“Os árbitros devem falar no final dos jogos”


Ex-árbitro em entrevista à "JOGADORES".

O madeirense Marco Ferreira defende que os árbitros devem falar no final dos jogos para explicar algumas decisões e estar mais próximos dos adeptos. Até porque o erro da parte do árbitro tem de ser compreensível.

Estreou-se na I Liga num Naval-Paços de Ferreira (2-1), em 2007/08. O que recorda desse jogo?
Foi um marco histórico para mim e para a minha família, que via­jou em massa para me apoiar. E as duas equipas, sabendo que era a minha estreia, no final do jogo ofereceram-me camisolas assinadas por todo o plantel. Vão ficar guardadas para sempre.

Ser árbitro é apelativo para os jovens?
Acho que sim. É uma maneira de estar ligado ao futebol e com a Academia de arbitragem há uma formação para uma profissão que muitos jovens ambicionam.

Acha que os árbitros também deviam de falar no final dos jogos como fazem os jogadores e os treinadores?
Penso que sim. Muitas das pessoas que falam sobre arbitragem nem sabem as leis de jogo e se pudéssemos falar explicávamos o motivo de uma decisão. Se ouvissem a nossa versão para si­tuações pelas quais somos criticados se calhar iriam perceber.

A profissionalização melhorou a arbitragem?
Todos nós praticamente já éramos profissionais na forma como encarávamos a arbitragem. A diferença é que essa dedicação ago­ra é recompensada financeiramente e passou a ser a actividade principal. Logicamente que isto leva algum tempo, nem todos os árbitros são profissionais, temos dois anos de profissionalismo.

De 0 a 5, que nota daria à arbitragem portuguesa?
Não daria o 5 porque nada é perfeito, mas o 4. Tivemos árbi­tros considerados os melhores do mundo, somos dos melhores a nível físico e de sinalética, ultimamente estivemos sempre nas fases finais de Mundiais e Europeus e em finais da Liga dos Campeões. Temos uma posição muito boa a nível mundial, tra­balhando no amadorismo, sem ter a formação da Academia.

O árbitro é o elo mais fraco do futebol?
Não, muito pelo contrário. Infelizmente, é visto assim pela so­ciedade. Não temos adeptos, não temos sócios, temo-nos a nós próprios. Muitas vezes as pessoas olham para nós como o moti­vo dos maus desempenhos das suas equipas, porque num jogo com 300 decisões, das quais acertamos 290, temos um erro e somos vistos como o elo mais fraco. E um alvo fácil.

Como vê a relação entre as associações de classe?
Temos visto as associações das várias classes tomar posições em sintonia, o que é saudável. Infelizmente, isto não é muito fa­lado, interessa mais a polémica.

A recente passagem da gestão dos patrocínios da Liga para a APAF é uma vitória para a arbitragem?
Vejo isso como algo normal. Se temos uma associação de clas­se, por que não é ela a gerir os nossos patrocínios? O benefício é para nós, nós é que temos de trabalhar por ele. E também os di­reitos de imagem, que ainda não existem mas deviam de existir.

Ser internacional aumenta a responsabilidade?
Conquistei essa insígnia a ser árbitro em Portugal. A responsa­bilidade que temos é a que impomos a nós próprios. Os jogado­res trabalham uma semana para tentarem alcançar uma vitória e temos de perceber que às vezes um erro nosso deita a perder aquela semana de trabalho ou até mesmo uma época.

É a favor das novas tecnologias no futebol?
Defendo tudo o que seja para minimizar o erro. Principalmente para a validação de um golo, ver se a bola entrou ou não. Tudo o que seja além disso não é positivo, como as paragens de jogo para ver as imagens. Os jogos ganham-se com erros dos adver­sários, o erro da arbitragem também tem de ser compreensível.

Acha que os árbitros de baliza vieram ajudar?
Sem dúvida. Há um problema que ainda não foi explicado: o assistente tem uma bandeirola que é visível quando toma uma decisão, o árbitro tem um apito que é audível quando toma uma decisão, o árbitro de baliza não tem nem bandeirola nem apito, toma as decisões a nível verbal, de apoio ao árbitro e muitas das decisões dentro da área são tomadas pelo árbitro de baliza.

Já viu jogadores talentosos ao ponto de querer sen­tar-se na bancada a ver?
Se posso estar dentro de campo prefiro isso do que ver da ban­cada. [risos] Um bom jogador não passa despercebido e até gostamos de estar dentro do campo com excelentes executan­tes. Temos uma posição privilegiada e muitos adeptos gosta­vam de estar no nosso lugar a privar com os jogadores.