E depois da pré-época? A competição, o rendimento e o resultado


Ao falar de futebol nem sempre o que parece é, pois por vezes acontecem coisas ma­ravilhosamente imprevisíveis que um qualquer processo científico ainda não lhe pode conferir uma devida explicação.

A capacidade humana do jogador para se superar torna-se por vezes fenomenal. Exis­tem momentos nas equipas em que à medida que as dificuldades avançam, os seus componentes são capazes de encontrar nessas mesmas adversidades um autêntico es­tímulo, fazendo desencadear uma força mobilizadora onde se vê despertar um enorme empenho coletivo e, contrariando as leis da natureza, ali mesmo, passa a habitar o su­cesso.

Penso que o que aconteceu nestas primeiras competições que a presente época viu anunciadas e cumpridas foi exatamente isto. Das três equipas ditas candidatas ao título, provavelmente sentindo-se vencedoras mesmo antes do apito inicial do árbitro, viram-se efetivamente confrontadas perante adversários de menor valia técnico tática e competitiva, mas que estavam ali para fazer a descoberta no segredo do seu silêncio a história das suas vidas e nada melhor do que, sem ter a responsabilidade de ganhar, fizeram dessa adversidade uma rica oportunidade de potenciar o presente para a con­quista dum futuro.

Fala-se das arbitragens, da qualificação dos bons ou maus resultados conseguidos nos jogos realizados na pré-época, da meritória capacidade de administrar a gestão das cargas de treino ou, pelo contrário, da desqualificada mestria de estruturar o planeamento da mesma, etc., mas quanto a mim, repito, residiu no plano mental duma consciência competitiva das equipas em causa, as razões que se ratificam nas causas do insucesso.

Neste âmbito, todos sabemos que os atletas que atingem níveis elevados e prolongados de sucesso definem-se mais pela qualidade do que pensam do que pela quantidade das ações que realizam. Este plano de intenções no domínio do consciente faz quantas vezes converter a crença em otimismo, transformando o receio de perder na vontade de ganhar e aí, na luta, fazem-se vencedores.

Perante a abertura da festa do futebol, com os estádios ávidos de adeptos em expectati­va, essa tal crença, esse tal empenhamento na reconversão das dificuldades em oportu­nidades, fizeram evidenciar uma cultura de exigência notável, acicatados pela expressão bem popular de que “ dos fracos não reza a história”.

Imediatamente se me coloca uma questão: como motivar uma equipa com rotinas com­petitivas de sucesso para jogar perante adversários qualificadamente de nível inferior? E logo a seguir outra questão no que se refere ao facto de equipas que fazem dum re­sultado a história para as suas vidas no confronto com adversários potencialmente su­periores e, no jogo seguinte, parece que sucumbem perante equipas do mesmo nível competitivo? E ainda mais uma questão que se reflete em equipas de nível superior, que baixam as suas prestações defronte de adversários menos qualificados e aumentam de forma extraordinariamente convincente as suas competências perante adversários com níveis de exigência altamente qualificados? É que isto tem e exige respostas ao nível das estruturas técnicas que lideram os processos de treino e que se reporta ao eficaz cumprimento do morfotipo de preparação semanal, na complexidade de exigência, na aplicação dos exercícios temáticos, tendo ou não presente a visão criativa do gesto e sua eficiência prática, focando ou não os níveis de atenção inseridos numa intencionalidade operante.

Ora, traduzir esta pequena expressão no planeamento e metodologia de treino daria para abrir mais um capítulo dum grande livro e muito teria para dizer neste âmbito, o que por vezes faço disso razões para reflexão quer na vida académica, quer na forma­ção de treinadores.