Pensamento Estratégico


Se existem assuntos que, do redemoinho de opiniões, podem sobressair do Europeu de Futebol são certamente os relativos ao conceito de estratégia. Esta surge naturalmente da existência de um ambiente agónico em que cada um dos adversários, procura impor a sua vontade ao antagonista. Tem, por isso, uma ideia de confronto de vontades que ultrapassa a simples conceção de uma qualquer metodologia de planeamento que é posta em execução sem quaisquer forças que, direta ou indiretamente, se lhe oponham.

Sem confronto, o jogo de futebol não se consuma. Quer dizer, uma defesa absoluta contradiz o conceito de jogo. Se as duas equipas recusarem o confronto limitando-se a defender, o jogo torna-se uma impossibilidade. Assim sendo, mesmo quando uma equipa defende é obrigada a partir do princípio de que a sua melhor defesa é o ataque, isto é, mesmo numa estratégia defensiva, a defesa deve ser capaz de manobrar a sua mobilidade esperando que o adversário abra o jogo a fim de contra-atacar. E o treinador, no atrito do jogo, tem de procurar conseguir essa iniciativa a fim de, nem que seja por pequenos períodos, através da perturbação do adversário, tentar ganhar o controlo dos acontecimentos.

Numa estratégia de confronto direto, o estratega não é senhor dos seus atos na medida em que é obrigado a agir a fim de contrariar e superar a vontade do seu rival, tal como o seu rival é obrigado a agir a fim de contrariar a superar a sua vontade. Nesta perspetiva, se por um lado é importante um treinador conhecer a sua própria equipa nos mais ínfimos pormenores, por outro lado, é muito mais importante que ele conheça a equipa adversária ainda melhor do que a sua. E a começar pela personalidade, comportamento, cultura, formação, e hábitos do treinador, dos jogadores, dos dirigentes, do clube, da equipa em si e da própria nacionalidade dos protagonistas.

 Todavia, se o treinador não pode deixar de assumir o confronto direto como uma realidade que condiciona a estratégia deliberada que pretende introduzir na competição, já no plano tático o grau de liberdade, de criatividade, de inovação e de coragem do treinador é constantemente posto à prova na emergência das situações provocadas pela aleatoriedade do jogo. Isto significa que a estratégia e a tática são duas atividades que mutuamente se entrelaçam no tempo e no espaço em função das próprias circunstâncias do jogo. Assim sendo, na sua arte, o treinador deve preparar o próximo jogo a partir das características do adversário e de tudo aquilo que ele, presumivelmente, lhe vai quer impor. Só depois, deve pensar como é que a sua equipa vai anular e superar a estratégia do adversário.

O pensamento estratégico, na agonística do jogo, na dialética de vontades, no abstrato da oposição das partes, na soma nula do resultado, abre um vasto campo de reflexão que deve fundamentar o processo de tomada de decisões dos treinadores. O pensamento estratégico pode não servir para ganhar jogos mas servirá certamente para saber como os jogos não se devem perder. É que há muitos jogos perdidos por ausência de pensamento estratégico do treinador.