“É importante conciliar o futebol com os estudos”


Através do Sindicato teve conhecimento do Programa Novas Oportunidades e decidiu voltar a estudar. A frequentar o último ano  da licenciatura em Educação Física, o médio de 27 anos do Portimonense não esconde que deseja ficar ligado ao futebol quando terminar a carreira, de preferência englobado numa equipa técnica.

Onde fez o seu percurso académico?
O meu percurso académico, que ainda não terminou, visto que estou a frequentar o último ano de Educação Física, foi todo feito no Instituto Superior Manuel Teixeira Gomes (ISMAT), em Portimão.

A família e os clubes por onde tem passado têm-no apoiado relativamente aos estudos?
A família deu-me todo o apoio e até incentivou a que regressasse aos estudos e ao Ensino Superior. Relativamente ao clube, tento que a faculdade não interfira com os horários dos treinos, mas numa situação excecional em que necessite, o clube, principalmente a equipa técnica, compreende e apoia.

Acha que faltam medidas que apoiem a conciliação dos estudos com a profissão de futebolista?
Creio que sim. Na minha situação pessoal, estou há dois anos para terminar a licenciatura porque não tenho compatibilidade de horário, o que me leva a deixar sempre disciplinas em atraso. Uma parceria entre os clubes e as instituições de ensino facilitaria certamente aqueles que conciliam as duas coisas.

O curso que tirou sempre foi uma ambição?
Sinceramente nunca foi uma ambição, visto que o futebol desde cedo se tornou um sonho e uma prioridade. Mas na altura de voltar a estudar, só me interessaria por um curso ligado ao Desporto, daí a Licenciatura em Educação Física.

O SJPF está a criar um cheque-formação para que os jogadores possam frequentar determinados cursos. O que acha da medida?
Acho uma excelente iniciativa por parte do SJPF. A nossa profissão é curta e o ideal é que existam bases que nos possam assegurar o futuro. É importante, apesar de nem sempre ser fácil, conseguir conciliar o futebol com os estudos.

Um jogador com formação académica pode ser melhor em campo?
Penso que uma coisa não influencia a outra, apesar de o meu curso me ajudar efetivamente a perceber melhor o que é trabalhado nos treinos e os objetivos dos exercícios, por ser a minha área de estudo.

Quando terminar a carreira, vai ficar ligado ao futebol ou prefere seguir a área para a qual estudou?
Gostava de ficar ligado ao futebol um dia, quando terminar, até porque essa foi outras das razões pelas quais escolhi este curso. Pretendo ficar ligado ao futebol, incorporando uma equipa técnica, como adjunto. Uma vez que a função de treinador principal não me atrai muito, pelo menos ainda, não é algo que pense muito, porque ainda planeio jogar por mais alguns anos.

É visto pelos seus colegas como um exemplo a seguir? Aconselha-os a não abandonar os estudos?
Aconselho todos a não deixar os estudos. Creio que hoje em dia é uma ferramenta importante, não só para o futuro quando a carreira terminar, como para o nosso dia-a-dia.

Abandonar os estudos precocemente é uma das maiores “pragas” para quem quer ser jogador profissional?
Sem dúvida. Penso que agora não acontece tanto, devido ao papel das academias, mas é uma realidade. Hoje já existem vários exemplos de jogadores nas Ligas profissionais que conseguiram conciliar os estudos com o futebol. Penso que são esses os exemplos que os mais novos devem ter em conta.

O Programa Novas Oportunidades foi-lhe indicado pelo SJPF e permitiu-lhe concluir o ensino secundário. Quando deixou de estudar e porquê?
É verdade, foi através do SJPF que tive conhecimento do Programa Novas Oportunidades. Eu, como outros jogadores, acabei por aderir e terminar o ensino secundário. Deixei os estudos quando era júnior ainda, sem ter terminado o 12º ano, e lembro-me que dessa equipa de juniores poucos eram os que ainda estudavam. A principal razão foi porque treinávamos de manhã, logo faltava a essas aulas, e depois já não ia às da tarde, até que acabei por desistir para me dedicar só ao futebol.

Após o Novas Oportunidades, reconquistou o gosto pelos estudos?
O gosto não, mas a ambição de fazer algo mais. As Novas Oportunidades fizeram-me ver o quão é importante a formação académica nos dias que correm, ainda para mais numa profissão curta como é a nossa.

Também já participou no Estágio do Jogador, iniciativa do SJPF para jogadores desempregados. Como correu a experiência?
Naquele ano o Estágio do Jogador foi muito bom, tínhamos um excelente grupo do qual a maioria acabou por conseguir colocação. Ainda mantenho o contacto com muitos deles, hoje em dia. Penso que iniciativas como estas são de louvar e são uma enorme mais-valia para os jogadores. Foi muito importante para mim. É complicado passar pelo desemprego e o Estágio do Jogador permite-nos manter em atividade, ao treinar e jogar com várias equipas, ao mesmo tempo que nos ajuda a encontrar clube.

Qual é a sua opinião sobre a atuação do SJPF?
O SJPF tem vindo a ter um papel muito importante no que diz respeito à defesa do jogador, principalmente ao nível jurídico. São imensos os casos que situações irregulares em que o SJPF se tem prontificado a ajudar e creio que isso tem sido fundamental. A criação do Estágio do Jogador e o incentivo ao estudo só trazem benefícios aos jogadores. No geral o SJPF tem feito um excelente trabalho em prol do jogador de futebol.

Bruno Filipe dos Reis González
Data de Nascimento: 10/09/1986
Clubes: Esperança de Lagos e V. Setúbal (formação), Imortal, Ayia Napa (Chipre), Esperança de Lagos, Portimonense