Duas carreiras: Uma só vida!


O futebol é, nos dias de hoje, mais rápido, mais ao primeiro toque… O jo­gador tem menos tempo a bola na sua posse e está normalmente mais pressionado. Embora pareça o contrário, pela velocidade e pela pressão que existe no jogo, hoje este é cada vez menos instintivo e cada vez mais pensado, planeado e preparado. É unânime que os jogadores mais inteli­gentes fazem a diferença. Isto tanto vale para o campo de jogos como para o campo de treinos, ou seja, não basta jogar, para jogar é preciso pensar bem e treinar ainda melhor.

O instinto continua presente, traz sempre no­vidade e imprevisibilidade ao jogo e ajuda à tomada de decisão, mas essa decisão é sempre pensada! Faz a diferença quem segue, com inteligência, o seu instinto, quem trabalha mais, quem garantidamente pensa mais o jogo e no jogo. No jogo, a todo o momento, os jogadores têm de tomar decisões: ora passam, ora driblam, ora rematam! A decisão está ligada ao jogo, como o jogo está ligado à vida…

Qualquer acção é, contudo, antecedida de uma decisão, o jogador é cha­mado a decidir a, naquele instante, ser protagonista.

O treino tem como objectivo preparar e qualificar os atletas para o suces­so. É o elemento que sustenta e dá critério, jogo após jogo, ao desejo, sério, de vitória. Assim, o treino capacita o jogador para a tomada de decisão, dando qualidade e discernimento a cada uma das acções.

Com tanta decisão, muitas delas fantásticas, com tanta informação e tecnologia, porque não conseguimos ajudar os jogadores numa decisão básica? Primeiro há a necessidade de despertarmos as organizações e os clubes para ajudarem os jovens a decidir não abandonar os estudos. É ur­gente e prioritário criar políticas que encorajem e favoreçam, simultanea­mente, a prática do desporto e a continuidade dos estudos. Caso contrário, corremos sério risco de, através do desporto ao mais alto nível, estarmos a promover uma educação e formação académica ao mais baixo nível…

O problema é que, por vezes, esperamos que seja outro a tratar, a resolver, a dizer por nós como deve ou vai ser. Talvez esteja na altura de sermos verdadeiros formadores e lançarmos nós, no âmbito das organizações e dos clubes, práticas que premeiem e promovam a vida académica dos seus atletas.

As famílias andam iludidas com a possibilidade do dinheiro fácil e, por isso, são as que mais estimulam, ou seja, no futuro prejudicam os seus filhos, os jogadores pensam que têm 25 anos toda a vida e os clubes colocam-se à margem até porque hoje não existe o amor à camisola: o jogador é profissional e ponto. Assim, a responsabilidade é das organizações e dos clubes que, verdadeiramente, investem na formação, pois são estes que conhecem a realidade e são estes que têm na sua posse as ferramentas para fazer a diferença.

A educação e a formação académica são decisivas no processo de formação do jogador, do Homem. Quem não compreende e não está desperto para esta realidade está a formar mal e sobretudo está, já, a trabalhar mal. A esperança média de vida é 77 anos. A carreira de um jogador dura em média até aos 35 anos. O que fazer neste intervalo de 42 anos? Bem vistas as contas, mesmo numa carreira de sucesso, o jogador passa mais tempo sem bola do que com bola…