Para assinalar a data do falecimento de João Lucas, o SJPF criou uma bolsa de investigação com o seu nome, destinada a instituições hospitalares. A bolsa será atribuída todos os anos, a 26 de maio, homenageando o ex-jogador de futebol e antigo delegado do SJPF.





A displasia arritmogénica é uma das principais causas de morte súbita antes dos 30 anos, havendo evidências de que a prática de atividade física intensa, como é o caso do desporto de alto rendimento, agrava os seus sintomas e aumenta drasticamente a probabilidade da sua ocorrência.



Neste ambito, o Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol apresentou, no dia 26 de maio, no Auditório do Centro de Medicina Desportiva, no Estádio Universitário em Lisboa, o “Projeto João Lucas – Displasia Arritmogénica e Morte Súbita no Desporto”. João Lucas foi jogador de futebol e desempenhou as funções de delegado do SJPF entre 2007 e 2015, acabando por falecer a 26 de maio de 2015, vítima de morte súbita.




Estiveram presentes na apresentação do projeto vários jogadores, familiares e amigos de João Lucas, destacando-se a sua irmã Íris Guerra, que discursou. Marcaram também presença a equipa do SJPF, os presidentes do Ginásio de Alcobaça, da Académica e da SAD do Boavista.

Este projeto tem como objetivos honrar a memória de João Lucas, divulgar a problemática associada à displasia arritmogénica do ventrículo direito ou miocardiopatia e a sua relação com a prática desportiva, promover investigação que possa reforçar a prevenção desta doença no âmbito da prática desportiva e estimular a adoção de regulamentação específica que previna consequências da doença e a emergência perante a sua ocorrência.

A sessão foi aberta com um discurso de Joaquim Evangelista, presidente do Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol, que recordou o amigo, ex-jogador e antigo delegado do Sindicato: “O João Lucas até na hora de partir nos surpreendeu. Era um ser humano fantástico, sempre com um sorriso, disponível para ajudar, amigo do amigo, contagiou-nos a todos. Ninguém era indiferente ao João. Enquanto delegado do SJPF, fez um trabalho inexcedível, sempre próximo dos jogadores. Nunca será esquecido.” “Podíamos ter organizado um jogo de homenagem? Podíamos, mas decidimos fazer um projeto de investigação dedicado a este problema cardíaco. Ao associar o João Lucas às doenças cardíacas, queremos chamar a atenção para os problemas específicos da atividade de futebolista profissional, de curta duração e desgaste rápido”, sublinhou. De seguida deixou um alerta para a necessidade de se colocar sempre a saúde dos jogadores em primeiro lugar: “É inaceitável que as questões comerciais e os resultados se sobreponham às questões como a saúde e o bem-estar dos jogadores. Muitos dirigentes e treinadores não olham a limites para alcançar os resultados. E os próprios jogadores não têm consciência dos seus limites. Temos de combater este paradigma.”

Antes de passar a palavra aos restantes oradores, Evangelista lançou um desafio: “Queremos colocar a saúde em primeiro lugar. A vida está primeiro. Este projeto vai para além da formação e da investigação. Pretendemos convocar os agentes desportivos para um novo padrão de comportamento relativamente à saúde dos jogadores. Que todos os agentes digam presente e evitem que casos como o do João Lucas não voltem a acontecer.”

Neste contexto, discursou de seguida Paulo Beckert, coordenador da Unidade de Saúde e Performance da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), tendo começado por chamar a atenção para a necessidade de se reforçar a prevenção deste género de ocorrências.

“Este projeto terá uma repercussão enorme em todos os praticantes de futebol. O Projeto João Lucas é uma iniciativa de extraordinária importância. A formação e sensibilização para um problema concreto que afeta poucos, mas com uma dimensão dramática enorme é essencial. Invistam na área da proteção dos jogadores, que passa pela prevenção e pela sensibilização para estas questões relacionadas com a
saúde dos atletas”, apelou o médico federativo.

A família de João Lucas também esteve presente na apresentação e a sua irmã, Íris Guerra, deixou algumas palavras importantes: “A família agradece sentidamente ao SJPF a forma como o acolheu na sua instituição e lhe permitiu o reencontro com a esperança, pertença e alegria da reconstrução, após a escolha de abandonar a sua carreira. Este projeto é para todos os nossos jogadores, que continuam a vestir a camisola de ideais nobres, os que virão ainda a fazê-lo e para ti, João.”




Para encerrar a cerimónia, ouviu-se ainda o testemunho de Tiago Pereira, ex- jogador do Boavista e amigo de João Lucas: “O Lucas é merecedor de tudo isto. Tive o prazer enorme de ser amigo dele, partilhámos o balneário durante três anos e chegámos a passar férias juntos. Era uma pessoa e um ser humano incrível, simples e divertido, um atleta muito competitivo. É uma pessoa de quem guardo imensas recordações e todas positivas”, recordou emocionado.


Para além de ter partilhado o balneário com Tiago Pereira, foi também colega e amigo de outros jogadores como Luís Filipe, Diogo Valente, João Oliveira Pinto e Pedro Hipólito, durante a sua passagem por clubes como o Alcobaça, a Académica e o Boavista.

As iniciativas propostas para serem levadas a cabo pelo SJPF no âmbito do Projeto João Lucas serão propor João lucas como sócio honorário do SJPF, assinar um memorando inter-institucional sobre prevenção da morte súbita no desporto, publicar a obra “Linhas orientadoras para a prevenção da morte súbita no desporto em Portugal”, organizar o Torneio João Lucas, realizar workshops em clubes sobre a utilização do Desfibrilhador Automático Externo (DAE), organizar a conferência “Morte súbita no desporto” (integrada no Players’ Corner), promover ações de sensibilização nos estádios, no futebol jovem e junto dos pais e contribuir para uma bolsa de investigação relacionada com a doença e a prática desportiva, destinada a uma ou mais instituições hospitalares.

Todas estas iniciativas serão cumpridas durante dois anos, até maio de 2019.

RELATÓRIO PROJETO JOÃO LUCAS