“Tento dar o exemplo, ser um jogador sério e profissional”


O defesa do Moreirense gosta de dar o exemplo e revê-se em ex-capitães como Castro e Rui Duarte.

Mereceu a braçadeira de capitão. Como foi eleito para o cargo?
Penso que foi uma escolha do treinador na altura, do Pepa. No meu primeiro ano no Moreirense fui um dos sub-capitães, depois no segundo ano, com a saída do capitão da altura, passei a ser eu e o Marcelo Oliveira. E este ano mantive-me.

Já tinha sido capitão noutros clubes?
Não, que me lembre não. Só nas camadas jovens, também era um dos capitães do Moreirense.

Sente que impõe uma liderança natural no balneário?
O meu tipo de liderança é mais dando o exemplo, não é tanto por andar em cima dos jogadores nem repreender verbalmente ou algo do género. Tento mais dar o exemplo, é a minha forma normal de estar. Tento ser uma pessoa correta e um jogador correto dentro do balneário e dentro de campo. Passa mais por aí.

Há algum capitão que tenha como exemplo?
Felizmente, ao longo dos anos fui conhecendo companheiros de equipa e capitães que foram exemplos para mim. Fui tentando adquirir algumas dessas características que fui vendo nos outros capitães e tentei impô-las na minha imagem como capitão. Por exemplo, no Moreirense tive o Castro, que era um líder dentro do balneário, e no Olhanense tive o Rui Duarte, outro grande exemplo para mim como capitão. Hoje é treinador e está a ser bem-sucedido, e como homem era um exemplo também.

Sendo capitão e um jogador tão experiente, que valores transmite aos mais jovens?
Tento dar o exemplo, ser um jogador sério e profissional. Às vezes os jogadores mais jovens não estão tão automatizados para aquilo que é preciso um jogador ser, o modo de estar na equipa, também é preciso respeitar os valores do clube, ser responsável. Sei que por vezes há jogadores mais jovens que não têm tanta atenção a esses detalhes e pisam um bocado o risco. Eu tento só indicar aquilo que acho que é o mais correto e aquilo que também é melhor para eles e para o clube.

Como capitão, alguma vez precisou de chamar um colega à atenção de uma forma mais autoritária?
Sim, já aconteceu, infelizmente. É normal. Nem sempre só a dar o exemplo as coisas resultam e às vezes é preciso chamar um ou outro jogador à atenção. Mas são situações normais, que acontecem em qualquer grupo. Há jogadores que, mesmo não sendo capitães, por vezes têm esse papel porque sabem que a vida de um jogador tem de ser levada desta forma, com responsabilidade.

Ter de assumir esse papel é uma situação ingrata ou é natural?
Sendo capitão já há algum tempo acaba por ser uma coisa natural.

Do que é que os capitães costumam falar quando trocam galhardetes? Muitas vezes vemos os jogadores e o próprio árbitro a rir.
É um momento de descontração. Normalmente aquilo que desejo aos meus colegas é que seja um bom jogo para toda a gente e, acima de tudo, que ninguém se magoe. Como representantes da equipa naquele momento, acho que é aquilo que mais podemos desejar uns aos outros.

E costuma haver algum tipo de picardia saudável com o outro capitão, algumas bocas na brincadeira?
No caso de já nos conhecermos nem é pelo facto de sermos capitães, é mesmo por já nos conhecermos e sermos colegas de profissão. Nesses casos há sempre alguns momentos mais de descontração.

Os árbitros costumam ser mais tolerantes com os protestos dos capitães?
Depende do modo como o capitão protesta, mas penso que sim, há sempre mais alguma tolerância. O capitão tem de dar a cara pela equipa e permitem mais ao capitão que possa desabafar. Têm outra abordagem.

Alguma vez foi expulso por palavras enquanto capitão?
Não. Felizmente, nunca. [risos] Sempre me consegui conter.

Jogou duas épocas na Polónia. Notou muitas diferenças em relação aos árbitros?
Não. Talvez possam ser um pouco mais autoritários, mais fechados, mas não foi assim uma diferença muito grande.

Do que é que mais gostou na liga polaca?
Gostei muito do ambiente nos estádios, da forma como vivem o futebol, sempre imensa gente nos estádios a apoiar as equipas, desde os clubes grandes aos clubes pequenos. Depois isso também passava para o dia-a-dia: as pessoas reconhecem os jogadores e vão falar com eles, tirar fotografias… Acima de tudo, do que gostei mais foi da maneira como vivem o futebol. As pessoas são mais fechadas, mais frias, mas quando tem a ver com o futebol libertam-se um bocadinho e mostram o seu calor humano. Foi uma das coisas que me surpreendeu e foi bastante positivo.

Quais são as principais diferenças em relação ao futebol português?
É um jogo mais físico, preocupam-se mais com a velocidade, com a força e com a intensidade, mas depois, claro, também têm lá muitos jogadores com muita qualidade técnica. Em Portugal o jogo é bastante mais tático do que lá, mas é um campeonato bastante interessante.

E ganhou algum hábito da cultura deles? Algum prato que agora cozinhe, por exemplo?
Não, por acaso não. [risos] Lá a comida também é bastante boa, mas não fiquei com nenhuma receita que agora faça em casa. As sopas lá são muito boas. Bastante calóricas, mas muito boas. Por acaso houve um hábito ao qual me habituei enquanto lá estava, mas depois vim para Portugal e perdi-o, que era jantar muito cedo. Lá às cinco da tarde já é de noite, então as pessoas jantam muito cedo. Às vezes, às seis da tarde já estava no restaurante a jantar, ou em casa, mas não trouxe esse hábito comigo.

Seguiu-se o regresso ao Moreirense e na época passada conquistaram a Taça da Liga. Já tinha conquistado uma taça e uma supertaça na Polónia, mas a Taça da Liga foi especial?
Sim, porque no fundo foi o primeiro troféu desta dimensão que consegui em Portugal, ainda por cima pelo Moreirense, que é um clube que para mim significa imenso. Fiz lá a minha formação quase toda, só estive depois dois anos no Vitória de Guimarães, foi a minha casa enquanto era mais jovem. E poder oferecer, juntamente com os meus colegas e todo o staff do Moreirense, este troféu às pessoas de Moreira de Cónegos realmente foi um momento especial para mim.

Como tem visto a atuação do Sindicato dos Jogadores no futebol português?
Penso que tem um papel bastante importante. É importante os jogadores terem alguém que os possa ajudar e acompanhar em diversas situações e cada vez mais se verifica que o Sindicato intervém em assuntos que são importantes para os jogadores.


Perfil
Nome: André Micael Pereira
Data de nascimento: 4 de fevereiro de 1989
Posição: Defesa
Percurso como jogador: Moreirense (formação), Vitória de Guimarães (formação), Moreirense, Olhanense, Zawisza Bydgoszcz (Polónia) e Moreirense.