Artur Correia

“Comigo, ou passava a bola ou passava o homem… os dois, não”, disse Artur, um dia. Quando tinha apenas 30 anos de idade, e depois de já ter ganho seis campeonatos nacionais (cinco pelo Benfica e um pelo Sporting), sofreu um AVC. Um fatalismo que arruinou precocemente uma carreira brilhante.

Artur Manuel Soares Correia nasceu a 18 de Abril de 1950, em Lisboa. No mundo do futebol ficou conhecido pela alcunha de “ruço” pelos seus cabelos aloirados. Fazia da garra com que disputava cada lance a sua imagem de marca. Era rápido, forte, empolgante e portador de um tempo de entrada ao adversário impressionante. Era o dono do seu corredor, o direito. Sem surpresa, foi considerado um dos melhores defesas direitos da Europa na década de 70.

Benfiquista desde sempre, começou a sua carreira no Futebol Benfica. Mas, ainda nos escalões de formação chegou ao Benfica, emprestado pelo Fofó. Na luz, ficou três anos e logo no primeiro foi campeão pelos juniores.

Para além do futebol, Artur tinha outro grande desejo: ser médico. E assim, por opção própria, ingressou na Académica de Coimbra para jogar na briosa e frequentar o curso de medicina. Na cidade dos estudantes permaneceu durante três épocas (entre 1968 e 1971). Na primeira temporada foi reserva, nas duas seguintes, títular indiscutível. Apesar da sua paixão pela medicina, não demorou muito tempo a perceber que era impossível concilar os estudos com o futebol. E deixou de lado o sonho de ser médico.

Em 1971/72 não resistiu a uma proposta de Borges Coutinho e, após recusar convites do Belenenses, do Sporting e do FC Porto, regressou ao Benfica.

Na sua última época ao serviço dos encarnados, em 1976/77, foi vítima de uma pleurisia – uma inflamação na pleura (tecido fino que recobre toda a superfície dos pulmões). Afastado dos relvados durante alguns meses, Artur e Benfica iniciaram conversações para a renovação de contrato. Depois de propostas e contra-propostas, o jogador assinou pelo Sporting. “Nunca pensei jogar no Sporting mas foi o clube que me ofereceu as melhores condições. O Benfica, praticamente, mandou-me embora. Estive sempre a ganhar 34 contos por mês”, disse.

Para o currículo, com a camisola encarnada, ficaram cinco campeonatos nacionais e uma Taça de Portugal.

 

Pós-Benfica.

Tinha 27 anos quando aceitou o convite de João Rocha. Em Alvalade ficou durante três anos e ganhou mais um campeonato e uma Taça. Profissional de mão cheia, nunca escondeu o seu benfiquismo e ao intervalo dos jogos perguntava, em surdina, ao roupeiro qual era o resultado do Benfica.

Na época de 1979/80 foi para os Estados Unidos da América para alinhar no Tea Men. Jogava seis meses no clube norte americano e na “winter time” outros seis no Sporting. Em Agosto de 1980, Artur regressou ao Sporting com o objectivo de ajudar os leões a revalidarem o título nacional. Mas o infortúnio bateu-lhe à porta: a 24 de Setembro de 1980 foi vítima de um acidente cardiovascular. A trombose acabou-lhe com a carreira desportiva. Anos mais tarde venceria ainda uma embolia pulmonar.

A 3 de Junho de 1981 foi alvo de uma homeagem nacional, com um jogo entre Sporting e Benfica (1-1).

Ao serviço da selecção nacional, Artur marcou a década de 70. Foi ele o dono da camisola dois de Portugal entre 1972 e 1979. Foi internacional em 35 jogos e marcou um golo (frente à Noruega, no Estádio Nacional).

Depois de ter acabado a carreira, Artur treinou o Sesimbra e o CDUL. Trabalhou ainda durante 18 anos, a recibos verdes, no departamento de Desporto da Câmara Municipal de Lisboa até que a autarquia, então presidida por Carmona Rodrigues, prescindiu dos seus serviços.

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