Vistas largas ou curtas?


"A proposta de alargamento devia resultar de um prévio e reflectido debate institucional. Numa conjuntura difícil para os portugueses, o presidente da Liga e os clubes demonstraram ter falta de visão."


As mudanças recentemente verificadas na Federação, na Liga e paralelamente no Governo, acrescidas da posição assumida pelo Sindicato privilegiando o diálogo, perspectivavam, numa conjuntura económica difícil, um clima de cooperação e partilha de esforços. Inopinadamente, surge a proposta de alargamento apresentada pela Liga que, ao arrepio do que se expôs, veio criar novos problemas numa conjuntura adversa.

Independentemente do mérito ou demérito do “alargamento” certo é que a proposta em apreço mereceu a condenação geral dos diversos agentes do futebol sustentada em vários e pertinentes argumentos.

Assim, e em primeiro lugar, trata-se de uma proposta unilateral. Na verdade , dizendo o tema (alargamento) respeito a todos, qualquer proposta deve resultar de um prévio e reflectido debate institucional.

Em segundo lugar, a proposta contraria as conclusões dos diversos estudos elaborados sobre a matéria, nomeadamente pela Liga, que vão no sentido oposto. Em terceiro lugar, qualquer proposta deve respeitar os princípios da oportunidade e da verdade desportiva os quais são aqui ostensivamente ofendidos. A apresentação quase no fim da época, por um lado, a ausência de “descidas” por outro e, finalmente, a implementação a título imediato desta medida é inaceitável.

Em quarto lugar, tem plena legitimidade a questão de saber como é que uma Liga que não garante o cumprimento das obrigações (nomeadamente salariais) num universo de 32 clubes o vai garantir quando este número aumenta.

Em quinto lugar, ao contrário do que se apregoa, esta proposta não garante a efectivação de postos de trabalho. Aliás, quando alguém promete a quem está em dificuldades sabendo que não vai cumprir está, por um lado, a incorrer em responsabilidade e, por outro, a agravar a situação dessas pessoas ofendendo notoriamente o principio da boa-fé.

Neste enquadramento factual, compreende-se que o presidente da Liga tenha ficado refém de uma promessa eleitoral e também se compreende a posição dos clubes do fundo da tabela que, no limite, querem garantir pela via administrativa aquilo que deve decorrer do mérito desportivo.

Compreende-se mas não se concorda. Por um lado, o presidente da Liga tem de ter a humildade de recuar e reconhecer todos os inconvenientes que a proposta encerra. Os clubes, por sua vez, têm que garantir definitivamente um modelo de licenciamento eficaz e igualitário que premeie o mérito e penalize o incumprimento.

DIRIGISMO DESPORTIVO

Uma nota final, para esclarecer e evitar toda e qualquer confusão: quando me refiro publicamente a “dirigentes menores” não pretendo beliscar minimamente os seus clubes. Sei bem qual é o valor e a importância destes clubes, cultural, social, histórica e desportivamente. Infelizmente, muitos desses clubes (profissionais) são dirigidos por amadores que constantemente invocam o seu voluntarismo e altruísmo para justificar todos os actos de gestão, muitas vezes danosa.

Paralelamente, rodeiam-se de pessoas incompetentes, cerceando o acesso a quem poderia ajudar a gerir e projectar o futuro dos clubes. Dirigentes que diariamente invocam a situação de falência do futebol português mas que nunca colocam o seu lugar à disposição. Em suma e neste contexto podemos concluir que há clubes grandes com dirigentes pequenos e clubes pequenos com dirigentes grandes.

NOTA CONCLUSIVA

A questão do “alargamento” assim colocada revela uma visão redutora da realidade com as consequências adversas que daí advêm. O presidente da Liga, como os demais dirigentes que apoiaram a proposta, demonstraram, infelizmente, ter vistas curtas. Trata-se de um problema de visão que pode e deve ser corrigido.

Numa conjuntura difícil que aflige todos os portugueses, importa conjugar esforços e estabelecer um diálogo permanente que implique cedências mutuas. Imprescindível se torna, portanto, TER VISTAS LARGAS.

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