Um Mundial, um projecto


Como qualquer cidadão português, vibrei com o apuramento de Portugal para o Mundial 2010. Porque a nossa selecção tem o talento que a identifica como uma das melhores equipas da Europa e porque temos alguns dos jogadores que mais podem divertir o povo do futebol em todo o Mundo, durante um mês de competição.

Por um conjunto de razões, Portugal não podia ficar fora da África do Sul. Desportivamente seria um retrocesso, após várias qualificações bem sucedidas, para os torneios mais importantes de selecções. E financeiramente seria um problema, porque a presença num Mundial assegura um bom prémio de participação à FPF.

Ainda assim, considero que o apuramento para o Mundial foi ainda decisivo, porque pode abrir caminho à resolução futura de alguns problemas que afectam o futebol em Portugal, desde o amador ao profissional, passando pela área sensível da formação. Porque, com a qualificação na mão, aumentou a margem de manobra de Carlos Queiroz para implementar o seu projecto de refundação do nosso futebol.

A partir de uma certa altura, com a contestação a engrossar ao seleccionador nacional, Portugal arriscava-se a perder um Mundial e, pior do que isso, uma oportunidade de mudar o futuro.

É verdade que a questão das naturalizações não ajudou a criar um bom ambiente para as reformas que o professor pretende introduzir no futebol português, mas as suas ideias saíram reforçadas após o apuramento. E ainda bem, porque, na minha opinião, uma forma de atacar o problema, por exemplo, da crescente estrangeirização das competições profissionais em Portugal e até mesmo da selecção principal, é deixar que o projecto de Carlos Queiroz seja implementado.

Reforçando o papel das selecções mais jovens, criando novos conceitos formativos, ajudando os clubes a desenvolver-se e generalizando a ideia de que o talento nacional merece uma aposta concreta e duradoira dos dirigentes desportivos.

Claro que além dos conceitos, é importante mudar as mentalidades. O projecto de Carlos Queiroz é tão, ou mais importante, do que um apuramento para um campeonato do Mundo. Porque dependerá dele o apuramento para outros Campeonatos do Mundo, associando a Portugal um rótulo de competência nos gabinetes e talento no campo.

No limite, estou convencido que este projecto consistente de formação em Portugal, com pés e cabeça, vai permitir criar novas gerações de talentos nacionais para abastecer as nossas selecções, desde as mais novas até à principal.

E evitar, no futuro, que o jogador português esteja sob ameaça, nos nossos campeonatos e, por extensão, na selecção principal, através das naturalizações e da chegada contínua de jogadores estrangeiros ao nosso País.

Vice-presidente da Direcção do SJPF