“Não me sinto especial”


A jogadora do SC Braga foi a autora do golo frente à Roménia, que vai permitir a Portugal marcar presença pela primeira vez numa fase final de um Europeu de Futebol Feminino. 

Atualmente ao serviço do Sporting de Braga, a jogadora aborda vários assuntos, sempre com humildade e com muito “boa onda”.

Como nasceu o seu gosto pelo futebol?
Nasceu de forma natural. Como os meus amigos jogavam à bola, e para continuar a conviver com eles, comecei a jogar.

Quando começou a praticar a modalidade sabia da existência do campeonato feminino?
Apenas queria jogar e não pensava em mais nada. Só pensei nisso seriamente quando deixei de poder jogar numa equipa mista devido à idade e à subida de escalão.

Desde que começou a jogar, levou sempre o futebol a sério?
Sim, sempre encarei o futebol de forma séria. Talvez por ser rapariga e ter de provar que tinha capacidade para jogar com os rapazes, mas também porque nem a “brincar” gosto de perder.

Como correu a experiência no FC Barcelona?
Teve um sabor agridoce, pois lesionei-me no meu último jogo pelo Clube Albergaria e a lesão era mais grave do que se supunha. No entanto, o FC Barcelona cumpriu o contrato comigo. Fui sujeita a duas intervenções cirúrgicas a ambos os joelhos, a nível ligamentar, uma para debelar a lesão sofrida e a outra de prevenção para evitar uma possível lesão futura. Devido a essa situação, estive em recuperação a época toda e não me cheguei a estrear pelo Barça. Ao nível do clube em si, estamos a falar de um dos maiores do mundo, onde nada falta!

Teve a oportunidade de se cruzar e interagir com os "craques" da equipa masculina?
É óbvio que, num ambiente daqueles, acabamos sempre por nos cruzar com esta ou aquela figura emblemática do clube. Tive a felicidade de poder viver por dentro num clube desta dimensão, partilhar momentos com algumas referências mundiais e vê-los jogar ao vivo inúmeras vezes. Tirando as lesões foi tudo de bom.

O que sentiu na estreia pela Seleção Nacional A?
Responsabilidade. Não vou dizer que não era um momento esperado e de felicidade, mas, devido ao momento em que aconteceu, esses sentimentos passaram para segundo plano e o que realmente senti foi mesmo o de dever, responsabilidade e o de poder retribuir a confiança depositada em mim num momento e num encontro tão importante!

A Andreia ficará para a história como a jogadora que marcou o golo que colocou Portugal pela primeira vez na fase final de um Europeu. O que sente ao ser reconhecida dessa forma?
É verdade que o meu nome ficará ligado para sempre a esta conquista até agora inédita da Seleção e também na minha história de vida. No entanto, não me sinto “especial” ou mais do que as outras que estiveram em campo, no banco, em casa, as não convocadas, as que fizeram parte desta caminhada de anos que culminou com um remate meu que valeu um golo e o apuramento para o Europeu. Agora, as pessoas podem recordar esse momento como entenderem, mas embora eu tenha feito o golo, não se devem esquecer de todos e todas que trabalharam para que esse golo acontecesse…

Com que ambição parte para o Europeu de futebol feminino?
Desde já ainda não estou na convocatória final e para que isso aconteça tenho de trabalhar muito no meu clube e ter a sorte de evitar lesões e mesmo assim a decisão caberá sempre à equipa técnica da Seleção que avaliará se poderei ser útil aos propósitos da mesma. Se essa convocatória acontecer, é óbvio que além dos objetivos coletivos da equipa também tenho objetivos individuais que partem logo do princípio de poder participar, ter minutos de jogo numa competição deste calibre e a partir daí logo se vê e logo poderei definir outros objetivos.

Como surgiu a oportunidade de representar o SC Braga?
Após saber que o FC Barcelona não iria renovar comigo, por não estarem certos do meu estado físico e de como iria estar ao voltar à competição, as coisas acabaram por acontecer e assinei pelo SC Braga, que foi a equipa que demonstrou um interesse imediato em me ter no plantel.

O objetivo passa pela conquista do título de campeão nacional?
Inicialmente penso que o objetivo era formar uma equipa competitiva para poder lutar pelas competições nacionais. Com o início do campeonato, e com o passar das jornadas, penso que já demonstrámos que somos competitivas e que temos legitimidade para lutar pela Liga “Allianz”.

Quem são os seus ídolos (futebol masculino e feminino)?
No masculino, e como não poderia deixar de ser, Cristiano Ronaldo e no feminino a norte-americana Carli Lloyd.

Qual é a melhor liga feminina?
A liga de eleição neste momento é a alemã.

Como gostaria de ser lembrada no futebol feminino?
Como alguém que seguiu o seu sonho e conseguiu concretizá-lo, que cumpriu aquilo a que se tinha proposto e que foi feliz nesse percurso. Enfim, uma jogadora à imagem daquilo que sou como pessoa. Simples, sociável e de sorriso fácil: “boa onda”. [risos]

O que pretende fazer quando terminar a carreira de jogadora?
Nesta fase estou dedicada totalmente ao futebol e tenho o privilégio de ser profissional. No entanto não descuro os estudos, pois o futebol não dura para sempre e os salários do feminino não se equiparam ao masculino, portanto, há que pensar no futuro! Aqui em Braga vou terminar algumas unidades em falta para completar o secundário, após isso e mediante o que o futuro me possa reservar a nível futebolístico, penso em completar um curso superior. Biologia marinha é algo que me atrai.

Que ideia tem do trabalho desenvolvido pelo Sindicato dos Jogadores em prol do futebol feminino?
Só posso elogiar e dizer bem, pois nestas últimas épocas têm trabalhado em prol do futebol feminino, da sua imagem, da sua visibilidade e credibilidade e todas as vossas iniciativas têm projetado o futebol feminino português para um outro nível, mais equiparado ao do masculino, com os mesmos direitos e deveres. Espero que assim continuem pois só unidos podemos fazer com que esta modalidade cresça e se desenvolva. Se cada um fizer um pouco mais a cada dia, juntos seremos mais fortes na projeção definitiva do futebol feminino em Portugal.

Perfil
Nome: Andreia Alexandra Norton
Data de nascimento: 15 de agosto de 1996
Posição: Avançada
Clubes que representou: UD Oliveirense, Cesarense, Clube de Albergaria, FC Barcelona (Espanha) e SC Braga.

Foto: FPF.