Sinais a ter em atenção:

1. Lesões e doença prolongada
Jogadores com duas ou três ou mais lesões graves ao longo da sua carreira são até quatro vezes mais suscetíveis de desenvolver problemas de saúde mental. Nos jogadores de futebol no ativo que padecem de lesões prolongadas, 3% começa a fumar, 37% desenvolve ansie­dade ou depressão e 58% desregula a sua alimentação. Em caso de doença ou lesão prolongada que cause impedimento de treinar normalmente, é possível que se verifique perturbações do sono, alterações de apetite, ansiedade, depressão, fobia social ou medo do isolamento.



2. Mobilidade e desemprego
O ser humano procura e adapta-se a roti­nas. A mobilidade (entre cidades ou países), ou o término da atividade profissional por tempo indeterminado, implica alterações nos hábitos quotidianos que potenciam diferentes reações como perturbações do sono, alterações de apetite, ansiedade, fobia social ou medo do isolamento. Fazer um calendário semanal de atividades além dos treinos, procurando encontrar novos in­teresses no novo local de trabalho/residência, aproveitar para aprender sobre a língua e cultura locais no caso de estar num país estrangeiro e conviver com os jogadores na mesma situação para atividades conjuntas podem ser algumas medidas para reduzir os riscos de problemas maiores.



3. Contratos de trabalho
Mesmo tratando-se de uma atividade de desgaste rápido, a profissão de futebolista está sujeita a uma série de vicissitudes que podem suscitar problemas de distúrbios ou desequilíbrios mentais ou emocionais. Só para referir alguns, e segundo dados recolhidos pela FIFPro, importa observar que mais de 45% dos jogadores ganham menos de mil euros mensais, cerca de 41% já viveram situações de atraso nos salários e, em média, têm um contrato de trabalho de dois anos. A instabilidade e precaridade são situações com que os jogadores, muitas vezes, se deparam e as consequências podem ser menorizadas com apoio especializado.



4. Performance e queda de rendimento
A insatisfação prolongada com o próprio rendimento, a sensação de poder fazer mais e melhor e não estar a corresponder às expectativas, a insegurança face à iminente contratação de um atleta para a mesma posição ou uma ansiedade desmedida na antecâmara de um jogo importante podem ser sintomas de eventuais distúrbios a que importa ter atenção.



5. Pressão dos resultados
O medo de falhar, a falta de confiança face à pressão inerente à exigência por resultados, não só coletivos, mas sobretudo individuais, são fatores que podem suscitar ansiedade ou outros distúrbios. Quando a bola “queima” nos pés ou se registam alterações nos padrões do sono (se desperta a meio da noite ou se tem pesadelos de forma recorrente), há que tomar medidas e procurar apoio especializado.



6. Match-fixing
Uma das principais situações que, num determinado momento da carreira, pode afetar os jogadores é a tentativa de viciação de resultados por parte de terceiros. É importante que os atletas estejam particularmente sensibilizados para evitar este tipo de situações, não só pelas implicações legais adjacentes, mas também pelas repercussões ao nível da saúde mental que daí podem advir. Sempre que confrontado com uma situação deste género (como acontece, segundo apurou a FIFPro, a 11% dos jogadores em determinado momento da carreira), importa ter os seguintes procedimentos: reconhecer o problema e identificar a situação; rejeitar a abordagem, seja em que circunstâncias for; e reportar às entidades competentes.

7. Transição e final de carreira
Um dos momentos mais delicados na vida de um jogador prende-se com o final da carreira, que pode suceder a qualquer momento, seja por lesão, doença ou desemprego. Segundo um estudo apresentado por Vincent Goutterbagge, da FIFPro, entre os jogadores retirados, 18% sofrem de stress, 35% de ansiedade ou depressão e 65% têm a alimentação desregulada. É, por isso, de extrema importância acautelar medidas que permitam uma outra experiência profissional e não descurar os estudos é, nesse sentido, uma decisão que ganha especial relevo.



8. Dependências
O início do consumo de álcool, tabaco ou mesmo de drogas, assim como o hábito compulsivo de fazer apostas a dinheiro, pode retirar o foco no dia a dia e configurar-se como uma patologia. Caso esteja associada alguma ansiedade pelo consumo, verifica-se uma dependência, com todos os problemas inerentes. Seja qual for o tipo de dependência e sempre aconselhável o apoio psicológico especializado.



9. Instabilidade familiar
Um ambiente familiar instável pode ser um foco de distúrbios psicológicos e mentais, com a depressão ou a angústia. O divórcio é, segundo estudos realizados, a principal causa extra desporto para a quebra do rendimento dos jogadores. No caso de problemas conjugais, a solução pode passar pela rotura, mas também pela reconciliação. Nesse sentido, importa avaliar os objetivos de vida e perspetivar o futuro. A ajuda psicológica especializada pode ser um importante mecanismo para a resolução dos problemas.



10. Investimentos ruinosos e endividamento
A falta de planeamento, um endividamento exacerbado ou assumir um estilo de vida de maiores excessos são situações que por vezes se verificam nas carreiras dos jogadores – e até mesmo após o final da atividade. Viver acima das possibilidades, com uma taxa de esforço muito superior a 50%, é uma prática que por diversas vezes se verifica e constitui um fator de risco. Independentemente das verbas auferidas, a probabilidade da ocorrência de bancarrota prolonga-se até 12 anos após o final da carreira de jogador. Depressão e angústia estão normalmente associadas a este tipo de situações. Importa, por isso mesmo, acautelar o futuro e adotar um estilo de vida com menos excessos.



11. Discriminação e ódio (racismo, homofobia, violência no desporto)
O sentimento de marginalização ou discriminação são outro foco de risco no que à saúde mental diz respeito. Segundo dados recolhidos pela FIFPro, um em cada dez jogadores profissionais já foi vítima de discriminação e ódio, cerca de 10% já passou por violência física, 16% por ameaças à integridade, 15% sofreu de bullying e abuso e 7,5% foi alvo de discriminação com base na sua etnia, sexualidade ou crença religiosa. Denunciar este tipo de situações será sempre o primeiro passo a tomar.