“Os critérios do mérito devem prevalecer”


Na presidência do Conselho de Arbitragem da FPF desde junho de 2016, o ex-presidente da APAF acredita que a introdução do vídeo-árbitro no futebol é o caminho a seguir e aponta para o reforço da arbitragem em meios técnicos, formativos e humanos.

Era presidente da Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol (APAF) e agora preside ao Conselho de Arbitragem da Federação Portuguesa de Futebol (FPF). Qual é a sua estratégia para o futuro da arbitragem?
Assumi, com muita honra e grande sentido de responsabilidade, o cargo, aceitando o desafio do Presidente Fernando Gomes. Temos um projeto de valorização da arbitragem portuguesa e que passa pelo caminho da profissionalização, que é irreversível e pelo reforço das condições do setor, nomeadamente o investimento crescente em meios técnicos, formativos e humanos. Temos um programa exigente e ambicioso, com 30 pontos, e que prevê a integração de uma comissão que estudará e apresentará um plano de carreira para árbitros, assistentes e observadores.

Quais são as funções ligadas ao seu cargo?
O presidente do Conselho de Arbitragem da FPF lidera uma estrutura com três secções (profissional, não profissional e classificações) e 11 membros (três vice-presidentes e sete vogais com qualificações específicas do setor da arbitragem). Assume e desenvolve os objetivos para o setor da arbitragem, missão que me move diariamente, até 2020.

No que é que a profissionalização melhorou o setor?
Era um passo fundamental. É um caminho já irreversível, mas ainda incompleto. Num futebol que é altamente profissional em todas as áreas, só faria sentido que o setor da arbitragem também o fosse. O nosso objetivo é o de alargar o quadro da profissionalização a cada vez mais árbitros. Sabendo que este é um caminho progressivo, não seria possível que, de uma só vez, todos os árbitros da primeira categoria se tornassem profissionais. Estamos a trabalhar na criação de mecanismos de sustentabilidade financeira para reforçarmos o projeto de profissionalização.

Para esta época foram revistas algumas das leis do jogo. Estas alterações eram necessárias?
Foram 95 - em questões como as infrações na área de penálti, o fora de jogo ou as faltas fora de campo -, e o objetivo foi o de torná-las mais simples e compreensíveis para todos e alcançar um equilíbrio maior entre as sanções coletivas e individuais.

O vídeo-árbitro foi testado pela primeira vez na Supertaça e Jorge Sousa foi novamente escolhido para o Itália-Alemanha. A experiência está a ser positiva?
Altamente positiva. E estamos na vanguarda desse processo. A FPF está desde o início no projeto do vídeo-árbitro e só assim foi possível que Jorge Sousa tivesse desempenhado esta função nesses jogos. Também neste capítulo a FPF está no bom caminho e isso tem sido reconhecido pelos responsáveis da arbitragem da UEFA e da FIFA. Testámos em mais dois jogos da Taça de Portugal e temos mais experiências previstas nesta competição.

Acredita que será implementado?
Estou convicto disso. É o caminho a seguir e há um forte consenso internacional. O projeto no qual a FPF está envolvida tem a duração de dois anos e há vários passos. É obrigatório passar por uma bateria de testes antes de ser implementado, o treino é essencial. O caminho correto é este e estamos a liderá-lo.

Atualmente os árbitros são nomeados, mas durante muitos anos eram sorteados. Por que é que a alteração não foi feita mais cedo?
Nesse tema, não nos assaltam dúvidas: somos pela nomeação. Os critérios do mérito devem prevalecer.

Existe um secretismo em redor das notas dos árbitros. Não seria mais transparente torná-las públicas?
Defendemos e praticamos a transparência, mas também temos de respeitar as normas internacionais. A FIFA e a UEFA não permitem essa divulgação. No programa eleitoral para este mandato, o Presidente Fernando Gomes defende a publicação dos relatórios dos árbitros. Somos pela transparência e praticamo-la.

Artur Soares Dias poderá ser um dos 12 árbitros europeus presentes no Mundial de 2018. Acredita que tem condições para integrar o grupo de elite, sem árbitros nacionais desde a saída de Pedro Proença?
É um dos nossos melhores árbitros e tem dado várias provas da sua capacidade, a nível nacional e internacional. Temos valores e capacidades para voltarmos a estar representados ao mais alto nível no plano internacional. Será uma questão de tempo.

Os árbitros também deviam falar no final dos jogos, como fazem os jogadores e os treinadores?
Não podem fazê-lo, há prerrogativas da FIFA que o impedem. Outra coisa é defender uma cada vez maior transparência e abertura dos árbitros, no sentido de terem uma atitude pedagógica em relação à sua atividade. Acreditamos que quanto mais as pessoas conhecerem a complexidade da função e preparação de um árbitro, mais terão a noção da dificuldade do desempenho e da importância de respeitarmos e valorizarmos a sua função.

Como tem visto a atuação do SJPF?
Tem tido um papel muito importante na dignificação do futebol português e, em concreto, do jogador português. Temos as melhores relações com o SJPF e com o seu presidente.

Como é que o Conselho de Arbitragem e o SJPF podem trabalhar juntos em prol do futebol português?
Temos objetivos em comum e o principal deles é o de tornar o futebol português cada vez melhor. Temos o interesse comum de trabalhar para que o espetáculo seja cada vez mais atrativo, que o tempo de jogo seja cada vez maior, que haja fair play e cada vez menos cartões e faltas. Árbitros e jogadores são aliados na construção de um futebol cada vez melhor.

Foto: Diogo Pinto/FPF.