“Há uma maior interacção entre os jogadores e o treinador”


A relação entre treinador e jogadores.

Era um lutador no meio-campo e vestiu a camisola de clubes como Sporting ou Boavista. Agora, Pedro Martins ganha batalhas tácticas, num percurso sustentado que espera um dia levá-lo à Selecção ou à Liga Inglesa.

O que o levou a aceitar o convite do Rio Ave?
Foi o projecto. O clube tem vindo a crescer, as pessoas são dinâ­micas e têm feito um trabalho excepcional. Senti que satisfazia as minhas pretensões para o futuro em termos de carreira. E es­tar na Liga Europa também teve o seu peso, não o vou esconder.

Para quando um grande?
Estou a fazer o meu percurso de forma sustentada, o meu tra­balho é reconhecido, as minhas equipas demonstram qualidade de jogo e coragem, e consigo implementar a forma de jogar que pretendo. Quero dar continuidade ao que tenho feito.

Quando começou a pensar a sério em ser treinador?
Foi perto dos 30 anos. Os meus colegas incentivaram-me, até lá não pensava em ser treinador. A partir do momento em que comecei a tirar o I nível o gosto tornou-se cada vez maior. Depois é tudo uma bola de neve até chegar aqui.

Na I e II Ligas são raros os treinadores estrangeiros. É um sinal do valor do treinador português?
Disso não há dúvidas. Na I Liga temos um treinador muito com­petente no FC Porto, o Lopetegui, e o resto são portugueses. É uma valorização do treinador português e os clubes saberem que há treinadores portugueses com muita qualidade.

Tem assistido a diferenças na relação entre treina­dor e jogador nos últimos anos?
Sim, há uma interacção cada vez maior. Aquele treinador que ha­via há 30 anos era uma figura de grande autoridade e muito dis­tante do grupo. Até o processo de treino visa essa aproximação.

Refere-se àqueles métodos em que corriam na praia?
Havia treinadores que punham os jogadores a correr na estrada e eles iam de carro a acompanhá-los. Havia de tudo. E aqueles que treinavam uma equipa e outra à distância. Mas era tudo en­tregue ao treinador, desde a constituição dos plantéis a toda a logística. Agora cada secção tem um profissional competente.

Qual é a principal virtude que um treinador deve ter para conquistar um grupo de trabalho?
Pode ser pela capacidade de motivar, pela liderança, pela meto­dologia do treino... Há várias formas para ter sucesso.

Tem alguma referência como treinador?
Destaco o Henrique Nunes, o Álvaro Carolino, infelizmente já fa­lecido, o Carlos Queiroz, muito forte no processo de treino, e o José Couceiro, pela forma como comunica.

A classe dos treinadores é unida?
Não. Há uma relação profissional, de respeito e consideração, mas unidos não somos. É um mercado altamente competitivo. Por vezes não basta ter competência há muita coisa em jogo. E como há tanta gente para tão poucos lugares não é fácil...

Em que Liga sonha treinar?
Na inglesa. Pela essência, por toda a envolvência, penso que é uma liga onde a maior parte dos treinadores gostaria de estar.

Qual foi a equipa que mais o seduziu pelo estilo de jogo?
Internamente gostei do FC Porto de Mourinho, foram dois anos excelentes. Lembro-me do Dínamo de Kiev de 86, era uma equi­pa fantástica, a base da selecção, e do Brasil de 82. Infelizmente perdeu com a Itália do Rossi e se calhar mudou a própria essên­cia do futebol, que se tornou muito mais táctico e cauteloso.

Alimenta o sonho de vir a ser Seleccionador Nacional?
Alimento, como é evidente. Seria um orgulho servir a Selecção. Não por agora, não a breve prazo, mas penso que qualquer trei­nador gostaria de treinar a selecção do seu país.

Foi um dos treinadores do Estágio do Jogador, em 2007 e 2008. O que guarda dessa experiência?
Deu-me uma bagagem tremenda. O maior orgulho que posso ter é que muitos jogadores foram colocados. Motivar aquela gente para um bem que é muito individual deu-me competências muito válidas. E permitiu-me, porque também estava a começar, trei­nar exercícios em que eles foram cobaias para aquilo que pre­tendia. Foi muito importante.

Que impressão tem do Sindicato dos Jogadores?
É um trabalho fantástico, parabéns! Só quem está dentro perce­be as dificuldades de alguns jogadores. E os torneios internacio­nais são de uma enorme valia. Se calhar vou dizer uma enormi­dade que não faz sentido para o exterior, mas representam Por­tugal e têm ali uma visibilidade que muitos nunca imaginaram.


Perfil
Nome: Pedro Rui da Mota Vieira Martins
Data de nascimento: 17 de Julho de 1970
Clubes como treinador: Vitória de Setúbal, FC Porto e Belenenses (adjunto), União de Lamas, Lourosa, Sp. Espinho, Marítimo B, Marítimo e Rio Ave.