempre que podia.

Foi para os Estados Unidos com apenas 18 anos. Foi uma decisão arriscada?
Sim, exactamente dois meses depois de fazer 18 anos. Foi uma decisão tomada com pés e cabeça. Mas teve o seu risco porque não conhecia ninguém lá e era algo novo para mim. Não sabia como ia ser a experiência nem o que esperar.

Saiu de Portugal com uma bolsa de estudo. Como foi?
Na altura jogava pela Seleção de Sub-19, no 1.º Dezembro e estava no Secundário. O treinador da minha universidade ti­nha um amigo português que conhecia um pouco do futebol feminino e algumas pessoas em Portugal. Ele mesmo entrou em contacto comigo e depois comecei a falar com o treinador dos EUA. Visto que também tinha boas notas na escola, con­segui a bolsa para jogar e estudar ao mesmo tempo.

Formou-se em que área?
Human and Health Performance – Kinesiology.

É difícil conciliar os estudos com o futebol?
Não é fácil, mas não é impossível. Tudo tem a ver com a dedi­cação e a organização do tempo. Quando se quer muito algo, consegue-se sempre arranjar tempo. Por isso, o segredo está simplesmente na atitude com que a pessoa encara o desafio.

Foi campeã nacional por três vezes pelo 1.º Dezembro. É uma equipa que faz falta ao futebol feminino?
Pela sua história, sim. Mas, como tudo na vida, há ciclos, e neste momento há outras equipas que também querem fa­zer mais e melhor.

Representar a Selecção A era o seu maior objectivo?
Sim. Tenho outros objectivos, que são sonhos de criança, mas nada se iguala a representar o meu país no patamar mais alto.

Esteve no Chipre, no Apollon. Recentemente um jo­gador português foi abandonado pelo Ermis. Essas situações também acontecem no futebol feminino?
Fico bastante triste que isso tenha acontecido. Só posso falar daquilo que vivi no Apollon Ladies e nos meus clubes anterior­mente, e eles cumpriram sempre com o prometido.

Como surgiu a oportunidade de ir para o Valerenga?
Já tinham entrado em contacto comigo ainda quando estava nos EUA, já tinham referências minhas. Até que surgiu nova­mente a oportunidade de vir para a Noruega e aceitei.

Quais as principais diferenças entre o futebol femi­nino em Portugal e na Noruega?
Primeiro, as condições de trabalho. Aqui treinamos entre 8h/10h por semana, mais o jogo. Depois a intensidade, aqui as jogadoras são mais físicas. Isso é muito notório nos jogos por­que há mesmo muito poucas paragens durante os 90 minutos.

O que falta ao futebol feminino português para se profissionalizar?
Faltam melhorar as condições dadas aos clubes. Falta tam­bém a entrada dos chamados clubes grandes. Assim que um clube grande tiver futebol 11 feminino haverá mais apoios e mais visibilidade, o que chamará mais jogadoras.

Quem é o seu ídolo?
Os meus ídolos na vida são sem dúvida os meus pais. No fu­tebol, tenho amigas, no verdadeiro sentido da palavra, que jo­gam com frequência Mundiais e Olímpicos, e admiro-as muito por tudo o que fazem para chegar a um patamar tão alto.

Qual é o seu maior sonho enquanto jogadora?
O meu maior sonho passa por levar as cores do nosso país o mais longe possível no mundo do futebol feminino.

Lá fora jogou nos EUA, Chipre e Noruega. Admite vir a jogar noutro país? Qual é, para si, a melhor liga?
Ainda sou nova e isso pode acontecer. Para mim a liga norueguesa é das melhores pelo simples facto de que não há nenhum jogo ganho antes de ser jogado.

Como tem visto a actuação do Sindicato?
Fico muito feliz que hoje haja um Sindicato que se preocupa, e muito, com a jogadora. Têm desenvolvido um óptimo traba­lho no que toca a apoiar-nos, ao mesmo tempo que se preo­cupam realmente com as nossas condições de trabalho nos clubes. Procuram saber a realidade para tentar melhorar e criar mais oportunidades às jogadoras portuguesas.


Perfil
Nome: Mónica Soraia Amaral Mendes
Data de nascimento: 16 de Junho de 1993
Posição: Defesa
Clubes que representou: Beira-Mar Almada, 1.º Dezembro, Brownsville Scorpions (EUA), DC United (EUA), Apollon Limassol (Chipre), Valerenga (Noruega) e FC Neunkirch (Suíça).

Foto: José Paulo/FPF.