Racismo inconsciente


No último sábado assistimos, em Portimão, pela televisão, a um lamentável episódio no qual o treinador do Portimonense, José Augusto, proferiu insultos racistas dirigidos ao jogador Mama Baldé, do Sporting B. Independentemente de ter existido ou não intenção de ofender, este tipo de comentários deve liminarmente merecer o nosso repúdio e condenação. 

Tenho o maior respeito pelo treinador. Se a sua atitude foi inconsciente deve, primeiro, tornar-se consciente do seu comportamento e, segundo, pedir desculpas públicas. Estou certo que, se ainda não o fez, o fará! Há quem procure desvalorizar estes comportamentos, sem se aperceber que, ao fazê-lo, está a legitimar estas más práticas desportivas e sociais! É inaceitável.

Na verdade, por amizade e simpatia, há quem veja nalguns comentários racistas manifestações de carinho e respeito. Há quem os considere próprios de um jogo de futebol. À semelhança do marido que bate na mulher e diz que é por amor! Esta atitude desculpadora é cultural, está enraizada e tem cobertura, é por isso que é importante denunciá-la e combatê-la. Todos os dias. Basta.

É um dever de cidadania. Se temos uma relação de amizade, há uma responsabilidade acrescida. No desporto, pela sua dimensão mediática e enquanto modelos para os mais jovens, temos uma dupla responsabilidade. Pelo que não podemos aceitar este tipo de comentários, como se nada fosse connosco. Importa erradicá-los e contribuir para uma sociedade cada vez mais tolerante. 

Não pretendo dar lições de moral a ninguém! Move-me sobretudo a minha consciência. No SJPF promovemos a ‘Semana Contra o Racismo e a Violência no Desporto’, que vai para a 14.ª edição e foi seleccionada pela Agência Europeia para os Direitos Fundamentais para integrar um ‘handbook’ de boas práticas na UE. Alguns dirão que é pouca coisa! Seja, mas fazemos! 

Felizmente, no desporto, em Portugal, os bons exemplos são a regra. Mas isso não deve abrandar a nossa atitude. Devemos mobilizar todos os agentes e exigir um desporto que promove valores, multicultural, que educa, que integra, onde todos contam e todos são iguais. Especialmente, no actual momento em que a Europa e o Mundo vivem problemas acrescidos.

Artigo de opinião publicado em: jornal Record (9 de Fevereiro de 2016)

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