“O treinador português está num patamar de excelência”


Seguir as pisadas de Paulo Fonseca é a ambição do mais jovem técnico das ligas profissionais.

Como é que nasceu a paixão pelo treino?
Foi crescendo à medida que a idade foi avançando nos escalões de formação, enquanto atleta. Depois, com o passar da idade, o interesse pela forma como as equipas jogavam de forma diferente, fazia-me questionar o porquê e que influência teria nisso o papel do treinador. Além disso, tinha a vontade de me licenciar em Educação Física e Desporto. A conjugação desses fatores levou-me a entrar na Faculdade e, logo no final do 1º ano, pedi ao coordenador da altura no Paços de Ferreira se haveria a hipótese de estagiar em alguma equipa da formação. Essa oportunidade foi-me concedida pelo Rui Quinta, uma pessoa que me ajudou muito nas diferentes áreas. A partir daí, a discussão promovida pelo Rui com todos os treinadores, a envolvência no departamento, criou uma vontade muito grande para que pudesse seguir a profissão.

Alguma vez pensou ser jogador de futebol?
Comecei a jogar nas escolinhas do Paços aos 8 anos... e claro, durante largos anos, alimentei o sonho de ser jogador de futebol. Mas com a subida nos escalões de formação, comecei a constatar que a minha qualidade era inferior à dos meus colegas. Era dedicado, não faltava aos treinos, procurava treinar no máximo, mas o facto de não ser, consecutivamente, das primeiras opções, fazia-me perceber que a qualidade provavelmente não me permitiria seguir esse sonho. No entanto, nunca desisti e acabei por fazer toda a formação no clube, até à ultima época de júnior, quando deixei de jogar e orientei o meu percurso para a Faculdade. 

Na Primeira Liga não há treinadores estrangeiros. É sinal do valor do treinador português?
Acredito que sim. O valor do treinador português tem crescido ao longo dos anos. As diversas experiências bem-sucedidas dos muitos treinadores portugueses, quer em Portugal quer pelo mundo, colocaram o treinador português num patamar de excelência, por mérito e pela entrega que todos têm dado à classe.

A relação treinador/jogador tem mudado ao longo dos anos?
Penso que sim. Os jogadores foram considerados durante muitos anos como pouco cultos ou algo do género. Esse “lugar comum” foi felizmente sendo alterado. A dinâmica do jogo, a compreensão das ações, a inteligência que cada jogador tem de ter para poder colocar em prática o jogo foram demonstrando capacidades que antigamente se julgavam não existir na classe. O jogador é capaz de ouvir, perceber, debater e compreender. Ideias, formas de estar, diferentes lideranças. Há uma relação de respeito mútuo, de profissionalismo e de compreensão. Todo este desenvolvimento fez também com que o treinador sentisse a necessidade de conhecer melhor os jogadores que tem no seu plantel, para que possamos retirar o melhor de cada um. Desta simbiose resulta então uma relação diferente e com uma proximidade, ainda que inconsciente, maior.

A classe dos treinadores é unida?
Poderia e deveria ser mais. Houve uma fase em que “tentou” rotular muito determinados perfis de treinadores. Se eram ex-jogadores ou não; se eram mais velhos ou mais novos; se tinham experiência ou não; se sentiam o cheiro do balneário ou não... E todos esses “rótulos” dividiram um pouco a classe, que agora sinto estar a dar passos de reaproximação, felizmente. Neste momento sinto que há uma grande vontade de todos aprenderem um pouco mais uns com os outros. Os desenvolvimentos do jogo e do treino têm crescido a olhos vistos e neste momento há uma maior humildade e espírito ouvinte de todos. Dos que saem das faculdades, dos que saem dos cursos de treinadores, dos que saem dos relvados... e todos estão a tornar o futebol melhor!

Enquanto treinador, tem alguma referência?
Sim, naturalmente que sim. Quando essa pergunta aparece o primeiro nome que surge é inevitavelmente o de Paulo Fonseca. Pela qualidade que as suas equipas apresentam, pela entrega e dedicação de toda a sua equipa técnica em redor das ideias de jogo que escolheram e pela forma vincada como treinam para que essa ideia apareça e consigam valorizar as equipas e os jogadores onde estão.

Qual é a sua opinião sobre o trabalho do Sindicato dos Jogadores?
É evidente que o trabalho do Sindicato tem sido mais visível e consistente, quer pela união dos próprios jogadores, quer pela sensibilização geral que tem sido feita para crescimento das condições de trabalho e ética na elaboração do mesmo. A preparação dos atletas para a sua integração profissional após o encerramento da carreira é outra vertente muito importante e que me faz acompanhar com muita atenção o papel Sindicato dos Jogadores nessa área.

Perfil
Nome: Vasco César Freire de Seabra
Data de nascimento: 15 de setembro de 1983
Clubes como treinador: Leça (adjunto), Lixa (adjunto), Lixa, Paços de Ferreira (juniores), Paços de Ferreira (adjunto), Paços de Ferreira e Famalicão.