Aquela máquina!


Escrever sobre Cristiano Ronaldo é um desafio quase tão grande quanto enfrentá-lo em campo. Trata-se do melhor jogador do Mundo e um credível candidato a reforçar essa posição de melhor do mundo. As suas qualidades são conhecidas e passam nas televisões à mesma velocidade a que ele se desloca em campo.

O que mais aprecio em Cristiano Ronaldo e que mais o distingue dos outros é a sua capacidade para jogar em todos os terrenos, em quaisquer condições. Já o vi fazer grandes jogos em relvados difíceis, em condições quase impraticáveis.

De resto, mais do que considerar o Ronaldo um “fenómeno” técnico, temos de reconhecer que se trata de um fenómeno “físico”. O que lhe permite ser bom em tudo. No arranque, no choque, na velocidade, no remate, no jogo de cabeça e claro, no modo como consegue entreter os adeptos e enfurecer os adversários. Um jogador, um atleta, uma máquina de alto rendimento.

A sua transferência para Madrid abriu um novo debate. Será que Ronaldo vai adaptar-se ao futebol espanhol e sobretudo à extravagante vida nocturna de Madrid? As primeiras jornadas no campeonato ena Liga dos Campeões trouxeram-nos uma resposta.

Como sempre, Ronaldo espera pela melhor oportunidade e responde quase sempre em campo. É aí que todos conhecem a sua capacidade de resposta. Cinco golos na Liga espanhola, quatro na “Champions” demonstraram que a adaptação de Ronaldo era apenas um entretenimento criado pela imprensa espanhola para encher páginas de jornais.

Mas qual adaptação? Dois meses depois da sua chegada a Madrid, o debate passou a ser outro: O Real Madrid consegue vencer os seus jogos sem Cristiano Ronaldo?

Ou seja, numa equipa que colecciona talentos como os mais jovens coleccionam cromos de jogadores de futebol, o Ronaldo já é a figura predominante. A tal ponto, que nas primeiras semanas após a lesão de Cristiano, toda a imprensa espanhola se rendeu ao talento do internacional português, duvidando da capacidade da equipa em ganhar os seus jogos sem a presença estimulante de Ronaldo em campo.

Como antigo jogador de futebol, acho isto perfeitamente incrível, este desprezo pela importância colectiva das coisas no funcionamento de uma equipa de futebol.

No Benfica, a uma escala menor, passei por uma situação semelhante. De tal modo estava exagerada a minha influência na equipa, em todos os media nacionais, que tudo o que de bom ou de mau se passasse na equipa, era praticamente da minha responsabilidade.

Isto é um exagero que nunca tolerei e que me criou problemas na gestão da minha imagem e até, na fase terminal da minha relação com o Benfica, na correspondência que deixou de haver com os dirigentes do clube, no mandato de Vale e Azevedo.

Esta é uma imagem que Ronaldo não merece carregar. Nenhum jogador do mundo pode aceitar essa responsabilidade de se substituir à equipa. Embora, em alguns casos, como o de Ronaldo, a sua presença é estimulante para os companheiros e intimidadora para os adversários.

O Ronaldo é o melhor do Mundo, mas não é o super-homem. Os seus poderes especiais são os de jogar um futebol, ao mesmo tempo, maravilhoso e destrutivo. Não é um jogador do outro mundo, é deste, do nosso, feito de homens de carne e osso.

É o meu candidato a vencer, de novo, o prémio de melhor jogador do Mundo.