“Vou voltar a estudar”


A relação entre o futebol e os estudos.

O jovem avançado do Gil Vicente fez uma pausa nos estudos para se concentrar mais no futebol e nos seus negócios, mas mantém o objectivo de terminar a licenciatura em Gestão Desportiva.

Em entrevista ao SJPF, Caetano fala da importância de conciliar os estudos com o futebol, para prevenir o futuro após o fim da carreira de jogador.

Onde fez o seu percurso académico?
Estudei num colégio no Porto e quando estava nos juniores entrei na faculdade, para o curso de Gestão de Empresas. Fiz algumas cadeiras do primeiro ano, mas quando fui para o Paços de Ferreira alterei, porque comecei com alguns ne­gócios ligados ao desporto – tenho dois ginásios – e fui para o ISMAI, para Gestão Desportiva. Fiz algumas cadeiras, en­tretanto fui para Barcelos e não consegui conciliar o futebol com os estudos, também por causa das viagens.

Mas quer retomar os estudos?
Sim, vou voltar a estudar. Como é lógico, quero terminar a minha licenciatura. Os jogadores de futebol têm tudo para conseguirem estudar. Como é o meu caso também. Com um bocadinho de sacrifício conseguimos, temos muito tem­po para estudar. Treinamos de manhã e temos a tarde livre.

A família e os clubes por onde tem passado têm-no apoiado relativamente aos estudos?
Sim, principalmente a minha família, que sempre me apoiou para os estudos desde miúdo. Aliás, nessa altura, se não tivesse boas notas ameaçavam-me e diziam que me tiravam do futebol. Nunca aconteceu, mas era para me incutirem essa responsabi­lidade de estudar e conciliar com o futebol. E os clubes também sempre me deram uma abertura para continuar a estudar. Isso aconteceu mais no Paços até.

É visto pelos colegas como um exemplo a seguir?
Neste momento não sou um exemplo porque fiz uma pausa nos estudos. Exemplos são o Tarantini e alguns outros casos de sucesso no futebol português, é pena que não haja mais. Mas quando estudava não me via como um exemplo.

Acredita que os jogadores se preocupam com o futuro após o futebol?
O jogador de futebol hoje está bem, tem um bom or­denado, então não liga a isso. Só vai dar valor quando terminar a carreira. Mas os jogadores são muito in­teligentes. Como se costuma dizer, um jogo de fute­bol é inteligência em movimento, então os jogadores têm de ter essa capacidade. Mas não têm conheci­mento noutras áreas, como a economia, política ou história, só percebem de futebol. E quando terminam a carreira têm muita dificuldade para entrar no mercado de tra­balho. São 20 anos nesta área, só um dia mais tarde vão dar valor aos estudos.



Acha que faltam medidas que apoiem a concilia­ção dos estudos com a profissão de futebolista?
O Sindicato dá todo o apoio que precisamos para estudar. É só uma questão de mentalidade dos jogadores, embora seja muito difícil estudar a 100% e jogar futebol. Mas acho que é possível ir fazendo algumas cadeiras. Ou seja, uma licenciatura que um estudante normal faz em três anos, um jogador pode fazer em nove. Isso acho que é possível. Mas não sou o exemplo a seguir, agora não estou a estudar. Com mais sacrifício seria capaz, mas quero dedicar mais tempo ao futebol e concentrar-me só nisso nesta fase da minha carreira, que é muito importante.

Já que fala nisso, qual é a sua opinião sobre a ac­tuação do Sindicato?
É muito boa, muito positiva. O Sindicato já demonstrou que está sempre presente em causas como a do Daniel, por exemplo, quando deixou de jogar no Gil Vicente, ou do Fábio Faria, que foi meu colega de equipa. Dá sempre o apoio necessário aos jogadores e acho que faz um trabalho muito bom.

Abandonar os estudos precocemente é uma das maiores “pragas” para quem quer ser jogador profissional?
Acho que sim, mas os jogadores abandonam os estudos muito cedo porque acham que o futebol é mais importante. Ser joga­dor de futebol é uma coisa do outro mundo, não é para qualquer pessoa. É o sonho de todas as crianças. O ideal é conseguir tirar algum tempo para estudar, pelo menos duas ca­deiras por semestre. Já é muito bom. E até é bom para nos distrairmos e pensarmos noutra coisa. Acaba por ser um escape para toda a pressão que existe no futebol.

É filho de um antigo jogador profis­sional, também conhecido por Caeta­no. Costuma ouvir comparações?
Sim. O meu pai para mim é um exemplo. É o meu ídolo e fico contente quando me comparam a ele pela pessoa que é. Para mim é um elogio. E é sinal de que as coisas estão bem encaminhadas.

Esteve a um pequeno passo de se sagrar campeão mundial de sub-20. Caso Portugal tivesse ganho, acha que as vossas carreiras teriam sido dife­rentes?
O Mundial trouxe coisas muito boas, desde logo uma visibili­dade que até essa altura não tínhamos. Penso que havia dois ou três jogadores que jogavam na I Divisão e puderam melho­rar os contratos, outros foram para o estrangeiro, melhorou a vida de muitos jogadores. Claro que se tivéssemos ganho seria diferente, mas já foi muito bom. Demos uma boa imagem de Portugal e foi marcante para todos. Para quem participou foi inesquecível.

Perfil

Nome: Rui Miguel Teixeira Caetano
Data de nascimento: 20 de Abril de 1991
Posição: Avançado
Clubes que representou: Paredes (de 2001 a 2003), FC Porto (de 2003 a 2010), Paços de Ferreira (de 2010 a 2013) e Gil Vicente (de 2014 até ao presente).