Ana Cláudia: A contas com o futebol e a moda


Jogadora do Atlético Ouriense divide o seu tempo entre o escritório, os relvados e um estúdio fotográfico.

Passa pouco depois das oito da manhã e Ana Cláudia já está a caminho do emprego para mais um dia de trabalho num escritório de contabilidade, situado em Ourém. Na sua rotina ainda há espaço para o futebol, ao final do dia, para a moda, nos fins-de-semana, e para a família, nos tempos livres.

“Comecei a trabalhar neste escritório quando ainda estudava à noite em Leiria. Saía do emprego todos os dias às 17h30 para estar nas aulas das 18h à meia-noite, tentando conciliar com os treinos”, revela a incansável Ana Cláudia, que se iniciou no futebol aos 17 anos.

“Tive a felicidade de crescer numa localidade [Ourém] onde jogar à bola é um hábito. Era assim que passava o tempo livre com os meus amigos e quando soube que o Atlético Ouriense ia abrir captações para o futebol feminino, inscrevi-me logo. Passado uma semana convidei a minha irmã mais velha, Mafalda, para vir treinar e acabámos por ficar as duas no clube. Somos das poucas resistentes desde a criação da equipa até aos dias de hoje”, confessa, orgulhosa.

O futebol é algo que diz muito a Ana Cláudia a nível familiar. Além da irmã, também o namorado, Tiago André, com quem vive, é jogador, atuando como guarda-redes no Caxarias, um clube de Ourém.

“Conhecemo-nos há 11 anos, quando ele também jogava no Atlético Ouriense. Eu ia ver os jogos dele de manhã nos juvenis e ele assistia aos meus treinos. É muito vantajoso praticarmos a mesma modalidade e as nossas conversas acabam por ter sempre como tema o futebol. Quando os jogos não correm tão bem, apoiamo-nos um ao outro e isso é muito importante”, considera.

MODA E DESPORTO DE MÃOS DADAS
Além do futebol, a jogadora do Ouriense tem outra paixão: a moda, que surgiu na sua vida de uma forma um pouco inesperada. “Na escola em que eu estudava havia vários desfiles e fui eleita Miss. A partir daí houve um concurso em Ourém, onde quem ganhasse tinha como prémio um agenciamento e um curso de manequim. Acabei por vencer, fiz a formação e atualmente trabalho para a Fashion Studio, em Lisboa.”

Em 2012, Ana Cláudia viveu um episódio que nunca mais esquecerá: “Participei num concurso de moda no Kosovo. Quando cheguei lá pensava que ia para a guerra, mas foi uma experiência de vida única e muito gratificante. Fui sozinha e ajudou-me a crescer como pessoa, abrindo portas para o futuro.”

Para lá das passerelles e dos trabalhos fotográficos, a modelo e jogadora de 28 anos também já participou num programa televisivo, em novembro de 2017: “Estive por duas vezes no D’Improviso, a convite da agência para a qual trabalho.”



Perante a possibilidade de ter de abdicar do futebol, da moda ou da contabilidade, Ana Cláudia não equaciona esse cenário: “Qualquer uma destas atividades faz parte de mim e preciso de todas para viver. A contabilidade é a minha fonte mais segura, o futebol faz-me bem física e mentalmente e a moda é algo que me dá muito gosto fazer e que também não conseguiria dispensar.”

Futebol e moda são vistos por alguns como duas realidades bem distintas, mas a jogadora do Ouriense prova o contrário. “Quem está no mundo da moda e sabe que jogo futebol, fica a olhar para mim e diz ‘não é possível’, mas felizmente tenho conseguido conciliar as duas coisas. Normalmente, os trabalhos fotográficos são aos sábados e os jogos aos domingos. Isso também ajuda.”

Para conseguir um bom desempenho em ambas as atividades, Cláudia tem cuidados especiais com a alimentação: “Tento seguir um regime saudável para melhorar a minha performance como jogadora e modelo. Todas as pessoas deviam fazer o mesmo, independentemente de praticarem desporto ou não.”

IRMÃ É O GRANDE APOIO DENTRO E FORA DE CAMPO
Antes de ir para o treino e depois de sair do trabalho, Ana Cláudia vai até casa e vê como estão os seus animais de estimação, duas gatas que a acompanham nos tempos livres. “Tendo em conta a vida agitada que tenho, quando chego a casa gosto de estar sossegada a ver uns filmes. Sempre que posso também vou ao cinema com o meu namorado.”

Por volta das 19h, chegamos ao campo do Atlético Ouriense onde a avançada de 28 anos treina com a sua irmã e as restantes colegas de equipa às terças, quintas e sextas.

Em 2014, a equipa feminina do clube viveu a melhor página da sua história, ao conseguir o apuramento para os 16 avos-de-final da Liga dos Campeões, depois de ter sido bicampeão nacional em 2012/13 e 2013/14, época em que também venceu a Taça de Portugal.



“Participar na Champions foi a melhor experiência que tive no futebol. Por ser da região de Ourém, vivo o clube intensamente e estou aqui por amor à camisola”, revela Ana Cláudia, de sorriso no rosto. Além do apoio dentro de campo que tem da irmã, a capitã de equipa, Cláudia tem também dois fãs incondicionais nas bancadas, sempre que o Atlético Ouriense joga em casa.

“Os meus pais apoiam-nos bastante e nunca se opuseram a que jogássemos futebol. A minha mãe assiste aos jogos e é uma adepta ferrenha. Grita e percebe tudo o que é futebol. O meu pai já sofre um pouco mais e fica preocupado quando sofremos alguma falta”, conta a jogadora.

Mafalda Baptista, de 35 anos, enverga a braçadeira de capitã do Atlético Ouriense e é a primeira a dar conselhos à sua irmã, Ana Cláudia, e a chamá-la à atenção, sempre que necessário: “Digo-lhe para nunca desistir. Pode haver dias mais complicados, mas a recompensa do seu esforço terá resultados no futuro. A Cláudia é uma grande mulher e faz o que pode para dar o melhor em todas as áreas.”

O final da carreira ainda está longe, mas para o futuro Ana Cláudia já tem uma certeza: “Quando arrumar as chuteiras, provavelmente não vou ficar ligada ao futebol, mas continuarei a ser uma fiel seguidora do Atlético Ouriense.”

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