O efeito Ronaldo


Se compararmos as posições obtidas pelo futebol relativamente às demais atividades económicas e sociais nos respetivos rankings internacionais, facilmente chegamos à seguinte conclusão: enquanto o futebol nacional aparece em posições destacadas, as demais atividades, de uma maneira geral, aparecem em posições pouco prestigiantes.

 

O futebol, para além de ser uma das atividades de maior sucesso no País, é a única modalidade desportiva coletiva em que o desporto nacional obtém resultados dignos de menção, acabando por, em virtude do seu número de praticantes, minorar a fraca posição nacional no que diz respeito às estatísticas internacionais relativas à prática desportiva.

 

Os demais desporto coletivos, devido a múltiplas incapacidades e incompetências, há muito que estagnaram ou até estão em regressão. Em consequência, se depois do futebol, Portugal tem obtido resultados internacionais eles ficam-se sobretudo a dever ao trabalho dos atletas, treinadores e dirigentes de alguns desportos individuais que, para além dos adversários, ainda têm de superar um sistema desportivo com muito pouca operacionalidade e uma olímpica falta de credibilidade.

 

Pierre de Coubertin, nas suas memórias publicadas em 1931, escreveu que “para que cem se dediquem à cultura física, é necessário que cinquenta se entreguem ao desporto, para que cinquenta se entreguem ao desporto é necessário que vinte se especializem, para que vinte se especializem é necessário que cinco sejam capazes de realizar proezas extraordinárias.”

 

Repare-se que o quadro teórico da designada “pirâmide de Coubertin” parte da existência do “efeito de ídolo” com o objetivo de desenvolver o desporto na base do sistema desportivo. Na sua estratégia de democratização do desporto, Coubertin apostava no ídolo desportivo que havia de desencadear um efeito “feedback” promocional capaz de, entre a generalidade da população, promover o gosto pela prática desportiva. Note-se que Coubertin não disse que, para que cinco sejam capazes de realizar proezas extraordinárias, é necessário que cem se dediquem à cultura física. Ele disse precisamente o contrário e, ao fazê-lo, estabeleceu uma relação causal de efeito positivo direto do vértice para a base da pirâmide desportiva.

 

É o “efeito de ídolo” que desencadeia desenvolvimento detetável através da análise da projeção de tendência do desporto nacional. Quer dizer, na ausência de políticas públicas, o desporto, numa dinâmica auto organizativa, continua a desenvolver-se e a obter resultados pelo exemplo que os grandes atletas fazem passar para a sociedade.

 

Assim sendo, a pergunta a fazer é a que procura saber quais as medidas necessárias a implementar a fim de tirar partido do “efeito de ídolo”, não só para o desporto como para o País. Com é que os grandes atletas podem contribuir para desencadear um sentimento de cidadania e de autoestima nacional que, nos mais diversos setores sociais, ajude o País a superar a depressão coletiva em que se encontra. Trata-se de saber como provocar no desporto nacional um “salto estratégico” entre a natural projeção de tendência e a projeção planeada a partir do “efeito de ídolo”.

 

Um país incapaz de, através da idealização de políticas públicas, tirar partido do “efeito de ídolo” dos atletas de excelência que possui, não merece ter um futebolista como Cristiano Ronaldo.