“A formação académica ajuda-me a ser melhor em campo”


MIKE, futebolista de 23 anos do Santa Clara, tirou uma licenciatura em Sociologia, na área da Gestão, e reitera que é importantíssimo não largar os estudos.

Onde fez o seu percurso académico?
O curso de Sociologia foi na Universidade do Minho, em Braga, enquanto jogava no Fafe. A pós-graduação em Gestão e Recursos Humanos tirei-a na Faculdade de Economia do Porto.

 

A família e os clubes por onde tem passado têm apoiado as suas opções?
Sim. O clube chegou a alterar uma cláusula no meu contrato para eu poder ser trabalhador-estudante. E davam-me liberdade para ir fazer um exame e poder estudar à vontade. Nunca houve entraves da parte deles. Agora, eu também sabia que não podia estar a brincar demasiado. Um profissional tem de cumprir.

 

Faltam medidas que apoiem a conciliação do estudo com a profissão de futebolista?
Às vezes vendem-se demasiados sonhos aos jovens. Iludem-se muito facilmente e mesmo que não prossigam carreira com os estudos, acho que é sempre bom saber o que se passa no mundo. Como diz um professor meu, o saber não ocupa espaço. Mas há treinadores que dão ilusões a certos jogadores que têm qualidade e bem sabemos que nem todos conseguem chegar lá acima. Mesmo que tenhas potencialidades para ser um bom profissional, tenta abrir outras portas ao lado. As pessoas que estão à frente desses jovens precisam de ter consciência que não são apenas jogadores que podem rentabilizar. Como se vê, por exemplo, nos clubes grandes, que vão buscar miúdos a todo o lado e quando chegam a seniores não são rentabilizados e, depois, o que fazem da vida? É preciso ter cuidado.

 

O curso que está a tirar sempre foi ambição?
No início eu gostava mais de Direito, mas mudei de ideias porque me informei um bocadinho e percebi que era uma área sobrevalorizada. Percebi que seria mais pelo estatuto que dá o curso do que por gostar de exercer a profissão. Neste curso sinto que aprendi muito mais do que aprenderia num curso de Direito.

 

O SJPF está a criar um cheque-formação para que os jogadores possam frequentar determinados cursos. O que pensa da medida?
É positivo que um jovem sinta que tem um apoio. É claro que um apoio só não chega. Porque se sabe que, se o treinador fizer pressão ou se as coisas não correrem da melhor maneira, é fácil abandonar a universidade. É uma boa medida do SJPF, já dá para ter uma noção, mas a principal medida devem ser os clubes a tomá-la.

 

Um jogador com formação académica pode ser melhor em campo?
Sim, acho que é sempre bom. Mais do que nunca, tem de se pensar muito o jogo. Pode ser uma boa preparação, não apenas dentro do campo mas também fora dele. Aquilo que se criticava há muitos anos, de o jogador ser inculto e não saber nada, tem de se deixar de lado. Nas divisões de topo talvez nem tanto, mas vais ver os atletas das divisões inferiores e todos têm o 12º ano ou uma licenciatura. Acho que a formação académica pode ajudar um jogador a ser melhor em campo, por estar mais aberto para pensar e assimilar mais conhecimento, e também fora dele porque têm outra forma de ver o mundo.

 

Quando terminar a carreira, ficará ligado ao futebol ou prefere seguir carreira na área em que estudou?
Sinceramente, se puder ficar ligado ao futebol, fico. É uma coisa que me apaixona, faço-o por gosto e prazer. Se assim não fosse, já tinha saído há muito, porque a realidade do futebol português não é a melhor. Se calhar até poderia apostar numa carreira extra-futebol e, se calhar, dar-me-ia mais. Mas prefiro cumprir este sonho do que estar toda a vida a pensar no que poderia ter sido.

 

É visto pelos seus colegas como um exemplo a seguir? Aconselha-os a não abandonar os estudos?
Não sei se sou um exemplo a seguir. Não sei como as pessoas olham para mim. Mas aconselho-os sempre a não abandonar. Tenho aqui jovens de 18 ou 19 anos e só pensam neste ano e acreditam que já está tudo garantido. Por amor de Deus, não é? Agora já são jogadores da bola e não precisam de fazer mais nada da vida? Estou constantemente a dizer-lhes para não ir nessa ideia e tirarem um curso qualquer numa área de que gostem. Não sou apologista que tirem um curso só por tirar, mas não podem ficar só pelo futebol.

 

Abandonar os estudos precocemente é uma das maiores “pragas” de quem quer ser jogador profissional?
Sim, os estudos são uma saída. Com os estudos dá para viver, se o futebol não der. Quem estiver mais bem formado, está mais habilitado para lutar contra as dificuldades da vida. Tem outras ferramentas. Sem estudos é muito mais difícil.

 

Ficou surpreendido por ter ganho o prémio de Melhor Jogador Jovem da Liga2 Cabovisão do mês de outubro, entregue pelo SJPF?
Surpreendido fiquei pela nomeação. A parte de ganhar o prémio já depende muito da votação, até há gente que vota que não está no futebol. Mas fiquei muito orgulhoso por ter sido nomeado, é sinal que o trabalho está a ser valorizado e isso dá-me ainda mais vontade de trabalhar. Nunca imaginei que, na minha primeira época no Santa Clara, fosse nomeado. Já fazer parte da primeira equipa era logo muito bom.

 

Quais são as suas ambições para o futuro?
A minha ambição é sempre para cima. O meu sonho último é chegar à Seleção, mas sei que ainda tenho muitos patamares pela frente.

 

Qual a sua opinião sobre a atuação do SJPF?
Penso que tem feito um bom trabalho, ainda por cima nesta altura mais complicada, em que muitos clubes não cumprem, a nível financeiro e não só. Estamos a desvalorizar muito o jogador, estamos a ver o futebol à base do dinheiro que não há. Acho que o Sindicato tem conseguido dar esse apoio, sei que há jogadores que passam muito mal. Isso é essencial. Quando passamos por fases más, é fundamental que haja uma organização que possa dar um apoio assim.


PERFIL 

Nome: Mickael Pereira Moura

Data de nascimento: 01.10.1989

Posição: Defesa direito

Clubes: Fafe e Santa Clara