“Quero pôr a minha capacidade à prova”


O novo desafio do treinador português.

Acabou de se sagrar campeão da II Liga com o Tondela e a ambição está presente em todos os projectos que abraça. Foi o que o levou ao V. Setúbal e quem sabe, no futuro, até ao sonho da Liga Alemã.

O que o levou a aceitar o convite do V. Setúbal?
Foi por ser um histórico do futebol português, com uma massa associativa enorme e por ser um desafio difícil. E gosto destes projectos. Quero pôr a minha capacidade à prova.

O que significa este título da II Liga?
Os treinadores vivem de troféus, para mim foi o segundo em quatro anos e são os títulos que nos levam a outros patama­res. Tem também um sabor especial por chegarmos ao final da época e vermos que fizemos tudo bem.

Como surgiu a oportunidade de entrar no futebol?
Quando acabas uma carreira de muitos anos como jogador pensas em ficar ligado ao futebol e queres saber se tens capa­cidade para treinar. Quando acabei fiquei um ano de fora, entre­tanto apareceu o convite de um clube da III Divisão.

Na I e II Ligas são raros os treinadores estrangeiros. É um sinal do valor do treinador português?
Sem dúvida. Mourinho virou uma página no futebol nacional e começou-se a olhar para os treinadores portugueses de uma forma diferente. Os três grandes conseguiram chegar a finais europeias com treinadores portugueses, os dirigentes reconhe­ceram-nos competência e viram que somos uma boa escola e que fazemos bons trabalhos.

Os técnicos portugueses estão mais qualificados ou houve uma mudança de mentalidades dos dirigentes?
Também poderá ter a ver com uma mudança de mentalidade, mas fundamentalmente tem a ver com a nossa capacidade porque ninguém aposta num treinador por apostar ou no mer­cado português se nós não conseguíssemos resultados.

Os dirigentes estão mais pacientes com os treinado­res e já não recorrem tanto à chicotada psicológica?
Penso que perceberam que o facto de trocar por trocar não é a solução. Às vezes não se ganha mas o trabalho está a ser bem feito. Hoje, com alguma paciência e também pelo facto de não haver tanto dinheiro, não há tantas chicotadas.

Tem assistido a diferenças nas relações entre trei­nador e jogador nos últimos anos?
Sim, essa relação também tem evoluído. O treinador não deixa de ser o líder, mas há um relacionamento diferente.

A classe dos treinadores é unida?
Podia ser mais. Nos últimos anos tem mudado um pouco, con­versa-se mais e antigamente era tudo muito fechado.

Tem a ver com a concorrência natural que existe?
É possível. Isto é tudo muito bonito mas se não conseguirmos resultados temos 50 treinadores que querem o nosso posto. E temos de bater essa concorrência. No futebol, o amigo rouba o lugar ao amigo. Um jogador não joga e mesmo sendo amigo do titular quer roubar-lhe o lugar. Nos treinadores é igual. Por isso, classe unida? Muito sinceramente, não me parece.

Tem alguma referência como treinador?
Sim, nós vemos em Mourinho alguém que nos deu outras luzes em termos de treino. E gostei muito do Co Adriaanse quando esteve no FC Porto pelo facto de jogar com três defesas. Foi o único que fez isso em Portugal. Os sistemas cá não fogem muito do 4-3-3 e do 4-4-2 e ele teve coragem em alterar tudo.

Até onde quer chegar enquanto treinador?
Queremos atingir o topo, que passa por grandes clubes. Nem todos o conseguem, mas isto é com títulos, que é aquilo que tenho conseguido. Estive em três clubes da II Liga, subi dois, e as vitórias são fundamentais para se conseguirem objectivos.

Já teve duas experiências no estrangeiro. O que guar­dou de cada uma delas?
Na primeira fui um bocadinho ao engano. Prometeram-me uma coisa mas chegámos lá e era outra. A segunda, na Poló­nia, foi muito boa. Era um grande clube e só não correu bem por motivos extra-futebol. Quando se querem meter no nosso trabalho é uma situação difícil de gerir.

Em que Liga sonha treinar?
Na alemã. Pelo ambiente e pelo facto de falar a língua.

Que impressão tem do Sindicato dos Jogadores?
Enquanto jogador fui sócio. É uma classe que tem agora mais força e é muito importante para o futebol.


Perfil

Nome: Joaquim (Quim) Machado Gonçalves
Data de nascimento: 10 de Outubro de 1966
Clubes como treinador: AD Oliveirense, Tirsense, Feirense, Vasas (Hungria), Chaves, Lechia Gdansk (Polónia), Tondela e Vitória de Setúbal.