Zona de conforto


O caso dramático de José Tiago, jogador português de 24 anos vítima de mais um atropelo de um clube cipriota, o Ermis FC, e um agente grego, George Eleftheroudis, exige acção.

Quanto mais exposição gera o futebol, sobretudo a nível financeiro, mais interesse suscita. Muitas das pessoas que se interessam não têm quaisquer escrúpulos, não se importam de arriscar e ultrapassar as normas legais, regulamentares e de conduta para fazer um negócio.

Há boas práticas, mas são cada vez mais os jogadores enganados e abandonados. A nós preocupa-nos, em particular, os mais jovens, mais frágeis, que o nosso país enjeita, obrigando-os a sair da “zona de conforto”.

Há um sentimento de impunidade e irresponsabilidade em muitos dirigentes e empresários que acham que vale tudo porque quem deveria dar garantias, nomeadamente o Estado, demitiu-se das suas responsabilidades. E apesar da FIFA, FIFPro, UEFA e EPFL, no plano internacional, e a FPF e LPFP, no plano nacional, aprovarem regulamentos e implementarem circulares, os jogadores não estão protegidos. Não há vontade, fiscalização, nem sanções graves para os prevaricadores. Algumas pessoas representam vários interesses (de federações, clubes, treinadores, jogadores, agentes) e quando têm de tomar posição estão comprometidas.

Este episódio aconteceu no Chipre, mas repete-se todos os dias, na Roménia, na Grécia, na Rússia ou em Portugal. Desculpem a expressão mas é preciso denunciar estes abutres. É disso que estamos a falar, de bandidos e grupos organizados que não respeitam direitos fundamentais.

Os jogadores têm de ser mais activos e esclarecidos. Devem saber quem são as pessoas que os abordam, se são idóneas e conhecidas no meio, se o clube tem ou teve problemas e receber previamente as condições contratuais por escrito. Quem vai para o estrangeiro deve assegurar condições financeiras para a sua estadia. No momento de assinar deve exigir que o contrato seja feito numa língua que entenda e deve SEMPRE ficar com uma cópia do mesmo e dos documentos que assina. Não deve NUNCA entregar a alguém os seus documentos de identificação pessoal, CC ou passaporte.

Podemos continuar a assistir “de cadeira” a estas histórias de desespero ou podemos agir. O desporto é de todos e para todos. É nosso dever protegê-lo.

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