A Prática e a Teoria de Manuel de Oliveira


Manuel de Oliveira, um treinador de futebol que dispensa apresentações, afirmou ao “Record” (19/3/2005): “daí que se torne complicado falar de técnica e de táctica a quem não tiver praticado ou vivido por dentro a modalidade a um nível elevado, porque não chega ser-se formado pela faculdade se faltar a parte prática”.

Estamos de acordo com Manuel de Oliveira. A prática é fundamental, até porque sem ela não há teoria como fica provado pelo excelente livro “Memórias de um Treinador de Futebol” da autoria do próprio Manuel de Oliveira.

Na realidade, se não chega sair das faculdades, aos engenheiros, aos advogados, aos escritores, aos professores, aos médicos, aos juízes ou aos juristas, porque é que no futebol havia de ser diferente? Há um tirocínio a fazer. Uma prática a desenvolver. Uma experiência a adquirir, sob pena de não servir para nada aquilo que se aprendeu do ponto de vista teórico.

Carl von Clausewitz (1780-1831) um dos grandes estrategas militares de todos os tempos escreveu: “quem não tiver a experiência pessoal da guerra não pode realmente entender em que residem as dificuldades constantemente discutidas, nem as razões pelas quais o comandante precisa de possuir brilho e qualidades mentais excepcionais. (…) Para quem tiver vivido a guerra, todas as coisas se tornam compreensíveis embora continue sendo muito difícil descobrir o factor invisível, ainda que omnipresente, que desencadeia a vitória.” Todavia, se a experiência prática é de fundamental importância, também deve ser entendido que ela só por si não é a mãe de todas as vitórias.

Repare-se que os dez anos de experiência de um treinador podem tão só significar um ano de experiência repetido nove vezes. Assim sendo, devemos atender às palavras desse grande estratega que foi Bismarke (1815-1898): “só os loucos aprendem pela experiência própria. Eu prefiro aproveitar-me da experiência dos outros.” Ora, aproveitar da experiência dos outros, pressupõe que alguém tenha sistematizado e reflectido essa experiência como o fez Manuel de Oliveira de tal maneira que treinadores como Jorge Jesus o possam seguir e ultrapassar. Para Liddell Hart (1895-1990) “a experiência prática pode ser directa ou indirecta. Das duas, a indirecta é muito mais valiosa na medida em que é muito mais ampla”.

De facto, a experiência prática directa não é potenciadora de conhecimento devido à sua incapacidade intrínseca para teorizar. Assim, não se trata de mais ou menos universidade.

Nem se trata de prolongar indefinidamente uma determinada prática num processo de repetição que se limita a dogmatizar aquilo que existe. Trata-se de teorizar a prática e praticar a teoria. cional.

Na realidade, só através da teorização da prática com o fim de se construírem novas práticas e assim sucessivamente é possível a produção do conhecimento capaz de garantir o sucesso.

E o conhecimento, hoje, está disponível para quem o quiser adquirir: nos colóquios; nos seminários; nos filmes; na internet; e nos livros como o de Manuel de Oliveira.