“É um erro abandonar a escola sem terminar o secundário”


O guarda-redes do Farense está prestes a terminar o ensino secundário e pensa em prosseguir os estudos.

Está a concluir o 12.º através do Sindicato. Como surgiu o interesse para voltar aos estudos?
Quero mesmo terminar o 12.º para, pelo menos, ficar essa etapa fechada. Com o futebol é um bocado complicado, mas sempre tive o objetivo de terminar. Pareceu-me uma boa ideia terminar pelo Sindicato, visto que vocês acompanham os jogadores e sabem as dificuldades que passamos com os horários para conseguir estudar.

Está em que ano?
Passei o 12.º, só não passei o exame de Matemática. O meu curso era de Ciências, tenho de fazer esse exame e o de Físico-Química. De resto está tudo feito.

Acha que faltam medidas que apoiem a conciliação dos estudos com a profissão de futebolista?
Acho que podia haver mais incentivação aos jogadores para estudarem. É sempre importante e como a carreira de jogador não é uma coisa que dê até mais do que os 40 anos, e já é uma idade assim muito avançada, é fundamental ter os estudos concluídos para, mais tarde, depois do futebol, conseguirmos algum conforto a nível profissional.

Caso prossiga os estudos, qual é a área pela qual irá optar?
Já pensei em prosseguir. Gosto muito da área do Desporto. Se não fosse o futebol e estes horários, teria optado por seguir o curso de Desporto na Universidade.

A família e o Farense têm-no apoiado relativamente aos estudos?
Mais a família, mas o clube também. Havia um jogador cá que estava na universidade e, em ocasiões pontuais, como exames, o clube sempre lhe deu todo o apoio.

É visto pelos colegas de equipa como um exemplo a seguir?
Tenho alguns colegas que também têm essa vontade de terminar o 12.º. Acho que até há bastantes.

Aconselha os colegas, principalmente os mais novos, a não abandonar os estudos?
Sim, falamos sempre. É importante que, pelo menos, consigam terminar o 12.º. Isso é sempre o mínimo que tentamos incutir nos mais jovens, nos que estão a transitar agora para o futebol sénior. Costumo dizer-lhes: “estuda, não faças como eu que deixei de estudar para ir aos treinos e isso. Depois ficam as coisas para trás, vão passando os anos e a vontade também vai passando”.

Abandonar os estudos precocemente é uma das maiores “pragas” para quem quer ser jogador profissional?
A maior parte dos jogadores abandonam os estudos na transição para sénior e é das fases mais importantes porque é quando se termina o 12.º. É importante terminar essa fase porque a partir do momento em que se chega a um plantel sénior a exigência é muito maior, o tempo dedicado é maior e os estudos não ficam concluídos. É um erro abandonar sem terminar o Secundário.

Um jogador com formação académica pode ser melhor em campo?
Não vejo uma ligação entre o nível académico e futebolístico porque há muitos jogadores de nível mundial que não têm estudos. O futebol é um jogo que se aprende na rua, não se aprende na escola. É claro que um jogador que estude é sempre mais inteligente, mas a inteligência do futebol e a da escola não é a mesma. Há jogadores que não têm estudos e são muito inteligentes a nível futebolístico.

Qual é a sua opinião sobre a atuação do Sindicato?
De tudo o que já ouvi e de tudo o que já passei, é impecável. Acompanham sempre os jogadores até à última, trabalham imenso com os jogadores e veem além do futebol, tal como estamos aqui a falar nesta questão dos estudos. E é algo que é muito importante porque o jogador de futebol não pensa nisso e vocês pensam sempre no nosso bem-estar.


Perfil
Nome: Miguel Ângelo Loureiro de Carvalho
Data de nascimento: 20 de junho de 1996
Posição: Guarda-redes
Percurso como jogador: Inter Almancil (formação), Farense (formação) e Farense.