"Um treinador tem de ser coerente nas escolhas"


As virtudes para conquistar os jogadores.

O treinador do Famalicão, Daniel Ramos, tem três subidas no currículo e quer treinar na Primeira Liga.

Acredita que se der esse passo dificilmente sairá de lá. Já sobre a Selecção, nem sequer pensou nisso.

O que o levou a aceitar o convite do Famalicão?
O projecto. À terceira abordagem aceitei porque o presidente foi persistente e seduziu-me com argumentos válidos, de con­tinuidade, com um contrato de dois anos e quatro meses, e com autonomia, juntamente com o Rui Borges, o director desportivo.

Trazer o clube de volta às provas profissionais, que falhava desde 1996, é motivo de grande orgulho?
Sem dúvida, também pelo progresso do clube. Melhorámos ao nível logístico, no recrutamento, criou-se um departamento de scouting... Introduzimos um conjunto de aspectos, porque também nos foi dada essa capacidade, e fomos bem-sucedidos. E subimos logo, quando era suposto ser só no segundo ano. Tirar o clube da quase descida de divisão e levá-lo às ligas pro­fissionais em um ano e quatro meses é um orgulho enorme.

Com todas essas mudanças e tendo uma massa adepta tão forte, há condições para voltar em breve à I Liga?
Temos todas as condições, mas isso também passou pelo cres­cimento e pelos resultados porque quando cá cheguei tínha­mos 500 pessoas na assistência. Agora temos mais de três mil.

Foi a sua terceira subida, depois de já o ter conseguido com o Trofense e o União. Já se sente um especialista?
Isso da especialidade tem muito que se lhe diga! Subir três ve­zes é sinal de mérito da equipa, da equipa técnica, de directores desportivos competentes e de uma Direcção que nos apoia. Gostava que fossem três subidas à I Liga, mas estou mais competente e sinto-me mais à vontade para, agora na II Liga, e quem sabe um dia na I, ter resultados igualmente positivos.

Quando é que decidiu ser treinador?
Fui treinador à força! Era treinador interino do Vilanovense, onde deixei de jogar cedo, devido a uma lesão grave num joelho. Assumi numa fase de transição, num jogo fora contra o FC Por­to B. Empatámos e, no jogo seguinte, novamente muito difícil, contra o União para a Taça de Portugal, vencemos por 2-1 e o clube convidou-me. Passei a treinador principal com 30 anos.

Tem alguma referência como treinador?
Tenho várias. As minhas referências são os treinadores ganha­dores. O Mourinho, o Klopp, o Guardiola... São todos referên­cias, cada um ao seu jeito.

Na I e II Liga são raros os treinadores estrangeiros. É um sinal do valor do treinador português?
É a confirmação. Acho que estamos no top 3 a nível mundial. Os estrangeiros são bem-vindos desde que tragam qualidade, mas acredito que existem muitos portugueses capazes de dar resposta na I Liga, assim como para saírem e darem resultados.

A classe dos treinadores é unida?
Pouco unida, devia de ser mais. É unida q.b. em momentos importantes. Se os treinadores fossem mais unidos tornariam a classe mais competente, mais exigente e mais ouvida.

Tem a ver com a forte concorrência que existe?
Tem a ver com uma revolução que terá de haver e encontrar as pessoas para dar esse passo. Era preciso alguém, com força e passado, que agregasse os treinadores para depois debater aspectos importantes que trouxessem melhorias à classe.

Qual é a principal virtude que um treinador deve ter para conquistar um grupo de trabalho?
Tem de ser coerente. Ser sincero e coerente nas escolhas.

Tem assistido a diferenças na relação entre treina­dor e jogador nos últimos anos?
Enquanto jogador fazia o que o treinador me pedia, não per­cebia muito bem o jogo. Actualmente os jogadores percebem melhor o jogo, os seus momentos e, com ou sem informação por parte do treinador, estão mais preparados fruto daquilo que os treinadores lhes foram passando nos últimos anos.

Que equipa mais o seduziu pelo estilo de jogo?
Nos últimos anos tem havido várias com comportamentos extremamente importantes e falo do Barcelona, Real Madrid, Bayern... São equipas que têm tido sucesso e jogam de forma diferenciada. Não existe um só caminho para se ter sucesso e não é só o futebol atractivo que deve ser elogiado, mas também o ganhador. Olho para os dois de igual forma.

Em que campeonato sonha treinar?
Em qualquer um dos grandes campeonatos europeus.

Alimenta o sonho de vir a ser seleccionador?
Nem pensei nisso sequer! [risos] Quero progredir. Sinto-me preparado para treinar na I Liga e estou convencido de que quando lá chegar dificilmente sairei de lá. O meu foco está em fazer mais uma época positiva e esperar essa oportunidade.

Que impressão tem do trabalho do Sindicato?
É louvável. Já presenciei um conjunto de casos e o caminho do Sindicato tem sido muito sólido e permite que os jogadores tenham segurança. Está no bom caminho e tem credibilizado a sua acção no futebol português.

Perfil
Nome: Daniel António Lopes Ramos
Data de nascimento: 25 de Dezembro de 1970
Cargo: Treinador principal
Clubes que representou como treinador: Vilanovense, Dragões Sandinenses, Chaves, Trofense, Moreirense, Gondomar, Vizela, União da Madeira, Naval, Ribeirão e Famalicão.