“Vir para Portugal foi a melhor decisão”


Trocou o calor do Rio de Janeiro pelo frio de Paços de Ferreira, mas hoje sente que tomou sempre as melhores decisões e não se vê a jogar noutra Liga que não a nossa. O futebol português agradece.

Depois de seis anos a viver em Portugal optou pela naturalização. Satisfeito pela dupla nacionalidade?
No início fazia-me confusão jogar na Europa sendo estrangeiro, sem ser comunitário, mas fui-me adaptando. Depois nasceram as minhas filhas, gostamos muito de viver cá. Hoje, depois de tantos anos aqui, quando voltamos para o Brasil sentimos muitas saudades. É o melhor sintoma de que gostamos de viver cá.

As suas filhas são portuguesas?
Na verdade, nasceram no Brasil. Uma nasceu em abril e a outra em maio, no final da época, então achámos que a minha esposa teria mais assistência com a ajuda da família.

Chegou a Portugal em 2008, depois de no Brasil ter jogado no Vasco da Gama. Como foi a adaptação?
Foi um choque. Lembro-me que quando entrei em Paços de Ferreira, na reta de Frazão, pensei: “caramba, onde é que vim parar?” Só sabia que era um clube próximo do Porto, nem sabia as cores! Quando cheguei vi as diferenças, mas hoje sei que a grandeza não se mede pelo tamanho, mas pelas atitudes. Hoje, depois de nove anos em Portugal, vejo que foi a melhor decisão.

Qual foi a maior dificuldade de adaptação? O frio?
No início foi a língua. Vivia perguntando: “o quê? Como?” Depois foi o frio. Saí do Rio com 35/40ºC e no meu primeiro ano no Paços até nevou! Hoje o Paços tem outras condições e fico feliz por ter feito parte do crescimento do clube, mas para nos aquecermos tínhamos de colocar um maço de algodão, enchê-lo de álcool, deitar fogo e botar na nossa frente porque o balneário não tinha muitas condições. Cada um tinha a sua fogueirinha particular.

E na rua? Os portugueses são um povo hospitaleiro?
No início, eu e a minha esposa tínhamos alguma dificuldade porque estávamos habituados a conviver e o português está cada um na sua. Quando cheguei, estava aqui, mas a cabeça ainda estava no Brasil. Mas hoje a gente vive completamente a vida de Portugal, pegámos esse jeito português, um jeito de viver do qual gostamos muito e hoje sentimo-nos como portugueses.

Veio com o objetivo de entrar na Europa e depois saltar para uma Liga mais atrativa ou não fez esses planos?
Sim, quando vim era pela experiência. Pensava ficar pouco tempo aqui em Portugal e ir para outra liga, mas a vida foi-me mostrando que a melhor opção era ficar aqui.

Qual foi a época mais marcante em Portugal?
Obviamente que as conquistas são sempre marcantes e conseguir um terceiro lugar num campeonato tão difícil como a nossa Liga, num clube como o Paços de Ferreira, é uma coisa de se assinalar. Foi aquilo que mais me marcou. No Rio Ave encontrei uma situação muito profissional, dos melhores clubes que há em Portugal. E no Arouca era o amador no bom sentido. Era o patinho feio, éramos nós contra todos os outros. E quando conseguimos a manutenção foi uma festa linda! Adorei ter jogado no Arouca.

E o melhor jogador com quem jogou?
É muito difícil. Tive o privilégio de jogar com muitos bons jogadores. Bons avançados, bons centrais, bons laterais... E vi jogadores em que pensava: “esse cara não joga nada mas gosto de jogar com ele porque confio nele.” É difícil dizer só um nome e é injusto para os outros, porque apanhei jogadores muito bons.

Que diferenças existem entre o Brasileirão e a I Liga?
São muitas. Aqui há três ou quatro equipas a lutar pelo título, seis ou sete a lutar pela zona europeia e tem os outros que vão lutar pela manutenção, todo o mundo está a lutar por alguma coisa. Já no Brasil, um jogador sente-se bem, é reconhecido na rua. Enquanto aqui há três ou quatro candidatos, lá tem dez ou doze. É um campeonato muito longo, muitas jornadas e muitas viagens. Chega ao fim da competição e os jogadores estão arrasados. Mas é um campeonato bom, sempre com estádios cheios.

Alguma vez foi sondado pelos grandes?
Sim. Naquela altura não deu certo. Fiquei feliz por se terem lembrado, mas as minhas escolhas foram sempre à volta de Paços de Ferreira. Sempre dei preferência para estar próximo. Quando fui jogar no Arouca vivia em Paços, agora jogo no Rio Ave e vivo em Paços, isso também influenciou.

Que opinião tem do trabalho do SJPF?
Pelo que tenho visto, é um trabalho formidável. Está sempre junto aos jogadores. É muito fácil estar junto dos jogadores que têm muito sucesso, mas o que vejo, com os jogadores que têm problemas de salários em atraso ou de escolaridade, o Sindicato está sempre buscando uma solução e está presente. Por isso, estão de parabéns.

Aos 36 anos ainda pensa em jogar no Brasil ou vai acabar a carreira em Portugal?
Muito provavelmente vou ficar por aqui. Não me tornei português só agora, já foi há algum tempo. Não me vejo a voltar ao Brasil para jogar. A vida está estabilizada aqui, as crianças e a minha esposa estão bem, temos muitas amizades por cá, o nosso futuro está aqui mesmo.

Perfil
Nome: Cássio Albuquerque dos Anjos
Data de nascimento: 12 de agosto de 1980
Posição: Guarda-redes
Clubes que representou: Olaria, Bangu, América RJ, Vasco da Gama e Macaé (todos do Brasil), Paços de Ferreira, Arouca e Rio Ave.