“Acima de tudo, transmito aquilo que sou como jogador e pessoa”


O defesa central enverga a braçadeira de capitão do Belenenses e transmite os seus valores aos colegas.

Mereceu a braçadeira de capitão. Como foi eleito para o cargo?
Foi há dois anos. Eu não fazia parte da lista de capitães e houve uma altura em que o presidente achou por bem inserir-me nesse grupo, a mim e ao Vítor Gomes. O presidente até chegou a dizer numa entrevista que eu era um líder pelo exemplo. Depois fui ficando. No ano passado comecei como capitão, na altura também eleito pelos meus colegas, e este ano mantive-me. Tal como no ano passado, em que já apanhei o míster Silas como treinador, este ano ele também me manteve com a braçadeira.

Já tinha sido capitão noutros clubes?
Já tinha sido capitão no SC Braga B. Fui durante dois anos. Mas aí é um contexto um bocado diferente, a equipa era muito mais jovem. Aqui no Belenenses o estilo de liderança que tenho de ter é um bocado diferente.

Chegou a ser capitão nas camadas jovens?
Não, por acaso não. Fiz a minha formação toda no Barreirense, mas nunca cheguei a ser capitão de equipa.

Sente que impõe uma liderança natural no balneário?
Claro que tenho de ter a minha liderança, e tenho de ter o meu estilo de liderança, mas a liderança nestes grupos de trabalho é muito diferente da que acontece nas equipas B, em que tens de estar muito mais em cima dos colegas por serem miúdos. Por serem mais jovens se calhar não têm tanta responsabilidade. Aqui os jogadores já têm uma ideia diferente daquilo que é o profissionalismo, por isso a minha liderança não tem de ser tão vincada como teve de ser no SC Braga B. Mas penso que tenho um bom estilo de liderança e que os meus colegas também gostam, caso contrário também não me tinham eleito como capitão.

Há algum capitão que tenha como exemplo?
Gostei muito do estilo de liderança de vários capitães que tive. Um deles foi o Gonçalo Brandão, que tive no Belenenses. Tenho de o referir porque gostei muito da liderança dele.

Que valores transmite aos mais jovens e a quem chega ao clube?
Acima de tudo transmito aquilo que sempre fui como jogador e como pessoa. Tento sempre recebê-los bem, mas isso nem preciso de ser só eu porque todo o grupo, e todos aqueles que estão cá há mais tempo, como o Fredy, o Diogo Viana e o Tiago Caeiro, recebem bem os mais novos. Tento integrá-los bem e passar valores que sempre tive, de entrega, de trabalho, de entreajuda e de sermos uma família. É assim que conseguimos tornar o grupo mais forte e para que as coisas corram melhor dentro do campo. E tento fazer-lhes perceber e explicar-lhes a responsabilidade, a exigência e o orgulho que devemos ter ao vestirmos a camisola do Belenenses, tal como a realidade do clube e os objetivos pelos quais lutamos, que passam pela vitória, seja qual for o jogo ou o adversário.

Como capitão, alguma vez precisou de chamar um colega à atenção de uma forma mais dura?
Por vezes, em momentos de maior nervosismo, quando os jogadores não estão tanto em si e excedem-se um bocado. Mas isso faz parte do jogo e da nossa vida enquanto profissionais, daquilo com que temos de lidar no dia-a-dia. Tive algumas situações em que tive de chamar colegas à atenção, não me recordo de nenhuma em particular, mas faz parte e também é o meu papel dentro do grupo, não deixar que haja excessos de comportamentos menos corretos.

E naquelas situações como uma entrada mais dura num treino? Já teve de intervir e acalmar os ânimos por ser o capitão?
Sim, isso acontece algumas vezes. Dessas já tive algumas, mas isso é o dia-a-dia. É normal isso acontecer e claro que nesses momentos já tive de intervir. Mas falo também de momentos ao intervalo, em que há mais nervosismo quando as coisas não estão a correr tão bem e às vezes podemos exceder-nos um bocado. Não por mal, mas por querermos que as coisas corram bem e não estão a sair. Temos de manter a calma, caso contrário as coisas não vão correr bem de certeza.

Do que é que os capitães costumam falar quando trocam galhardetes? Muitas vezes vemos os jogadores e o próprio árbitro a rir.
Ainda nesta última jornada, com o Marítimo, quando fomos fazer o sorteio da moeda, houve uma situação engraçada com o árbitro Hugo Miguel. Normalmente dão preferência à equipa visitante e o árbitro tinha uma moeda com um lado azul e outro amarelo. Ele perguntou-me: “Gonçalo, quer o seu azul ou quer o amarelo?”. Eu ri-me e quase que nem tive de responder, mas acabei por dizer: “claro que quero o meu azul!”. São momentos de descontração, costuma haver um bom ambiente entre os capitães e os árbitros para que durante o jogo as coisas corram bem, sem complicações.

E costuma haver algum tipo de picardia saudável com o outro capitão? Algumas bocas na brincadeira?
Já me aconteceu. Lembro-me de um episódio de quando estava no SC Braga B e apanhei o Luís Dias, que estava no Atlético e tinha sido meu colega. Foi engraçado porque partilhámos balneários, já havia uma relação, e nesses casos pode acontecer. Não digo picardia, mas alguma cumplicidade, um diálogo um bocado diferente, saudável e ao mesmo tempo divertido.

Os árbitros costumam ser mais tolerantes com os protestos dos capitães?
Por vezes, nós, capitães, com o decorrer do jogo também nos podemos exceder um bocado. Não devemos, mas às vezes faz parte do jogo. Queremos tanto ganhar que nos podemos exceder e é normal que os árbitros nos deem mais liberdade para falarmos com eles, embora com alguma atenção porque não é por sermos capitães de equipa que podemos falar de qualquer maneira com os árbitros. Mas penso que podem ser um pouco mais tolerantes também por já termos falado com eles no início do jogo, por já nos conhecerem, mas claro que sempre com o respeito que todos devemos ter para com eles.

Alguma vez foi expulso por palavras enquanto capitão?
Por palavras nunca fui expulso, graças a Deus, e penso que por palavras nunca vou ser. Só se for uma situação extrema de injustiça em que me possa parar o cérebro. Mas tento ser lúcido e não entrar nessas situações porque esses comportamentos não nos beneficiam em nada.

Como tem visto a atuação do Sindicato dos Jogadores no futebol português?
Tenho visto com bons olhos. Já sou sócio do Sindicato há alguns anos, fiz-me sócio no Atlético com o Tozé. Tenho seguido e tenho gostado bastante do trabalho. Tenho colegas que recomeçaram a estudar através do Sindicato e todas essas iniciativas, todas as ajudas que o Sindicato tem dado aos jogadores profissionais, têm sido muito boas para todos nós até porque sentimos que desse lado temos alguém que nos quer ajudar. Eu próprio já precisei do Sindicato e sempre tive uma resposta positiva desse lado e é bastante bom para nós. Sentimos que estão connosco e que se precisarmos de alguma coisa não nos vão falhar. E isso sem dúvida que é muito bom.


Perfil
Nome: Gonçalo Filipe Oliveira Silva
Data de nascimento: 4 de junho de 1991
Posição: Defesa
Percurso como jogador: Barreirense (formação), Barreirense, Lousada, Atlético, SC Braga B, SC Braga e Belenenses.