Cristiano Ronaldo, um herói da cultura!


Não sei se este meu artigo vai provocar qualquer expressão vulcânica de antipatia. Por mim, considero tão legítima uma opinião depreciativa pela minha tese, de hoje, como a minha reverência pelos nomes maiores da História do Desporto. De facto, no meu modesto entender, e cingindo-me só ao futebol, o Cristiano Ronaldo, o Messi, o Neymar, o Ibrahimovic, o Ribéry, etc., são para mim heróis da cultura – e cito o Cristiano Ronaldo, em primeiro lugar, porque é o melhor de todos! E não utilizo, unicamente, um critério romântico, o meu critério é verdadeiramente racionalista, como adiante o tentarei provar.

 

Foi aceite pelos cientistas a teoria das inteligências múltiplas que nos ensina que são sete as inteligências que encontramos no ser humano (H. Gardner, La inteligencia reformulada. Las inteligencias múltiples en el siglo XXI, Paidós, Barcelona, 2003). Posteriormente, este mesmo autor acrescenta mais três inteligências às sete apresentadas, inicialmente.

 

Vejamos então as dez inteligências que se encontram, nas pessoas, com predominância, em cada um dos sujeitos observados, de uma sobre as outras: musical, linguística, espacial, corporal-quinestésica, lógico-matemática, intrapessoal, interpessoal, naturalista, existencial e espiritual. Que o mesmo é dizer: a inteligência humana tem todas estas características, mas há quem tenha uma delas muitíssimo mais desenvolvida do que as outras, o que acontece com os génios, com os superdotados.

 

Portanto, o Ronaldo beneficia de uma inteligência corporal-quinestésica que não estava, por exemplo, ao alcance do génio literário do José Saramago. É que o desporto, mormente o futebol, é o fenómeno cultural de maior magia no mundo contemporâneo. E do futebol é o Ronaldo um intérprete de eleição, como outro não se encontra, hoje, em Portugal e no mundo todo.

 

Assim, porque o futebol é uma Atividade Humana e o ser humano manifesta-se, sobre o mais, através de uma expressão cultural, seja qual for o modo de expressão utilizada – o futebol é cultura e os seus agentes são também agentes culturais. Ora, o Cristiano Ronaldo faz do futebol, como ninguém, uma expressão cultural: faz do futebol uma façanha inspirada no misticismo patriótico; e do gesto desportivo um movimento de incontornável eficiência e beleza; e da sua motricidade um espaço de transcendência (ou superação) e portanto de abnegação, de pundonor, de grandeza de ânimo.

 

Com o Cristiano Ronaldo como seu capitão, a nossa seleção nacional de futebol tem um exemplo de transcendência, bem ao seu lado. E não é na convivência dos nobres exemplos que os valores se revigoram e se tomam como divisas? Somos a decana de todas as nações da Europa; navegámos por mares nunca dantes navegados; deixámos em terras ignotas os nomes dos nossos santos e heróis; há uma arte de ser português, que o Teixeira de Pascoais explicou, consignou em livro célebre; transfundimos boa parte do nosso sangue a nações que gerámos, na América, na África, na Ásia, na Oceânia – os feitos de Cristiano Ronaldo são factos culturais e vêm dizer-nos que chegou a hora intransferível de voltarmos a ser portugueses, despojando-nos do sectarismo partidário, ou do retorno a um requentado fascismo, ou do neoliberalismo anglo-saxónico (onde até a língua é um instrumento de colonialismo), porque a Pátria está em perigo.

 

Cristiano Ronaldo, um herói da cultura, provou-nos que, na unidade da fé, na unidade do patriotismo, na unidade da ação, o milagre do ressurgimento de Portugal é possível.

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