“Queria fazer carreira na Europa e ainda bem que deu certo”


O defesa central do Rio Ave está em Portugal há oito anos e conseguiu fazer carreira na Europa.

Marcelo foi ultrapassando etapas e ganhou nome no futebol nacional. O Sporting é o passo que se segue e o central do Rio Ave diz-se preparado para a nova aventura.

Chegou a Portugal em 2010 para representar o Ribeirão. Qual foi a maior dificuldade na adaptação?
Eu estava num clube grande do Brasil, que era o Vasco da Gama, e senti alguma dificuldade para me adaptar ao futebol. Aqui é muito mais rápido, há mais contacto físico e no Brasil não é tanto assim. Mas acho que me adaptei rápido e foi bom para mim. De resto, a comida, a língua, tudo isso ajudou na adaptação.

A velocidade foi a principal diferença que notou entre o futebol brasileiro e o português?
Agora no Brasil estão a querer fazer como fazem na Europa. Quando jogava no Brasil não regavam a relva, o que torna o jogo mais lento, mas agora estão a começar a usar o futebol europeu como modelo. Quando cheguei a Portugal senti muita diferença, até a nível tático. Aqui é mais tático do que no Brasil, lá é um futebol mais solto.

O frio não foi um problema na adaptação?
Não, porque em São Paulo também é muito frio. No Rio de Janeiro, quando joguei no Vasco, havia muito calor, mas em São Paulo o frio é parecido, chega a estar 3 ou 4ºC como aqui.

Nos momentos mais difíceis alguma vez equacionou voltar ao Brasil?
Sim, quando estava no Ribeirão. Se não conseguisse um clube melhor estava a pensar voltar para o Brasil. Mas apareceu o Rio Ave e as coisas começaram a correr bem, eliminei essa hipótese. Queria fazer carreira na Europa e ainda bem que deu certo.

Depois dessa época no Ribeirão deu logo o salto para o Rio Ave, embora tenha estado um ano emprestado ao Leixões. Foi aí que pensou que o futebol português tinha sido uma boa aposta?
Na altura fiquei feliz porque tinha saído do Ribeirão, um clube modesto da II Divisão B, como se chamava naquele tempo, para um clube da I Liga. Fiz a pré-época no Rio Ave, as coisas não correram tão bem como esperava, e fui emprestado ao Leixões. Isso ajudou-me muito, fez-me crescer muito porque a II Liga é muito competitiva. Foi um ano importante porque pude fazer muitos jogos e regressei mais valorizado.

Veio com o objetivo de entrar na Europa e depois saltar para uma liga mais atrativa, como acontece com muitos jogadores sul-americanos, ou não fez esse tipo de planos?
Vim para mostrar o meu melhor e tentar chegar mais longe. Claro que queremos jogar sempre nos melhores clubes, mas com os pés no chão, temos de ir ultrapassando etapas. Vim para um clube pequeno, fui crescendo e claro que agora fico feliz por ir para um clube maior.

É a sua sexta temporada no Rio Ave e já está comprometido com o Sporting. Sente que aos 28 anos, e com a experiência que adquiriu no futebol português, tem tudo para ter sucesso em Alvalade?
Claro, acredito que sim. Acho que já provei o meu valor no Rio Ave e fiz sempre boas épocas. Acho que agora mereço uma oportunidade. Acredito no meu valor e que vou chegar lá para ajudar o clube a atingir os seus objetivos. Estou muito ansioso pela próxima época.

Cumpre a oitava época no futebol português. Qual foi a mais marcante?
Esta época foi muito positiva para nós, pelo futebol que praticámos e pela atual classificação, mas a época com o Nuno [Espírito Santo] também me marcou muito porque fomos às finais da Taça de Portugal, da Taça da Liga e da Supertaça. Marcou-me muito jogar essas três finais, principalmente a do Jamor porque é uma festa incrível. Só quem participa nessa festa sabe o ambiente que é.

Qual foi o melhor jogador com quem jogou em Portugal?
Passaram por aqui grandes jogadores, como o Ederson ou o Oblak. Hoje, quando os vejo na televisão, fico muito feliz por vê-los no top mundial. E joguei contra muitos bons jogadores. O Aimar era muito bom, tal como o João Moutinho. E o Hulk. Era impressionante a força que tinha.

Equacionou obter a dupla nacionalidade?
Sim, já iniciei o processo para obter a nacionalidade portuguesa há alguns meses e deve estar concluído lá para o meio do ano.

Depois de concluído esse processo, já pensou em representar a seleção portuguesa?
Ainda não pensei nisso. Claro que gosto muito de Portugal, é um país incrível, que me acolheu muito bem, adaptei-me muito bem e não passa muito pela minha cabeça voltar ao Brasil. Ainda não parei para pensar na seleção portuguesa, mas quem sabe se não terei essa oportunidade no futuro?

Nas férias regressa sempre ao Brasil ou fica por cá?
Agora regresso ao Brasil no final do campeonato e depois regresso direto para Lisboa. Vou sempre ver a minha família e os meus amigos. Gosto de aproveitar para ir à minha cidade, que é no interior de São Paulo. É lá que vou recarregar as baterias para a próxima época.

Quando volta ao Brasil, o que é que faz questão de trazer sempre na mala?
Nada. Às vezes a minha mãe vem cá e traz arroz, feijão, essas coisas, mas como Portugal e o Brasil são países muito próximos aqui encontra-se tudo com facilidade, não falta nada. Tal como lá, também se encontra facilmente azeite ou vinho português.

Que opinião tem sobre o trabalho do Sindicato dos Jogadores no futebol português?
O Sindicato é muito importante. Dá um apoio muito grande aos jogadores, auxilia muito no que é preciso. Também já me ajudou. Quando o meu nome apareceu associado àquele caso [de match-fixing], o presidente Joaquim Evangelista foi muito legal e veio até aqui para falar connosco.


Perfil
Nome: Marcelo dos Santos Ferreira
Data de nascimento: 27 de julho de 1989
Posição: Defesa
Percurso como jogador: Vasco da Gama (Brasil, formação), Rio Preto (Brasil), Ribeirão, Leixões e Rio Ave.