“O treinador deve ser honesto com os jogadores”


Deu os primeiros passos como técnico principal no Estágio do Jogador, organizado pelo Sindicato.

Cinco meses depois, Silas, que tem Jorge Jesus como principal referência, assumiu o comando do Belenenses, da Primeira Liga.

Como é que nasceu a paixão pelo treino?
Está ligada à paixão pelo futebol como jogador. Desde miúdo que sempre dava muitas indicações aos meus colegas nos jogos e foi algo que nasceu na escola, juntamente com a paixão de jogar.

Esperava chegar tão rápido à Primeira Liga?
Obviamente que não. Estava nos meus planos chegar à Primeira Liga, mas não esperava que fosse tão rápido. Tive alguma sorte porque fui contratado para treinar a futura equipa B do Belenenses, mas com o conhecimento que o presidente foi tendo de mim, achou que me deveria dar uma oportunidade. A experiência no Sindicato também contribuiu para isto, porque nos correu bem e a palavra foi passando.

Na Primeira Liga 2017/18 não havia treinadores estrangeiros. É sinal do valor do treinador português?
Sim. Há muito tempo que os dirigentes perceberam que em Portugal há bons treinadores. Há gente com muito valor e é natural que não haja estrangeiros, visto que temos dos melhores treinadores espalhados pelo mundo. Para isso, também contribuiu muito o sucesso de José Mourinho, que teve um impacto grande naquilo que é a imagem do treinador português.

A relação treinador/jogador tem mudado ao longo dos anos?
A relação não mudou muito. Cada treinador é um caso, há uns que são mais próximos dos jogadores, outros mais distantes, mas isso também era assim antigamente.

Qual é a principal virtude que um treinador deve ter para conquistar um grupo de trabalho?
Honestidade. Além disso, o conhecimento. Os jogadores sentem logo se nós, treinadores, sabemos daquilo que estamos a falar.

Enquanto treinador, tem alguma referência?
Nós acabamos sempre por ter muitas referências, porque ‘apanhamos’ um pouco de cada treinador com quem trabalhámos. Jorge Jesus foi o que me marcou mais porque trabalhei com ele dois anos e nunca estive tanto tempo com um treinador no futebol profissional.

Muitos jogadores, quando terminam a carreira, tornam-se treinadores. O atual Programa Nacional de Formação de Treinadores (PNFT) beneficia quem teve uma carreira desportiva?
Não. No meu caso, por exemplo, o facto de ter tido uma carreira desportiva não me ajudou em nada porque joguei até muito tarde e durante esse período não podia tirar o terceiro nível, porque existe a regra de ter de treinar há dois anos para conseguir esse grau, quando já tenho o segundo nível há mais de dez anos.

Os treinadores que foram jogadores têm mais aptidões para gerir um grupo de trabalho?
As experiências que temos no dia-a-dia beneficiam-nos porque depois vamos aplicá-las, mais tarde, quando formos treinadores. Mas o facto de ter sido jogador não me garante ser melhor treinador, a este nível. Nos escalões de formação, penso que é importante o treinador ter sido jogador porque estamos a falar de questões básicas como o controlo de bola, o passe, o remate e isso é algo que se aprende com a prática.

A classe dos treinadores é unida?
Neste momento ainda não tenho uma opinião formada sobre isso porque comecei a treinar há pouco tempo, embora me pareça, de forma superficial, que a classe dos treinadores não é tão unida como a dos jogadores.

Teve a possibilidade de comandar a equipa do 15.º Estágio do Jogador, do Sindicato. Foi uma experiência enriquecedora?
Sim, foi muito. É necessária uma grande capacidade de improviso e de adaptação. Foi pena ter sido tão pouco tempo, devia ter durado mais dois meses para que pudesse viver ainda mais experiências deste género. No Estágio preparamos uma equipa na véspera de um jogo e no dia a seguir há dois ou três jogadores que assinaram por um clube e já não são opção e temos de alterar a estratégia definida. Sem dúvida que voltaria a repetir esta experiência.

Nos últimos tempos, têm sido vários os casos de suspeição sobre os jogadores, o que já levou a uma tomada de posição do Sindicato e a reuniões com as entidades que regem o futebol português. Qual é a sua opinião sobre este tema?
É lamentável. Os únicos que não contribuem em nada para isto são os jogadores e acabam por ser aqueles que são visados, porque se cometem um erro vem alguém dizer que estava comprado. Quando eu jogava, um jogo com uma equipa grande era uma oportunidade para mostrarmos o nosso valor, mas hoje em dia é colocada em causa a dignidade do jogador quando comete um erro.

Até onde gostaria de chegar como treinador de futebol?
Não penso muito nisso. O meu objetivo é preparar o dia-a-dia e os jogos que se seguem. Todos nós somos ambiciosos, mas estou muito contente no Belenenses. Nunca imaginaria que oito meses depois de ter terminado a carreira de jogador estaria a treinar um clube grande. Era uma das minhas metas poder treinar o Belenenses, porque é um clube onde joguei quatro anos.


Perfil
Nome: Jorge Manuel Rebelo Fernandes (Silas)
Data de nascimento: 1 de setembro de 1976
Clubes como treinador: Belenenses.