Propostas e galhardetes


As últimas semanas têm sido marcadas pela publicitação de propostas de alteração à regulamentação da Liga, promovidas pelos clubes em forma de "troca de galhardetes".

Volto a um assunto que abordei em diversas ocasiões para concluir, uma vez mais, que a discussão tem perdido seriedade, afastando-se dos órgãos e dos grupos de trabalho onde deveria ser realizada. Paulatinamente, a regulamentação desportiva é utilizada para a medição de forças no domínio público, com inegável prejuízo para a implementação de quaisquer alterações. Falta responsabilidade e elevação no discurso.

Sem prejuízo dos contributos dirigidos à organização que tutela as competições profissionais, vindos a público com uma facilidade assustadora, é na Assembleia-Geral da Liga que se fará o último escrutínio sobre a matéria, o que nos conduz para uma reflexão sobre os interesses que devem ser acautelados pela regulamentação desportiva, quando a própria organização lida com a necessidade de harmonizar a prossecução da vontade dos clubes com a tutela das competições. O clima que se vive atualmente leva-nos a questionar o modelo organizacional. Entre a associação de empregadores "pura e dura" e a entidade organizadora da competição haverá espaço para o progresso que desejamos?

Para que os órgãos decisórios possam salvaguardar a tutela das competições e harmonizar os legítimos interesses de todos os seus intervenientes, devemos em primeiro lugar repensar o modus operandi dos agentes desportivos.

Enquanto representante dos verdadeiros protagonistas, reforço a serenidade com que discutiremos as propostas de alteração à regulamentação desportiva. Temos assistido a disputas de poder, em que cada agente realça o papel fundamental que exerce. Por entre ameaças de boicote e medidas drásticas, releva-se pouco o jogador, o que nos traz preocupações com o diálogo social no presente e para o futuro.

Por último, deixo em nome de todos os jogadores um abraço ao Abel Camará. Depois da coragem que demonstrou ao defender a sua honra e dignidade, com o apoio inequívoco dos colegas, respondeu com profissionalismo. As portas do Sindicato estão abertas para os jogadores que necessitam de uma voz em sua defesa.

Artigo de opinião publicado em: jornal Record (9 de maio de 2017)

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