O licenciamento de clubes


A cruzada do Gil Vicente contra os incumpridores e pela igualdade desportiva, independentemente dos motivos e do timing, aplaude-se e suscita reflexão.

Existem clubes/SAD que, aproveitando-se da ausência de regras adequadas quanto ao acesso, controlo e sancionamento, ofendem a integridade das competições e o direito ao salário dos jogadores.

Sendo o futebol uma actividade empresarial regulada, que gera milhões, com impacto social, é aceitável que os infractores sejam beneficiados e coloquem em causa a credibilidade da competição? Não.

Se é certo que devemos ajudar os que, pontualmente, têm dificuldades, não é menos verdade que devem ser punidos e erradicados os que, reiteradamente, incumprem. Fazem-no escudados em clubes históricos que vêem o seu património delapidado. Acresce que não pagando, beneficiam de todas as vantagens, nomeadamente da actividade do jogador e da sua imagem, bem como dos demais proveitos. Inaceitável.

Como é então possível que este espectro atravesse as competições e as entidades competentes, Governo, FPF e, em particular, a LPFP e os clubes não ponham termo a este calvário? Na minha opinião, o futebol ganhou um estatuto que ninguém ousa questionar; porque este Governo, tendo maioria, não teve coragem; porque a LPFP na verdade não é entidade organizadora mas sim patronato; porque os clubes mais poderosos têm preferido o silêncio; e porque os clubes beneficiam, em diferentes momentos, deste regime escandaloso.

Há quem hipocritamente diga que a culpa é dos jogadores! Infelizmente, salvo em alguns casos, são vítimas. Dependem do salário, precisam do emprego, sofrem represálias, estão fragilizados. O ónus da prova de pagamento dos salários compete à entidade patronal. Não compete ao jogador. Ponto. O contrário é inverter esse ónus.

Quanto aos jogadores que nunca passaram por esta situação, podem e devem ser solidários, porque um dia lhes poderá acontecer e porque todos os dias perdem o respeito que outros levaram anos a conquistar.

Distinguindo entre as instituições, clubes e dirigentes que merecem respeito e confiança, exige-se ao futuro Governo, à FPF, em especial à nova direcção da LPFP que em conjunto com o SJPF garanta um modelo eficaz.

Não fazer nada potencia, ainda, as más práticas, por exemplo, os resultados combinados. Um tema que, oportunamente, abordarei.

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